A Revolução do 25 de Abril de 1974 representou um divisor de águas para Portugal, e o Barreiro, cidade de forte tradição industrial e operária, desempenhou um papel crucial na resistência contra o regime fascista.
Imediatamente após o 25 de Abril, o Barreiro pulsou com um clima de euforia e esperança. Milhares de pessoas tomaram as ruas para celebrar a liberdade e a instauração da democracia. Nos meses que se seguiram, as manifestações populares foram uma constante, ecoando o apoio ao Movimento das Forças Armadas (MFA), a veemente reivindicação por direitos sociais e laborais, a solidariedade para com os povos das colónias africanas que lutavam pela sua independência e o clamor por eleições livres e uma nova Constituição.
Há 51 anos, os barreirenses demonstraram o seu apoio ao MFA de forma inequívoca. No próprio dia 25 de abril, ainda na tarde, um grupo vindo do Lavradio chegou numa camioneta e concentrou-se em frente à Câmara Municipal do Barreiro, entoando vivas à liberdade e bradando contra o fascismo e o fim da guerra colonial.
No dia seguinte, 26 de abril, uma centena de democratas formalizou o seu entusiasmo pela Revolução dos Cravos através de um telegrama enviado à Junta de Salvação Nacional, exigindo: a libertação imediata de todos os presos políticos e o regresso dos exilados; o fim da guerra colonial e o retorno dos soldados; o restabelecimento pleno de todas as liberdades democráticas; e a extinção da temida PIDE/DGS. Ainda no dia 26, após um comício no Largo Casal, onde diversos antifascistas discursaram da varanda dos Penicheiros – entre eles Alfredo Matos e Hélder Madeira, mais de dez mil pessoas percorreram as ruas do Barreiro em apoio ao MFA e celebrando a liberdade conquistada.
A confirmação da revolução, no dia 27 de abril, galvanizou ainda mais a população. Mais de vinte mil barreirenses, unindo comunistas, democratas, católicos e antifascistas, convergiram num grande comício no parque, junto à estátua, manifestando o seu apoio ao MFA, a sua oposição à guerra colonial e a sua alegria pela liberdade reconquistada.
No dia 30 de abril, uma significativa manifestação de trabalhadores, organizada por sindicalistas, percorreu diversas artérias do Barreiro, culminando num comício que lotou completamente os Penicheiros. Ali, a voz do povo clamava por sindicatos livres, pelos direitos das mulheres, por igualdade salarial e outras palavras de ordem. Entre os vários oradores, destacou-se a antifascista e sindicalista Ercecília Talhadas.
O 1º de maio marcou a maior manifestação jamais vista no Barreiro. Milhares de barreirenses saíram às ruas, agora em liberdade, para celebrar o Dia do Trabalhador e a Revolução de Abril, conforme noticiado pelo Diário de Lisboa. ” mais de 60 mil saíram á rua…, o fumo das fabricas foi a unica sombra”
Infelizmente 51 anos depois, as memorias estão a perder-se, a festa da liberdade não passa de um eco distante da esperança que outrora inflamou as ruas do Barreiro.
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