REVOLTA E/OU REVOLUÇÃO ?

REVOLTA E/OU REVOLUÇÃO ?

  O Mundo espanta-se com a revolta tumultuosa dos povos  do Norte de África e do Oriente Próximo. Emociona o heroísmo massivo de centenas de milhares de pessoas que enfrentam a repressão mortal e fazem cair ditadores e falsos profetas, corruptos ou corrompidos. Saltam as lágrimas sentidas quando vemos um grupo de mulheres egípcias a gritar na sua  língua : «O povo unido jamais será vencido ! » . Reminiscências da nossa revolta popular de Abril, que foi depois revolução e hoje é desilusão.

   E agora, o que virá a seguir ? Não será o fundamentalismo islâmico ? Não ficará pior ainda ?

   A CIA e a MOSSAD estão a manobrar intensamente. Mas, como desabafou  Obama, espantado como todos os líderes ocidentais com a coragem dos milhares de mortos no enfrentamento da repressão brutal, são revoltas populares sem intervenção exterior.

   Realcemos a heroicidade colectiva de quem enfrenta as balas e a morte em sucessivas vagas, dias a fio. Recordo quanto tremiam as pernas, nos idos de 60 e 70 do século passado, fugindo o Rossio, na Alameda da Universidade, no Instituto Industrial de Lisboa, à frente da Polícia de Choque. Um medo ancestral e atávico que diminuía de forma dinâmica no embate seguinte e se transformava em raiva quando das primeiras «cassetetadas».

   Aquilo a que assistimos na Tunísia, no Egipto, na Líbia, no Barhein, no Iémen ( em breve na Arábia Saudita ?…), tem uma dimensão dantesca e telúrica que renova a esperança  na transformação do Mundo pela acção  das massas populares.

    Fazem-no inspirados pelo fundamentalismo islâmico, lamentam alguns. E dizem que a seguir virá a repressão cultural sobre as mulheres, o véu, o obscurantismo…

    Lágrimas de crocodilo! O que verdadeiramente preocupa a burguesia capitalista do chamado mundo ocidental, é o carácter anti – imperialista que alguns regimes têm assumido, pondo em causa os seus interesses estratégicos e predadores das matérias primas(petróleo, gás!…). Interesses estratégicos que foram devidamente acautelados quando, nos anos cinquenta do século passado, as grandes potências(Inglaterra, França, Espanha…) substituíram os regimes colonialista, militarizados e muito onerosos, porque cliques da burguesia autóctone, neocolonialista e corrupta, perpetuando-se eternamente no poder com as suas clientelas cleptocratas.

    Como o materialismo histórico sintetizou, as classes sociais no poder apodrecido, tornam-se decadentes, moles, incapazes de sustar a revolta daquelas a quem negaram a dignidade e os direitos fundamentais… políticos, económicos e sociais. Vai ser assim na Líbia, onde Kadafi, depois da “revolução verde2 unificadora de tribos diversas e desavindas, de cariz anti imperialista, se deixou enredar nos milhões roubados ao progresso e à dignificação da população de um país com grandes riquezas naturais.

     Comentadores estrategas encartados, esforçam-se por analisar as revoltas e traçar caminhos à luz dos cânones da burguesia ocidental: divisões nas forças armadas, papel dos militares, eleições democráticas, partidos organizados, ajuda ocidental ou terror islâmico?!

     Não lhes ocorre que cada povo tem o direito de decidir livremente o seu futuro, sem interferências externas?

     O povo português tem uma máxima avisada: Para melhor está bem, está bem, para pior já bastava assim!

     A questão central das revoltas árabes e norte – africanas, é a da redistribuição da riqueza nacional. Os lucros fabulosos das matérias primas e do trabalho dos povos não mais podem ficar nas mãos das clientelas privilegiadas, enquanto a maioria do povo vive na pobreza ou no seu limiar, com taxas de desemprego de 20 e 30% entre a juventude. Se assim não acontecer, as revoltas heróicas transformar-se-ão em revoluções, com ou sem os militares, com ou sem o Islão, com ou sem democracia burguesa, no caminho da dignidade dos povos e da transformação das relações de dependência capitalista e imperialista. Será assim nas terras africanas e árabes, como no “céu” do mundo ocidental.

    Vivam os heróicos povos revoltados, e os mais que lhes seguirem o exemplo!

Barreiro, 25 de Fevereiro de 2011

 Armando de Sousa Teixeira

 

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