A Relação entre o Barreiro e a Música: Um Legado Interrompido

De 1990 a 2017, o Barreiro viveu uma era dourada no que toca à sua identidade cultural, uma época em que o som moldava o ritmo da cidade. Durante quase três décadas, o mês de outubro transformava-se ritualmente no epicentro musical da região, sendo aclamado como o “Mês da Música” ou, ambiciosamente, como a “Cidade da Música”.

Este não era um título meramente simbólico. A programação cultural que acompanhava esta celebração era notavelmente rica e diversificada. Os palcos barreirenses recebiam um vasto leque de géneros, demonstrando um ecletismo raro que agradava a todos: dos entusiastas do jazz mais puro aos apreciadores da imponência da música sinfónica. A qualidade e a abrangência dos eventos projetavam o Barreiro para além das suas fronteiras geográficas.

Crucialmente, este período ficou marcado por algo mais profundo do que a simples realização de espetáculos: um apoio efetivo e concreto à cena musical local. Músicos, bandas e grupos barreirenses encontravam um terreno fértil para se desenvolverem, apresentarem o seu trabalho e prosperarem. Havia um investimento visível no talento da terra, criando um ecossistema cultural que respirava autenticidade e vitalidade.

Infelizmente, a ressonância desse legado foi silenciada. Passados oito anos desde o seu término, o que resta é a memória de uma efervescência cultural que desapareceu. Todo esse ecossistema de apoio, celebração e diversidade musical foi extinto, deixando a cidade órfã de um dos seus mais vibrantes ativos culturais. O “Mês da Música” já não existe, e com ele, perdeu-se um capítulo fundamental da história cultural e da identidade sonora do Barreiro.

José Encarnação

Folheto do ano de 1990 a Cidade e a Musica