O Ouro do Tejo: Mariscadores, Contrabando e a Promessa Que Ficou por Cumprir

O estuário do Tejo é palco de uma atividade frenética, centenas de mariscadores dedicam-se diariamente à apanha da amêijoa-japónica. Atualmente, a comunidade africana constitui uma parte significativa e crescente destes trabalhadores, que, equipados com fatos de mergulho, bóias e ganchoras, exploram as lamas do rio em busca deste “ouro”.

Apesar do volume de negócio gerado, a atividade é marcada pela precariedade e pela ilegalidade. Recorda-se a promessa de construção de uma depuradora na região do Barreiro, feita por uma antiga ministra. Contudo, esta infraestrutura crucial nunca saiu do papel, deixando o caminho livre para um circuito de contrabando e especulação.

É neste vazio legal que prospera um esquema de “máfia”. A amêijoa, ainda por depurar e, portanto, imprópria para consumo direto, é comprada aos mariscadores a um preço irrisório, que ronda os 2,5 euros por quilo. O destino é, muitas vezes, Espanha, onde é efetuada a depuração obrigatória. Após este processo, a amêijoa regressa a Portugal, totalmente legalizada, mas com um preço final de venda que pode atingir os 15 euros por quilo nos supermercados.

Estima-se que este mercado ilegal e não regulamentado movimente milhões de euros, gerando lucros avultados para os intermediários. Enquanto isso, os mariscadores – na sua maioria migrantes africanos – enfrentam longas jornadas, riscos inerentes ao trabalho na água (incluindo perigos para a saúde pública e segurança) e são recompensados com apenas “tostões”. A falta de regulamentação e a ausência da depuradora prometida perpetuam um ciclo de exploração, onde os trabalhadores mais vulneráveis suportam os riscos, e os grandes lucros escapam à economia local e à fiscalidade.