DA GUERRA NUNCA SE VOLTA ! – 2. A LUTA DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA

DA GUERRA NUNCA SE VOLTA ! – 2. A  LUTA  DE  LIBERTAÇÃO  EM  ÁFRICA

ÁFRICA DESCONHECIDA

[ PARA A HISTÓRIA DO COLONIALISMO PORTUGUÊS ]                                            

2.   A  LUTA  DE  LIBERTAÇÃO  EM  ÁFRICA

        A década de 50 do século XX, foi determinante para o nascimento e implementação dos Movimentos de Libertação Nacional em África, nomeadamente nos territórios sob o domínio colonial português.

        Um conjunto de acontecimentos significativos contribuiu para a queda inexorável dos impérios coloniais tornados empecilhos ao processo de desenvolvimento capitalista na Europa. A ocupação militar extensiva tornara-se demasiado dispendiosa.

        Em 1954 o Vietnam de Ho Chi Min derrotou a França, potência colonial, em Diên Biên Phu, culminando a heróica luta de libertação de mais de 10 anos do povo vietnamita.  Nesse ano a Frente de Libertação da Argélia, FNL, inicia a primeira luta armada no Continente Africano, contra o ocupante francês. Por essa altura também a Índia apresentava as primeiras reivindicações sobre os territórios de Goa, Damão e Diu, que considerava colonialmente ocupados, enquanto Salazar proclamava-os parte integrante da grande “mãe-pátria portuguesa”.

        Não era esta, porém, a opinião dos meios de oposição ao regime, nomeadamente do PCP e do Movimento Democrático que tinham já formulado a exigência de “autodeterminação e independência para as colónias!”. Ou a realização de um “referendo em Goa”, como escreviam nas paredes os activistas unitários do MUD Juvenil, em 1955.

        Significativa foi a realização em 1956, em Bandung, na Indonésia, da Iª Conferência do Movimento dos Países Não Alinhados, formado por países que não pertenciam a qualquer dos blocos militares (NATO ou Pacto de Varsóvia) onde se fez uma forte condenação do colonialismo.

        A França e a Inglaterra já tinham entretanto percebido como sopravam os ventos da História e que o colonialismo puro e duro era economicamente desvantajoso. Em 1958, De Gaulle conferencia com Sekou Touré sobre a próxima independência da Guiné-Conakri, e avança com a formação da comunidade de povos de Língua Francesa, tal como a Inglaterra tinha criado a “Commonwealth”. Estavam lançadas as bases do futuro Neocolonialismo, privilegiando o domínio político e económico sobre alguns governos-fantoches da burguesia negra corrupta, garantindo com vantagens a predação das matérias-primas e a manutenção, com partilha reforçada e enriquecimentos escandalosos, dos interesses económicos das grandes empresas multinacionais.

        Em relação às colónias portuguesas, o Gana levantou a questão pela primeira vez na ONU em 1957, com grande receptividade da maioria das Nações Unidas, culminando a discussão na “Declaração Universal contra o Colonialismo”, a resolução 1514 aprovada na Assembleia Geral de 13 de Dezembro de 1960.

        O texto inicial proposto para discussão em Setembro desse ano, pela União Soviética, começava assim:

        “Que todos os povos do globo oiçam as nossas palavras, todos vivemos num único planeta. Neste planeta nascemos, trabalhamos, educamos os nossos filhos e lhes transmitimos tudo o que temos realizado na vida (…)”.

        Do que se passou nessa histórica assembleia, dá notícia o “Avante!” de Outubro de 1960, comentando a situação nos seguintes termos:

        “Na última Assembleia da ONU, os representantes dos países socialistas, dos neutralistas e das jovens nações africanas, fustigaram as misérias do colonialismo português e ridicularizaram os estafados argumentos com que os representantes de Salazar tentaram defender a podridão da política colonial do fascismo português.

        Por detrás da fraseologia patrioteira dos salazaristas, que procuram inverter os factos, toda a gente vê a realidade cruel: na África e na Ásia, 12 milhões de homens e de mulheres das colónias portuguesas são submetidos à mais dura escravidão, mantidos na miséria e na ignorância mais profunda, esbulhados dos mínimos direitos e liberdades, dizimados por uma exploração desenfreada de um grupo de roceiros e monopolistas.

       Às sentidas reivindicações de liberdade e independência dos povos coloniais, Salazar responde com a mais sangrenta repressão, com o agravamento da exploração colonial, com o apertar das algemas da opressão colonialista.

        Os massacres dos povos de S. Tomé, Goa, Bissau, Timor, Mueda, Scalo Bengo (Angola), Cabinda, ficarão assinalados na história sangrenta do colonialismo português, como a mais severa condenação do seu domínio imperialista.

        A continuação desta política envergonha a consciência nacional e enche de descrédito o País aos olhos dos outros povos”.

     Em breve fariam prova estas palavras certeiras.

Bibliografia :

– Martins, Hélder, “Porquê Sakrani ? – Memórias

           de uma guerrilha esquecida”, Maputo, 1994

– “Avante ! ”, nº  357,  série  VI, Outubro de 1960

 Armando Teixeira

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