





O Grupo Desportivo Fabril do Barreiro, um clube com profundas raízes na cidade e no seu passado operário, foi originalmente fundado em 1937 como Grupo Desportivo da CUF (Companhia União Fabril). A sua história está intrinsecamente ligada ao associativismo e à influência da gigantesca CUF, que inicialmente fornecia infraestruturas e serviços essenciais, servindo os seus trabalhadores e, por extensão, o próprio clube.
Fundação e Primeiras Alterações de Nome
- 1937: Nascimento da CUF – O clube é fundado para servir os trabalhadores da Companhia União Fabril do Barreiro, uma das maiores empresas do país na altura.
- 1940: O Nome “Unidos” – Devido à legislação imposta pelo Estado Novo, que não permitia nomes desportivos corporativos, o clube foi temporariamente forçado a mudar a sua designação para Unidos Futebol Clube do Barreiro.
- 1944: Regresso ao Nome Original – A designação Grupo Desportivo da CUF do Barreiro foi restaurada.
O Auge Dourado: Décadas de 50 e 60
O período áureo do clube decorreu entre as décadas de 1950 e 1960.
- Estreia e Consistência na I Divisão – O clube disputou a I Divisão pela primeira vez em 1942/43 e estabeleceu-se como uma força do futebol português, mantendo-se na primeira linha durante 22 épocas consecutivas (entre 1954/55 e 1975/76).
- 1964/65: O Histórico 3º Lugar – O Fabril (então CUF) alcançou o seu melhor resultado de sempre no campeonato, um 3º lugar, que lhe garantiu uma participação europeia na Taça das Cidades com Feiras.
- Vitória Europeia Memorável – Um dos momentos mais marcantes ocorreu em 1965 no recém-inaugurado Estádio Alfredo da Silva, onde o clube obteve uma vitória histórica de 2-0 contra o AC Milan.
- Taça Intertoto – O clube também se destacou a nível internacional ao conquistar o seu grupo na Taça Intertoto em 1973/74.
As Mudanças Pós-Revolução
Após a Revolução de Abril de 1974 e o subsequente declínio da CUF, o clube sofreu novas e definitivas alterações no seu nome:
- 1978: O Período Quimigal – Foi renomeado para Grupo Desportivo Quimigal do Barreiro.
- 2000: O Nome Atual – O clube adotou o nome pelo qual é conhecido hoje: Grupo Desportivo Fabril do Barreiro.
- 2022: O Regresso (Parcial) da CUF – A designação Grupo Desportivo CUF foi readotada, mas de forma a manter o nome tradicional, sendo a designação oficial Grupo Desportivo Fabril (CUF).
O Triunfo Europeu Contra o AC Milan (1965)
A participação do Grupo Desportivo da CUF na Taça das Cidades com Feiras 1965/66, graças ao 3º lugar alcançado na época anterior, proporcionou um dos momentos mais gloriosos da história do clube.
A Partida Histórica
- Competição: Taça das Cidades com Feiras 1965/66 (2ª Eliminatória, 1ª Mão).
- Data: 1 de dezembro de 1965.
- Local: Estádio Alfredo da Silva, Barreiro (inaugurado nesse ano).
- Resultado: CUF 2-0 AC Milan.
Os Golos e os Heróis
A vitória foi construída com golos de Fernando Oliveira (aos 61 minutos) e Abalroado (aos 89 minutos, de grande penalidade).
O AC Milan, uma das potências do futebol europeu, viajou com um plantel de luxo que incluía estrelas como Cesare Maldini (pai de Paolo Maldini), Giovani Trapattoni, Gianni Rivera e Amarildo. A vitória da CUF chocou a Europa, demonstrando a qualidade da equipa do Barreiro.
A Eliminação Dramática
Apesar do triunfo por 2-0 em casa, a eliminatória não estava concluída:
- 2ª Mão (Itália): O AC Milan venceu a CUF por 1-0.
- Regras da Época: Como a eliminatória terminou empatada (2-1 no total), e o golo fora de casa ainda não era o critério de desempate principal, foi necessário um jogo de desempate (ou “finalíssima”), disputado novamente em Itália.
- Jogo de Desempate: O AC Milan venceu por 1-0, eliminando a CUF.
Apesar da eliminação, a exibição e a vitória no Barreiro contra uma equipa com a dimensão do AC Milan ficaram para sempre gravadas na memória do clube e da cidade. O próprio defesa milanês, Cesare Maldini, elogiou a equipa portuguesa, afirmando que a CUF era uma “magnífica equipa, uma surpresa para todo o Milan”.
O Duro Golpe Recente nas Modalidades
Atualmente, além do futebol, o clube alberga outras modalidades importantes para a comunidade, nomeadamente o hóquei e a patinagem. No entanto, estas secções enfrentam uma crise existencial devido à questão das infraestruturas:
- Venda dos Terrenos: Os terrenos que o Fabril ocupava e onde se situava o pavilhão (propriedade da família Mello, herdeiros da CUF) foram vendidos a uma empresa do Norte do país.
- Consequência Imediata: Esta venda resultou na perda do pavilhão, ficando o Grupo Desportivo Fabril apenas com o estádio de futebol.
- Impacto no Clube: A perda das instalações impossibilita a prática de várias modalidades, como o hóquei e a patinagem, representando um revés significativo para a componente multidesportiva e social do clube.
O Encerramento do Pavilhão Vítor Domingos
O Ponto de Crise
O cerne da questão reside na transferência de propriedade dos terrenos:
- Venda e Proprietário: Os terrenos, que o Fabril utilizava sob um direito de superfície (inicialmente da CUF/Grupo Mello), foram vendidos a uma nova entidade privada (mencionada como uma empresa do Norte ou de Braga).
- Encerramento Judicial: Em fevereiro de 2025, o Pavilhão Vítor Domingos e o Estádio João Pedro chegaram a ser encerrados por decisão judicial a pedido do novo proprietário, que visa um projeto (inicialmente falava-se em imobiliário, mas o autarca do Barreiro referiu depois que seria desportivo/academia).
- Modalidades Afetadas: Este encerramento afetou imediatamente cerca de 600 atletas das modalidades de pavilhão, nomeadamente Hóquei em Patins, Patinagem Artística e Judo, para além das camadas jovens do futebol.
Situação Atual (Final de 2025)
Apesar dos sustos e da interdição temporária, o clube tem conseguido manter as atividades por via de acordos verbais e de boa vontade, mas a situação permanece precária:
- Acordo Provisório: O Presidente do Fabril, Pedro Miguel Lima, confirmou um acordo verbal com o novo proprietário para que as atividades pudessem continuar, pelo menos até ao final da época desportiva, enquanto decorrem as negociações.
- Novo Encerramento (Outubro 2025): Recentemente, em outubro de 2025, o Pavilhão Vítor Domingos voltou a ser encerrado, colocando em risco o treino regular de cerca de 80 atletas e a participação em competições nacionais das modalidades de Hóquei e Patinagem.
- Posição da Câmara: A Câmara Municipal do Barreiro (CMB) tem acompanhado o caso, garantindo que “ninguém vai ficar sem praticar desporto” e que a classificação atual do PDM (Plano Diretor Municipal) não permite construção de habitações nos terrenos em questão, limitando-os a equipamentos desportivos.
- Ameaça de Fim das Modalidades: Sem o pavilhão, o futuro destas modalidades (Hóquei, Patinagem) está em sério risco, deitando por terra décadas de história e cultura ligadas ao desporto no concelho.
Isto demonstra que o Grupo Desportivo Fabril não é apenas um clube com um passado glorioso, mas também uma entidade que hoje luta pela sobrevivência das suas modalidades e pela manutenção do seu património desportivo.

