Do Abandono à Cultura: O Futuro Incerto da Estação Sul e Sueste do Barreiro

É compreensível a sensação de que Miguel Pais, o visionário por detrás da construção da Estação Sul e Sueste, se reviraria no túmulo ao testemunhar o estado de degradação atual. A sua obra, um marco da engenharia e arquitetura da época, encontra-se agora em risco de desaparecimento, vítima do abandono e da negligência.

A Estação Sul e Sueste foi um projeto ambicioso, que materializou a visão de Miguel Pais para a modernização dos transportes em Portugal. A sua conceção inovadora, que integrava um terminal ferroviário e fluvial, representou um avanço significativo na conectividade do país. A sua importância histórica e cultural é inegável, e a sua perda seria uma tragédia para o património nacional.

A antiga Estação Sul e Sueste, outrora um vibrante terminal ferro-fluvial no Barreiro, encontra-se há anos desativada, um testemunho silencioso de um passado industrial glorioso. Sob a responsabilidade da Infraestruturas de Portugal (IP), detentora da concessão estatal deste território pertencente ao domínio público ferroviário, este edifício único no país deveria ter sido preservado com o devido cuidado.

No entanto, a negligência da IP conduziu-o a um estado de degradação alarmante, quase em ruínas. A situação é ainda mais grave considerando que a antiga estação está em vias de classificação como património cultural, o que impõe à IP responsabilidades acrescidas na sua gestão pública.

Antes da pandemia da COVID-19, a recuperação deste monumento estava estimada em 5 milhões de euros. Contudo, a aceleração da sua deterioração devido ao abandono sugere que os custos atuais serão substancialmente superiores.

Entretanto, a IP subconcessionou este património e os terrenos adjacentes a uma empresa do mesmo grupo, responsável pela gestão do espaço LX Factory em Lisboa. A intenção é louvável: reabilitar o edifício e transformá-lo num centro cultural vibrante, à semelhança do LX Factory, com espaços de alojamento, bares, lojas e outras atrações.

Contudo, a concretização deste projeto tem sido morosa e as obras de reabilitação continuam por iniciar. Este impasse ameaça a sobrevivência deste importante património ferroviário do Barreiro, correndo-se o risco de que seja tarde demais para o salvar.

A memória de Miguel Pais e o seu legado merecem ser preservados. A Estação Sul e Sueste é um testemunho da sua visão e do seu empenho no desenvolvimento do país. A sua recuperação é um imperativo moral e cultural, e um investimento no futuro do Barreiro e de Portugal.