O caminho de ferro no barreiro teve o seu início oficial e com carreiras regulares a partir do dia 15 de junho de 1858, com a empresa privada, (Caminhos de Ferro ao sul do Tejo), que construi-o e explorou durante 3 anos. Como prova desse acontecimento, fundamental para o Barreiro, transcrevo a notícia do Jornal Revolução de Setembro do dia 16 de julho de 1858.
“Acabamos de assistir a uma festa nacional, a uma das festas que mais comprazem a nossa alma. Vimos de tomar parte na viagem experimental do caminho de ferro do Sul, onde percorremos 50 quilómetros de via assente e prontos à circulação.
Saudamos este brioso fasto dia nossa história contemporânea, que mais nos aproxima da moderna civilização.
A festa foi digna do facto que comemorava. A companhia do caminho de ferro do Sul convidou para assistir a este solene ato tudo quanto o podia abrilhantar, e quanto nele podia tomar parte mais competentemente. 0 digno presidente do conselho de ministros, os ministros das obras publicas, guerra e fazenda honraram com a sua presença esta magnifica função.
Alem destes cavalheiros muitos outros tomaram parte no mencionado festejo, como os dignos pares do reino duque de Saldanha, e Marques de Fialho; os diretores gerais do ministério das obras publicas visconde da Luz e Joaquín Larcher; chefes superiores do mesmo ministério, como os srs. Ernesto de Feria, Louzada, Archer, Custodio, Manuel Gomes, Camarate e Eugénio; muitos lentes do instituto industrial com o respetivo diretor geral á frente; vários deputados, cavalheiros de superior distinção e pela sua inteligência e posição, jornalista etc.
0 que tudo reunido compunha um quadro resplandecente pelo seu brilho, e peto lustro que dava ao que se ia solemnisar.
Esta distinta comitiva tendo partido do arsenal de marinha abordo de um dos vapores da companhia do Tejo e Sado, chegou em frente do Barreiro perto do meio-dia, e desembarcando ali em escaleiras que se acharam convenientemente colocados, nas proximidades da gare do caminho de ferro do sul, entrou nessa estação, a qual achava não só brilhantemente armada, como o bom gosto, havia igualmente presidido a essa decoração. Passado um momento de descanso os convidados entraram nas carruagens, que em número de 7 os deviam conduzir ao Alto de Bombel, puchados pela locomotiva Barreiro, que garbosamente estava embandeirada e coberta de flores.
0 comboy andando com uma pasmosa celeridade gastou perto de minuto e meio por quilometro até ao Poceirão, onde parou para receber agua.
Durante o transito as povoações do Barreiro, Lavradio, Alhos-Vedros e Mouta colocadas nas margens do caminho saudaram com vivas entusiásticos aquele fecunda vehiculo de civilização.
Do Poceirão até ao Alto de Bombel o comboy percorreu a distância, que entre os mesmo ponto existe, sem o mais leve acidente.
Chegando ao termo da viagem apearam-se os convidados, e depois de descansarem uns momentos voltaram ao ponto da partida gastando 45 minutos em percorrer a distancia de 50 quilómetros, que tantos são os que do Alto de Bombel distam da estação do Barreiro.
Na estação principal serviu-se um magnifico banquete, feito sob a direcção do sr. Ferrari, e em que a direcção da companhia mostrou lo seu primor em obsequiar com dignidade e delicadeza os seus convidados.
Durante o jantar fizeram-se vários brindes a SS. MM., á direcção da companhia do caminho de ferro do Sul, aos engenheiros que haviam feito aquello caminho os srs. Calheiros e Belchior, á administração presidida pelo sr. Duque de Saldanha, e a outros cidadãos beneméritos deste país, terminando este festejo digno da maior consideração, a todos os respeitos, sem o menor dissabor.
Dissemos ontem no noticiário desta folha, e repetimo-lo hoje novamente, que aquella linha não deve fìndar no ponto em que está contratada; prossegui-la é mais do que uma necessidade, é um dever imperioso. Entroncar este caminho de ferro com a linha hespanhola é de tanto alcance, que ninguém ousará desconhecer a magnitude do commetimento e sem o qual não há ligação possível com a Europa.
Aos srs. ministros, á camara dos srs. deputados, ao país em geral, deixamos apreciação dessa necessidade, que, se a quem a desconhecer, não serão de certo os que ainda conservarem algum amor pátria, alguma centelha de enthusiasmo pela terra de que são filhos.
Os caminhos de ferro são para Portugal a salvação publica fomenta-los, promove-los, fazer votos por ellos, animar as empresas que os fizerem é missão especial imperiosa da imprensa periódico; é por isso que, soldados dessa milícia, não esqueceremos nunca esses grandiosos feitos, que hão de levar a todos os pontos do país riqueza, abundância e prosperidade.”
Assinado pelo Jornalista: Viera da Siva