A antiga Estação do Barreiro, considerada por muitos como a única estação ferro-fluvial com as suas características em Portugal, encontra-se num estado de degradação galopante. O que outrora foi o coração pulsante da ligação entre o Sul e a capital, um edifício carregado de memória e significado, é hoje um esqueleto arquitetónico deixado ao abandono.
Um Património em Risco, Apesar da Lei É paradoxal e alarmante constatar que, embora este edificado esteja protegido por lei — encontrando-se em vias de classificação como Sítio de Interesse Público, a realidade visível é a ruína. A proteção legal, que deveria servir de escudo contra a delapidação, tem-se revelado ineficaz perante a inércia das entidades competentes.
A Responsabilidade da IP Património O dedo deve ser apontado à entidade tutelar: a IP Património. Como braço da Infraestruturas de Portugal responsável pela gestão e valorização do imobiliário ferroviário, a sua atuação neste caso tem sido marcada por uma negligência gritante. Ao não zelar pela conservação deste ativo, a IP Património falha na sua missão primária de salvaguardar a história ferroviária nacional.
Promessas de “LX Factory” e a Realidade da Subconcessão Há cerca de dois anos, surgiu uma réstia de esperança quando o espaço foi subconcessionado a uma entidade privada. O projeto prometia revitalizar a zona, criando um polo de alojamento local, comércio e restauração, num modelo semelhante ao conhecido “LX Factory” em Lisboa. No entanto, a execução tarda e os sinais de alerta são impossíveis de ignorar.
O Precedente das Carruagens Espanholas A capacidade desta empresa privada para gerir património histórico é altamente questionável, tendo em conta o seu histórico recente no mesmo local. É impossível esquecer o triste episódio das carruagens compradas à operadora espanhola (Renfe).
Estas carruagens-cama, que chegaram ao Barreiro em condições operacionais — com as camas feitas, lençóis e cobertores, prontas a serem convertidas em alojamento turístico, foram deixadas à mercê do vandalismo e das intempéries. O resultado foi a sua total destruição, acabando transformadas em sucata retorcida. Este episódio não foi apenas um prejuízo financeiro; foi um crime contra o património industrial e um prenúncio preocupante para o futuro do edifício da estação.
O Silêncio dos Barreirenses Diante deste cenário desolador, impõe-se a pergunta: Estarão os barreirenses conformados com a destruição da sua identidade?
O silêncio e a apatia são os maiores aliados da degradação. Assistir impávido ao desmoronar de um símbolo da cidade é permitir que se apague uma parte fundamental da história do Barreiro e das suas gentes. É urgente exigir responsabilidades e travar este ciclo de abandono antes que a única estação ferro-fluvial do país se torne apenas uma memória fotográfica.
José Encarnação


