De facto, é fascinante como na nossa cidade conseguimos transcender as trivialidades do dia a dia e focar-nos no que realmente importa: o futuro digital. Afinal, quem precisa de passeios sem buracos ou de uma cidade sem lixo quando se pode ter o Barreiro Digital e start-ups fabricadas no Barreiro, mas que afinal são de Lisboa a florescer, presumivelmente trazendo consigo uma aura de inovação que compensa qualquer obstáculo físico.
É evidente que a manutenção básica, como ter espaços verdes arranjados ou simplesmente garantir que não tropeçamos em lixo a cada esquina, é um conceito antiquado. Pelos vistos, é o tipo de exigência “mínima” que só se aplica a outras câmaras, não à nossa, que está claramente à frente do seu tempo. As rotundas e as clínicas privadas com rendas acessíveis (para quem, já agora?) são, sem dúvida, os pilares de uma sociedade moderna e próspera.
E para quê preocuparmo-nos com pormenores como escolas, habitação, saúde ou segurança? Isso são meras infraestruturas do passado. O futuro, meus caros, é feito de bytes, de aplicações e de uma visão tão “clara” que dispensa a necessidade de serviços básicos tangíveis. Afinal, a cidade vai crescer – e o que melhor para acompanhar esse crescimento do que uns quantos projetos digitais e startups importadas? A nossa visão, sem dúvida, move-nos para algo grandioso…. Só tens que ter fé, alguma iliteracia e confiança que a IA que está aí à porta irá resolver os nossos problemas. Só não sabemos bem o quê, mas certamente não envolve recolha de lixo e tapar buracos.
JE +JE















