Os moinhos de vento de Alburrica, no Barreiro, não são apenas construções antigas — são símbolos vivos da nossa identidade coletiva, marcos de um passado em que o engenho humano se aliava à força do vento para gerar sustento e comunidade.

Durante gerações, aquelas estruturas moldaram a paisagem e a memória de quem por aqui vive. Tornaram-se o ícone maior do concelho, emoldurando o horizonte como sentinelas silenciosas do nosso património cultural. Reconhecendo esse valor, foram classificados como património de interesse local — uma distinção merecida, mas que, infelizmente, não os protege do maior inimigo que hoje enfrentam: o avanço das águas.

A subida do nível do mar, agravada pelas alterações climáticas, e pelos catamarãs, está a colocar em risco real os moinhos de Alburrica. A erosão das margens, a intrusão salina e a força crescente das marés ameaçam engolir aquilo que levou séculos a construir e preservar. E é aqui que a metáfora se impõe com clareza: os moinhos de vento não sabem nadar. Não foram feitos para enfrentar sozinhos a fúria do clima, nem para resistir à negligência humana.

A pergunta impõe-se: vamos permitir que desapareçam? Vamos assistir, de braços cruzados, à destruição de um símbolo tão profundamente ligado à nossa terra e à nossa memória coletiva?

Preservar os moinhos não é apenas conservar pedras e madeira. É manter viva uma história, uma identidade e um orgulho que nos define como barreirenses. É agir hoje, com responsabilidade e visão, para que as futuras gerações possam olhar Alburrica e ver mais do que ruínas — vejam raízes. Mais do que passado — vejam futuro.

É urgente que se tomem medidas concretas de proteção e valorização deste património. Porque o que está em causa não é apenas um conjunto de edifícios antigos, mas sim a alma visível do Barreiro.

Enquanto o vento sopra, ainda há tempo. Mas não para sempre.