No horizonte português

No horizonte português

Um olhar profundo que penetre no horizonte português e atravesse os interstícios da crise permite detectar sombras que obscurecem estratégias políticas e projectos que pretendem perpetuar privações metodicamente traçadas na grande prancha do capital.

A voragem financeira que embala promotores nesta difusa ordem secreta dita as regras económicas sem margem para opções, cumprimento às ordens do mercado, deus capital que impõe o dogma da bíblia neoliberal.

Para onde nos empurram os promotores desta confusa estrutura europeia que põe as iguarias na mesa dos que engordam e aperta o cinto aos restantes sem perspectivas de soluções para os três grandes problemas, emprego, produtividade e sustentabilidade social.

Portugal enfrenta um dos mais graves momentos da sua longa história. Das suas raízes profundas colhemos desvarios do passado distante, dos tempos mais próximos a ditadura pura e dura e daqueles que estão no espaço temporal mais recente e não precisamos de recuar além do actual presidente da República, quando primeiro-ministro para assistirmos expectantes à venda da agricultura, das pescas e da indústria pesada por milhões de euros com que a matilha beneficiária comprara Mercedes, mansões de luxo e gozara férias no mundo da luxúria. Os odores da política do Estado Novo estavam presente nos primeiros Governos constitucionais, e pegou vício nas famílias governamentais sucessivas a distribuição de benesses por compadres, parceiros do complô, partidários à vez na assunção governamental e com vénias servis entregaram toda a economia nacional às ordens do grande capital da Europa predador das economias periféricas.

Vivemos momentos decisivos nesta nova caminhada pelo mundo. As decisões que tomamos têm consequências que por vezes nos ultrapassam e não conseguimos prever. Com o tempo de insegurança e por todas estas insuficiências desculpamos os nossos erros, pois como o tal Primeiro-Ministro, nunca ou quase nunca nos enganamos, ninguém se sente réu pelas lacunas de si próprio, ninguém grita por se trair. Ninguém admite que errou, e aí temos uma boa desculpa para continuados equívocos.

O actual Governo foi escolhido por uma parcela maioritária do povo que nas eleições o elegeu para castigo do anterior, ter-se-á mais uma vez enganado? Sem emenda esquece de que não é a primeira gafe política nem a segunda, depois encolhe os ombros e refugia-se na amnésia do erro que o isenta da lista de distraídos que saem machucados da teia da candura política.

Com o aval dos que lhe deram o voto, o Governo prepara-se para privatizar tudo que interessa aos penhoristas internacionais que o mesmo é dizer, vender os anéis que restam do património nacional aos navegantes da nova era colonizadora, especuladores que se abrigam das tempestades populares nas mansões do paraíso capitalista.

Pedaços da soberania nacional serão vendidos ao desbarato e poderão levar o selo com destino ao exterior.

Levam-nos as propriedades do Estado e com o imposto sobre o subsídio de Natal, suporte das compras natalícias, o dinheiro escasso dos mais débeis reduzido fica e o comércio mais definha.

A taxa social única, nova medida com resultados adversos, favorece quem melhor pode e abate o cutelo nos menos favorecidos, exactamente aqueles que perdem o emprego e provavelmente a prazo a segurança social, com a transferência da riqueza dos necessitados para os poltrões investidores por conta doutrem, FMI, CE, e outros mais ou menos personagens abstractos em nome do emprego que rareia cada vez mais.

As grandes empresas deslocalizam-se à procura de prebendas estatais e nessa corrida são contempladas com subvenções, isenções, contratos vantajosos, incentivos à criação de postos trabalho, mas não empregam quem precisa. Ameaçam partir e acabam por abalar depois de sugarem o máximo. O desemprego objectivamente cresce como moeda corrente, ficando o Estado e o país mais pobres. Na Bolsa as acções sobem e descem neste jogo de papel que enriquece batoteiros com as cartas por debaixo da mesa, crescendo a banca da jogatina enquanto o desemprego alastra e a produção reduzida não pode cobrir as despesas da nação espoliada.

Abundam reestruturações, planos sociais que fazem caminhos planeados. Despedimentos programados desmantelam famílias que desagregadas se dispersam pelo mundo à procura de sobrevivência. E sem os mais jovens em debandada do país que os trata mal, Portugal é presa fácil do panfletário capitalismo.

A exclusão social banaliza-se de modo absoluto, deambulando por entre a multidão, sangrando nas garras da hiena anti-social.

Promessas pairam no hábito do incumprimento governativo, moldando a posição em repetição dos planos.

Promessas que se apagam e os vestígios relativizam-se perante esforços democráticos, último sinal de partilha.

Vivemos numa sociedade que simula perdurar mais à frente mas, cada vez mais deprimida, próxima do fim, face às ameaças de desmoronamento total com forte perspectiva do caos nos empacotar se nos quedarmos embaraçados.

Os povos irão acordar desta definhada passividade e encarar a hipótese de se organizarem numa nova forma civilizacional, novo conceito social, desenraizada deste liberalismo de egoísmos desenfreados, de vexame continuado, nos termos desta era ultrapassada, reagirá perante o filme repetido e com os mesmos actores, figuras supérfluas, eliminando os vestígios de uma era corrompida. A resposta tem de ser dada e rapidamente. Que os pensadores dêem réplica e com o Povo credibilizar a contestação. A revolta é justa e a luta necessária na linha da justiça social.

Carlos Alberto (Carló)

Julho/2011

 

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