NOS 50 ANOS DO INÍCIO DA GUERRA COLONIAL – 15. A DERROTA DE SPÍNOLA NA GUINÉ-BISSAU

NOS 50 ANOS DO INÍCIO DA GUERRA   COLONIAL – 15. A DERROTA DE SPÍNOLA NA GUINÉ-BISSAU

A dinâmica da luta emancipadora e o esforço persistente dos combatentes guineenses, frustraram os projectos megalómanos de Spínola, que tropeçaram também na aventura belicista da invasão criminosa da Guiné-Conacri ( Operação Mar Verde, em Novembro de 1970).

   Adivinhava-se o fracasso da Acção Psicossocial, desde logo porque não era possível cumprir muitas das promessas de desenvolvimento demagogicamente feitas pelo novel general ( promovido em 1972, para alguma coisa serviu tanto exibicionismo!… ).

   Como podia um pobre país como Portugal, atrasado, sujeito a uma ditadura feroz, com 50% do Orçamento de Estado absorvido pelas três guerras africanas, dependente e colonizado ele próprio, desenvolver as colónias?

   A derrota era inexorável, fundamentalmente porque as lutas armadas de novo tipo (as chamadas guerras subversivas) não se ganham com os “Manuais de Acção Psicológica”, congeminados pelos “senhores da guerra”, aprendidos por oficiais tirocinantes nos Estados Unidos da América, entretanto derrotados no Vietname heróico! Quando do outro lado está um povo determinado em conquistar a emancipação e a dignidade, não há APSIC que valha!

   Em Outubro de 1972, Amílcar Cabral anuncia no Plenário da ONU, a proclamação para breve da  Guiné-Bissau, concretizada em Setembro de 1973, em Madina do Boé, numa zona libertada. A novel República Popular da Guiné-Bissau foi imediatamente reconhecida por muitos países africanos.

   O seu principal obreiro e líder carismático, Amílcar Cabral, não irá todavia assistir ao acto fundador, eliminado fisicamente em Janeiro de 1973, a mando da PIDE e do Imperialismo, com cumplicidades internas.

   A sorte da guerra estava traçada, em Março de 1973, o PAIGC abate os primeiros aviões portugueses com  mísseis terra-ar de fabrico soviético, os famosos “Strella”, disparados de bases móveis e celebrizados no Vietname.

   Entretanto António de Spínola joga as últimas cartadas e em Maio de 1972, encontra-se junto à fronteira com Leopold Senghor, presidente do Senegal e um dos primordiais vectores das soluções neocolonialistas na África Ocidental.

   Havia em Portugal um importante sector liberal ( Rebelo de Sousa, Luz Cunha, Adriano Moreira, Xavier Pintado, Miller Guerra, Rui Patrício, e outros), que defendia para a Guiné uma “solução honrosa”, uma independência negociada que deixasse abertos os caminhos para a subjugação política e a continuação da exploração económica  dos recursos africanos, ainda que por novas vias. Tal como tinham acautelado a França e a Grã-Bretanha, quando nos anos 60 promoveram os governos da burguesia negra, em muitos dos novos países independentes.

   A guerra entrava numa fase derradeira, as forças guineenses combatem por todo o lado já organizadas como um exército irregular, passando a uma fase superior da luta inicial de guerrilha. O general do monóculo, recém promovido, faz exigências incomensuráveis em homens e material, para adiar a derrota anunciada, que Marcelo Caetano, acossado de todos os lados, não pode satisfazer.

   António de Spínola, embrulhado em teses neocolonialistas serôdias, que o professor e o núcleo fascista duro repudiam, cai em descrédito e é afastado em Agosto de 1973, quando estava eminente a derrota militar, evitada com a revolução democrática de 25 de Abril de 1974.

8/11/11

Armando Sousa Teixeira

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