A iniciativa, promovida pela Câmara Municipal do Barreiro (CMB), “Histórias Vividas e Contadas do 25 de Abril” arrancou na tarde ontem, dia 10, com o seu primeiro de muitos convidados: João Raio, ex-Presidente da Junta de Freguesia de Santo André, durante 20 anos, e outros mais de vida autárquica ativa. Cerca de 45 alunos, de duas turmas do 4º ano da Escola Básica Telha Nova nº 1 escutaram um resumo do período que antecedeu e durou a Revolução dos Cravos e algumas das muitas histórias que o ex-autarca contou, num anfiteatro da Escola Básica 2,3 da Quinta da Lomba.
Radicado no Barreiro há muitos anos – “eu amo o Barreiro” -, João Raio recordou o ”tempo de um senhor (…) de má memória” e a vida num “País muito monótono”.
“Não éramos livres”. “Hoje vocês respiram liberdade como bebem água”, comparou. “Era tudo censurado, livros, televisões, jornais, canções”. “Tudo quanto fosse estranho ao País era proibido”, resumiu, caracterizando o tempo em que namorar na rua não era permitido e que a ida da mulher/esposa para o estrangeiro “tinha que ter autorização do marido”.
“Falar mal do Governo era proibidíssimo”, “quatro ou cinco pessoas juntas” suscitava logo a curiosidade da Guarda Republicana, lembrou.
Barreiro – terra que ajudou a fazer o 25 de Abril
“Barreiro é uma terra que ajudou a fazer o 25 de Abril”, disse. “Homens e mulheres”, frisou, citando nomes como os de Alfredo Matos, Álvaro Monteiro, Júlio Freire, Conceição Matos, ou Daniel Cabrita.
No desfiar de memórias, João Raio explicou o significado da “viúva”, carrinha negra cuja visita anunciava mais uma perseguição, e as prisões. Perante alguma estupefação e, até, incompreensão da jovem assistência – descreveu alguns métodos de tortura; falou da “frigideira” do Tarrafal, das muitas pessoas que lá sofreram e algumas morreram.
Recordou a guerra e até explicou que na altura havia uma preferência generalizada para que os bebés a nascer fossem meninas. Não iam à guerra.
“Temos que colocar um ponto final nisto”
“E houve uma dúzia de militares que pensaram… temos que colocar um ponto final nisto”, afirmou, justificando a saturação que, por fim, desencadeou os acontecimentos.
O relato de João Raio aproximava-se do 25 de Abril mas ainda foi contextualizando a audiência: “Este fulano é dos nossos”, concluiu João Raio para explicar o significado da senha e da contra-senha.
As canções “E Depois do Adeus” e “Grândola Vila Morena” foram, igualmente, referidas na História Vivida e Contada do ex-Presidente da Junta.
“Ganhou-se a revolução de restituir a liberdade”.
O Barreiro da época
Com décadas de vivência na vida autárquica, João Raio refletiu, em alguns momentos, uma memória quase fotográfica do Barreiro da época.
Em Santo André, “Polidesportivo na escola? Não havia”, “as ruas?!… alcatrão só na principal”.
Na fase dos esclarecimentos, e em reposta a uma intervenção que questionava se naquele tempo não havia mais segurança, João Raio foi perentório em afirmar: “A insegurança não é fruto da liberdade, é fruto do mau funcionamento das instituições”.
A sessão terminou com o que denominou de “uma pequena brincadeira”. Pediu às crianças com um ar severo para fecharem os olhos. “O que vês?”perguntava, apontando o dedo. Ultrapassada a estranheza da miudagem, a resposta era inevitável: “Nada”. Abertos os olhos: “Vamos lá embora fazer barulho” e os miúdos corresponderam. “Foi a festa”, concluiu. Elucidativo.
Relatos agendados até dia 30 de abril
A iniciativa “Histórias Vividas e Contadas do 25 de Abril”, inserida no Ciclo de Programação do 25 de Abril, promovido pela CMB e dirigida a alunos dos 4º, 6º, 9º, 11º e 12º anos, tem encontros agendados em várias escolas do Concelho até dia 30 de abril.
CMB 2012-04-11
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