Aproveitando a onda de crise e o combate ao endividamento público por via do Plano de Estabilidade e Crescimento 2010/2013 (PEC), os gestores de empresas públicas ligados à ferrovia são obrigados a abandonar os projectos de modernização do caminho-de-ferro no nosso País.
Mas esta situação de abandono não é, infelizmente, nova para nós, se recuarmos no tempo na década de 90, em que a ferrovia sofreu um rude golpe de amputação com o encerramento de linhas, ramais e estações, principalmente nas vias reduzida e na estrela de Évora, via larga, em que nessa altura era primeiro-ministro o actual Presidente da República, Cavaco Silva, que trocou os carris pelo asfalto, ou seja, um dos “coveiros” do caminho-de-ferro no nosso País.
Aquando da construção da linha do comboio da ponte 25 de Abril, em que a CP, empresa gestora da ferrovia e prestadora de um serviço público às populações, foi literalmente proibida de concorrer ao concurso público para gerir esta linha que foi entregue à iniciativa privada Fertagus pelo governo do Partido Socialista de António Guterres, no de ano 2000.
Quando em Outubro de 2004, a Fertagus começou a operar entre Lisboa e Setúbal, o então Presidente do Conselho de Gerência da CP, Eng.º. Martins de Brito, afecto ao PSD, afirmou que a CP tinha todas as condições para assegurar a gestão desta linha, contudo, a sua coragem e ousadia saíram-lhe caro, uma vez que foi, pura e simplesmente, exonerado do cargo pelo então primeiro-ministro em exercício Santa Lopes, também do PSD, e ficou por aqui o último “Moicano” dos técnicos oriundos do caminho-de-ferro. A partir daí são nomeados gestores públicos, mas não tem raízes na ferrovia.
No momento em que se fala tanto em TGV, é tempo de olhar com olhos de ver e verificar as infra-estruturas da principal linha do País, ou seja, a linha do Norte que está envelhecida, tendo pelo meio alguns troços modernizados. É tempo de a modernizar em toda a sua extensão, e depois sim pensarem no TGV.
Eis alguns exemplos de má gestão no nosso caminho-de-ferro:
Levantaram os carris no ramal da Lousã com a promessa de um Metro de superfície, agora alegam que não têm verbas para o projecto. Estações como as de Ceira, Miranda do Corvo e Lousã, que foram objecto de requalificação urbana, agora ficam ao abandono, assim como as populações que têm estado na luta pela reposição do ramal da Lousã.
Encerramento da linha de Leixões, em que os comboios eram para circular em toda a sua extensão, ficaram-se por Leça do Balio, porque não foi dado sequência ao projecto da abertura das estações de S.João e Arroteia.
O serviço Regional é o mais afectado com esta política do desinvestimento no caminho-de-ferro como, por exemplo, o encerramento do ramal da Figueira da Foz, via Pampilhosa, uma das alternativas a possíveis avarias na linha do Norte, via linha do Oeste, ou as supressões nas linhas de Cáceres, Vendas Novas, Alentejo e Douro.
Com a falsa promessa de modernização, substituem o serviço ferroviário pelo rodoviário e táxis, mas passado algum tempo nem rodoviário nem táxis nem ferroviário, como vai acontecer na linha do Tua, Tâmega, Beira Baixa e ramais da Figueira da Foz e da Lousã, deixando as populações ao abandono e sem o serviço público a que todos temos direito.
Como se não bastasse, com esta machadada no serviço público ferroviário, desancam a penalizar os trabalhadores com a ameaça de redução de 815 postos de trabalho no quadro de efectivos nas empresas do Grupo CP: CP, EMEF, CP/Carga, Ecosaúde, Fernave e Fergráfica.
Uma palavra de solidariedade para com os trabalhadores e órgãos representativos dos trabalhadores, como as Comissões de Trabalhadores e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, que têm sido o farol dos trabalhadores na luta pela defesa dos seus postos de trabalho.
Por último, o apoio à justa luta das populações que lutam pela manutenção das linhas, ramais e estações, e contra a política desastrosa de destruição do caminho-de-ferro em Portugal
Frederico Tavares
2 Responses to "Os Coveiros da Ferrovia no nosso País"
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