MOVIMENTO CÍVICO DE SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO FERROVIÁRIO DO BARREIRO – Informação Nº1

MOVIMENTO CÍVICO DE SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO FERROVIÁRIO DO BARREIRO – Informação Nº1

A preservação do Património Histórico não é mero culto da memória, se bem que a memória seja “a consciência inserida no tempo”, como ensinou Fernando Pessoa.

A sua importância decorre da urgente necessidade de manter as nossas características identitárias num tempo em que se desmoronam sonhos e projectos perante a onda avassaladora de destruição global, ignóbil e indigna.

É importante também para, conhecendo o passado, dar-se o melhor sentido à acção consequente no presente e melhor perspectivar o futuro. A defesa do património é assim uma questão estratégica!

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Numa terra que sofreu um tremendo processo de desindustrialização e o inexorável esmagamento económico, poderá parecer lírico falar-se destas questões. Num país em rápido empobrecimento, onde estão as verbas para garantir a salvaguarda do património?

Dir-se-á em resposta a estas justas interrogações, que o tempo presente exige uma elevada consciência, grande sentido histórico e sensibilidade na acção consequente voltada para o futuro. É preciso trilhar caminhos alternativos não aceitando como uma fatalidade (e muito menos como uma inevitabilidade!) o afundamento da nação para onde nos conduz o poder político, de resto muito pouco sensível ideologicamente às questões da Cultura e do Património.

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Falemos então da nossa terra e de um dos patrimónios ferroviários mais importantes de Portugal. Poderíamos, é claro, tratar de igual forma o Património Arqueológico Industrial, mas esse ficará para  outra  oportunidade.

Dois acontecimentos merecem a atenção deste MCSPFB, nesta 1ª Informação à população :

  1. A CP transformou os terrenos do Bairro Ferroviário, de “domínio público” em “domínio privado”, com a intenção confessa de fazer negócio imobiliário. Para isso quer despejar os ainda locatários, com o argumento de alguns já não serem trabalhadores ferroviários no activo.

O bairro ferroviário, construído na década de 30 do século XX, integrando o Palácio do Coimbra (mais antigo), é um traço identitário significativo da vila-cidade que medrou com o Caminho de Ferro desde a centúria de oitocentos. A sua existência é e poderá continuar a ser útil, por isso deve ser preservado.

O MCSPFB procura desenvolver trabalho nas seguintes direcções:

  1. Defesa contra os despejos ilegítimos dos moradores, ferroviários e ex – ferroviários que ainda habitam o bairro.
  2. Inventariação e organização da documentação necessária para solicitar a classificação de interesse nacional/municipal, ao IGESPAR e à CMB.
  3. Sensibilização da CP/REFER para a gratuitidade da destruição do Bairro Ferroviário com fins especulativos, numa altura em que sobram casas e falta futuro aos portugueses.
  4. Solicitar à CMB e à Assembleia Municipal do Barreiro, em sede de revisão do Plano Director Municipal, que reformulem os termos que permitem a destruição do Bairro Ferroviário.
  5. Sensibilizar a empresa REFER Património, para o interesse do aproveitamento dos alojamentos disponíveis para residências de estudantes (uma velha ideia que agora reluz!…).
  6. A CP está a destruir para sucata, locomotivas, automotoras e carruagens históricas que serviram o Sul e o Sueste de Portugal durante mais de 70 anos.

Da década de 50 do século passado vêm as primeiras locomotivas da geração Diesel (as máquinas a vapor desapareceram há muito!). As 1200, 1400,1500,1800,1900, fizeram milhões de quilómetros a partir do Barreiro por esse Alentejo e Algarve fora, até pararem em 2009.

As automotoras NOHAB, de fabrico sueco, chegaram nos anos 50, pintadas de vermelho característico, foram uma marca inesquecível para gerações de utentes da Península de Setúbal.

As carruagens UTD, com cor metálica característica, montadas em Portugal, são mais recentes mas andaram por cá muito tempo. Tal como as carruagens em inox, “americanas”, construídas na Sorefame.

Claro que não se pode preservar tudo! Mas é obrigação dos barreirenses, quase todos têm ferroviários na família, salvaguardar esta riquíssima memória. Com uma estratégia adequada ainda nos poderão ser úteis, nesse sentido o MCSPFB está a desenvolver esforços :

  1. Fazendo o inventário de cada uma destas espécies para solicitar ao IGESPAR e à CMB/AM, a sua classificação como material técnico ferroviário de interesse nacional/municipal.
  2. Solicitar à CP a manutenção de um exemplar significativo de locomotiva diesel, de uma automotora e de duas carruagens, com vista à integração no acervo do futuro Núcleo Museológico Ferroviário do Barreiro.
  3. Manter em estado de prontidão a locomotiva e as duas carruagens para a organização de viagens de turismo e cultura, em regime de auto-sustentabilidade, como se faz com êxito em tantos lugares da Europa e do Mundo.
  4. Exigir à CP/REFER/EMEF, que mantenham viva a Oficina de Reparação Diesel no Barreiro (com possível extensão ao material eléctrico), no superior interesse da economia nacional e da defesa dos postos de trabalho e da economia da região.
  5. Solicitar à CMB que aja de forma consequente no sentido de ser criado o Núcleo Museológico Ferroviário do Barreiro, garantindo-se assim a preservação dos edifícios e equipamentos mais significativos.

Barreiro, 30 de Julho de 2012

        MOVIMENTO CÍVICO DE SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO FERROVIÁRIO DO BARREIRO

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