Se conseguirmos fazer e transmitir isto, muito provavelmente nos tornaremos uns verdadeiros mestres!
Hoje a Escola Secundária Augusto Cabrita comemora 25 anos de existência. E como há muitas formas de dar os parabéns, eu resolvi presentar a minha escola e toda a comunidade educativa com esta singela mensagem. É um presente diferente mas é um presente sentido porque é feito com o espírito de quem, apesar de estar a viver, como tantos de nós, momentos conturbados, dentro e fora da escola, não se esquece de que esta é feita, precisamente, de momentos mais e menos conturbados e de momentos bons e muito bons. E são estes momentos todos que fazem a nossa memória colectiva, uma memória que importa preservar para contar mesmo que, muitas vezes, nos apetece esquecer para sempre. Se, no nosso papel de educadores, devemos transmitir não só o saber mas também os valores humanos, então é impossível desassociar o saber do sentir.
Façamos sempre, na escola, aquilo que devemos fazer sempre na vida e que eu gosto de comparar a uma tela de pintura. As pinceladas são os nossos actos. Umas vezes, ou porque usamos o material mais adequado, ou porque estamos mais criativos e combinamos melhor as cores e os movimentos, damos pinceladas de verdadeiros artistas. E ficamos até estarrecidos com o resultado final. Dormimos tranquilos. Sorrimos “de orelha a orelha”. Damos até, alguns, gargalhadas estridentes. Mas, outras vezes, “borramos” toda a tela! E estragamos tudo, de forma, muitas vezes, irrecuperável. Desejamos jogar tudo fora, parar com tudo e até nem tentar de novo. Vamos dormir arrasados. Amaldiçoamos o momento e queremos esquecer.
É nestes momentos que devemos lembrar-nos da tela de pintura. Por muito borrada que esteja, podemos sempre procurar e apostar noutro material, em novas cores e pintar por cima. Apagar não. Os erros não devem ser esquecidos pois ajudam-nos a corrigir e a não repetir o mesmo erro. As acções feitas indevidamente podem ser consertadas com outras mais corretas. As ofensas e as desilusões sofridas também não se devem esquecer. Importa sim perdoar. Aquilo que não dissemos e deveríamos ter dito, pode sempre ser dito noutra oportunidade, de uma outra forma (como esta agora que achei para dizer tudo isto). E lá estamos, novamente, a dar outras pinceladas na nossa tela colorida.
Não devemos é esquecer de não deixar os tais borrões aparecer. Se estes surgirem ainda, vamos corrigi-los e aprender a não deixar que estes voltem a surgir. Se conseguirmos fazer e transmitir isto, muito provavelmente nos tornaremos uns verdadeiros mestres!
Clara Soares (Professora da ESAC)
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