Cerca de 30 pessoas, nove das quais ciclistas da Ibike Barreiro participaram na Rota da Resistência realizada ontem, 28 de abril, percorrendo diversos locais que marcam a História da Resistência do Barreiro – “terra vermelha” (informação detalhada em anexo). Esta iniciativa inseriu-se no programa das comemorações do 39º aniversário do 25 de Abril promovido pela Câmara Municipal do Barreiro.
A Estátua Alfredo da Silva foi o ponto de encontro e a partir daí o grupo percorreu os diversos “lugares de memória”, de autocarro, ou de bicicleta. “Largo do Casal”; Rua da Bandeira; Praça da República; Oficinas dos caminhos-de-ferro do Sul e Sueste; Pensão Barreiro; Parque Dr. Oliveira Salazar; Luso Futebol Clube; Rua António José de Almeida e Rua Combatentes da Grande Guerra; Largo 3 de Maio e Teatro Cine-Barreirense.
No texto do folheto sobre a “Rota da Resistência do Barreiro”, de Vanessa de Almeida, Divisão de Cultura e Património Histórico e Museológico, (a editar brevemente) são descritos os factos que ligam a História da Resistência a vários locais. Este trabalho pretende preservar e divulgar esse património, neste caso em concreto mediante uma Rota da Resistência, identificando lugares que, e recorrendo à designação de Pierre Nora, são, por si mesmos, lugares de memória, mesmo se não imbuídos do valor patrimonial tradicionalmente aceite.
» “Largo do Casal” – 18 de janeiro de 1934
Neste local no Barreiro, tal como noutras localidades do País, uma ação de protesto contra a fascização dos sindicatos vinha sendo preparada desde os finais de 1933, através de um Comité de Ação Revolucionária, que incluía militantes anarquistas e comunistas. Para o dia 18 de janeiro de 1934, estavam previstos vários atos de sabotagem a diferentes pontos estratégicos e greve geral. Na madrugada de 17 de janeiro, tem lugar uma reunião dos membros do Comité no pinhal do Lavradio, que dispersaram face à presença das forças da GNR, começando de imediato a ser efetuadas prisões (…)
(…)Às 20h40, deflagra uma bomba no “Largo Casal”, à época um dos principais pontos de encontro do Barreiro, lançando o pânico entre os transeuntes e determinando uma imediata intervenção da GNR, com o destacamento de patrulhas para o local, tendo Bento da Silva Fernandes ordenado o encerramento de todos os estabelecimentos. (…)
» Rua da Bandeira – Semana de Agitação e Luta em fevereiro de 1935
No dia 28 de fevereiro de 1935 tem lugar uma jornada de agitação no Barreiro, organizada pela Comissão Intersindical (CIS), afeta ao PCP. Envolvendo operários da CUF e ferroviários (…).
A ação tem início às 22h15, mediante o corte da energia elétrica. Entretanto, são hasteadas bandeiras vermelhas em toda a vila, a par da distribuição de material de propaganda. Na chaminé das oficinas dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, é hasteada uma bandeira vermelha de grandes dimensões. Face à dimensão dos acontecimentos, a PVDE é chamada a intervir, deslocando-se à CUF e às Oficinas dos CFSS, acabando por prender 45 operários (…).
» Praça da República – A revolta popular em abril de 1935
Após o hastear da bandeira vermelha, os presos são interrogados pela polícia política na prisão sita na Praça da República (vulgarmente conhecida por “Olho de Boi”), sendo sujeitos a violentos espancamentos, fomentando a revolta popular. A situação irá agudizar-se no dia 11 de abril, aquando da transferência de alguns dos presos para a capital (…)
No dia seguinte, por volta das 17h30, as mulheres dos presos começam a concentrar-se junto aos Paços do Concelho, exigindo a sua libertação. Operários saídos das fábricas aderem ao movimento, originando uma manifestação que contará com cerca de 3000 pessoas. Face ao clima de revolta popular, a GNR intervém mas, tendo em conta a sua incapacidade em demover os manifestantes, são mandadas avançar tropas de Setúbal, acirrando ainda mais os ânimos da população. Face à dimensão dos acontecimentos, a polícia política recebe ordem para retirar do Barreiro, sendo transferidos para Lisboa os restantes presos que ainda permaneciam na vila.
» Oficinas dos Caminhos-de-ferro do Sul e Sueste – Prisão de José Francisco a 23 de maio de 1936
A 23 de maio, agentes da polícia política invadem as Oficinas dos CFSS e prendem o serralheiro José Francisco, sendo as oficinas cercadas por patrulhas da GNR e infantaria. A intervenção das forças repressivas desencadeia um protesto por parte dos operários, alguns dos quais recusando-se a trabalhar em solidariedade para com o preso. (…)
» “Largo das Obras” – A greve de 1943
(…) Em 1943 dá-se a mais importante greve da história do Barreiro, não só pelo número de operários envolvidos como pelas repercussões que dela advieram. A greve de julho, organizada pelo PCP, tem início no dia 26, em algumas fábricas de Lisboa e Almada, estendendo-se à CUF do Barreiro no dia seguinte. A situação do operariado da Companhia vinha a agravar-se desde meados de 1942, motivado pela falta de matérias-primas, o que implicava a redução do horário semanal de trabalho e, consequentemente, dos salários auferidos. Em março de 1943 circulavam já boatos na CUF da possibilidade de ser feita greve, mas a mesma só irá deflagrar a 27 de julho, sob a forma de “braços caídos”. No dia 28, logo pela manhã, as forças policiais ocupam as fábricas e fecham os portões, sendo dada ordem para dispersar às centenas de operários que se apresentavam ao trabalho. Decorrem os primeiros confrontos entre os trabalhadores e as forças repressivas. Bloqueada a entrada, e após uma concentração junto ao Bairro Operário, os operários dividem-se em dois grupos, duas marchas da fome. O objetivo é conseguir a adesão dos operários de outras unidades fabris.
» Pensão Barreiro – 8 de março de 1957
Fundado em 1946, o MUD Juvenil tinha como objetivo mobilizar a juventude em torno de questões que lhe fossem caras, movimento que viria a conhecer grande expressão no seio da juventude barreirense, sobretudo em meados da década de 50, promovendo reuniões, encontros, piqueniques, sendo ainda de destacar a ação desenvolvida no seio das coletividades. Em 11 de novembro de 1956, dezenas de barreirenses participam num passeio-convívio a Alpiarça, mas são detidos pela GNR local e posteriormente entregues à PIDE. (…)
» Parque Dr. Oliveira Salazar – 1º de Maio de 1962
(…) No dia 1 de Maio de 1962 é feita uma intensa distribuição de propaganda, mobilizando a população para uma concentração no Parque por volta das 17h30. A GNR viria a intervir, cercando o recinto, irrompendo à coronhada e perseguindo os manifestantes, alguns dos quais acabando por procurar refúgio no café Boleira do Parque. Apesar da repressão desencadeada, muitos dos manifestantes partem em direção à Baixa da Banheira. Durante as horas seguintes, a Estrada Nacional foi percorrida por centenas de pessoas, sob vigilância da GNR, sendo presas algumas mulheres barreirenses.
» Luso Futebol Clube – Sessão de Música e Poesia em 11 de novembro de 1967
(…) No dia 11 de novembro de 1967, tem lugar no Luso Futebol Clube uma sessão de música e poesia organizada pelo Cine-Clube do Barreiro, tendo como artistas convidados Odete Santos, Rui Pato, Carlos Paredes, Fernando Alvim, Teresa Paula Brito e Zeca Afonso, conhecidos pela sua oposição ao regime, atraindo centenas de pessoas ao local, entre os quais se encontravam muitos estudantes universitários de Lisboa. O ambiente entusiástico da sessão iria culminar no pedido para que o Zeca cantasse “Os Vampiros”, música que estava proibida, levando a assistência à euforia. Como consequência, poucos dias depois começam a ser presos os membros da direção do Cine-Clube.
» R. António José de Almeida e R. Combatentes da Grande Guerra – Comemorações do 5 de Outubro de 1969
(…) Em 1969, em plena Primavera Marcelista, a Comissão Democrática Eleitoral (CDE) do Barreiro organiza as comemorações do 5 de Outubro. O início é marcado para as 11h00 da manhã e consiste numa romagem aos túmulos de antigos Republicanos no Cemitério do Lavradio, onde se concentram cerca de mil democratas. Finda a homenagem, a multidão sai do cemitério e, arvorando a Bandeira Nacional, percorre as ruas do Barreiro até à Sede da CDE, na R. Dr. António José de Almeida, onde mais de 2000 manifestantes ouvem a alocução proferida por Álvaro Ribeiro Monteiro, candidato da CDE pelo concelho nas eleições legislativas de 1969.
» Largo 3 de Maio – maio de 1970
(…) Como resposta à repressão desencadeada pela PIDE, ativistas do MOD afetos à organização local do PCP organizam uma manifestação de protesto e solidariedade para com os presos do Distrito, à qual aderem milhares de pessoas, que percorrem as ruas do Barreiro até à antiga R. Brás (atual R. Dr. Manuel Pacheco Nobre) onde são intercetados pela GNR. Conseguindo romper o cerco policial, continuam em manifestação até ao Largo da Santa (atual Largo 3 de Maio), local onde a repressão desencadeada atinge uma proporção sem precedentes, provocando vários feridos graves, sendo ainda presos vários manifestantes.
» Teatro Cine-Barreirense – 24 de outubro de 1973
No decorrer da campanha eleitoral, a questão sobre a ida ou não às urnas é apresentada pelos candidatos. Finalmente, dia 24 de outubro, na sessão ocorrida no Teatro Cine-Barreirense, na presença de cerca de 3000 pessoas, à semelhança do que se verificava em outros locais do Distrito, é aprovada por aclamação a Moção em que se decide a não ida às urnas (…)
CMB 2013-04-29
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