UM LEGADO,UMA MEMÓRIA, UM FUTURO [III]

UM LEGADO,UMA MEMÓRIA, UM FUTURO [III]

 D.  A INTERFACE INDUSTRIAL: A TRIAGEM

NOTA BIOGRÁFICA

       A interface ferroviária entre o Caminho de Ferro do Sul e Sueste e a CUF nascente, foi construída logo a partir de 1909/10, aproveitando o pequeno ramal interno já existente que servia a fábrica de cortiça Bensaúde, a quem Alfredo da  Silva comprou parte dos terrenos onde instalou as primeiras fábricas. Ampliado e modernizado, o ramal interno funcionou até aos nossos dias, sempre com a zona de triagem no local primitivo, com um posto de comando e uma báscula desde os anos 60

EVOCAÇÃO DA MEMÓRIA

UM GRITO DESESPERADO

       As pequenas locomotivas a carvão faziam a ligação na interface com a linha do Sul ao ramal interno da CUF, reconstruído a partir da linha rudimentar já existente no princípio do século XX. Este foi um dos principais motivos da escolha do Barreiro por Alfredo da Silva.

       Os vagões entram carregados de carvão para as Centrais de Vapor, ou de pirites do Alentejo (S. Domingos e Aljustrel ), para a produção de Ácido Sulfúrico. Saem carregados de sacos de adubo em pó para o Alentejo extenso e carenciado. A fábrica arrancou em 1910, e os fertilizantes em pó são o principal negócio a animar a agricultura latifundiária e a fazer enriquecer a CUF de Alfredo da Silva.

       O maquinista-fogueiro está com pressa, pressionado pelo engenheiro-chefe com objectivos  a cumprir. À confiança, ganha na rotina diária, não espera o sinal do engatador – agulheiro e arranca com um apito estridente da locomotiva, que afoga o grito desesperado do ajudante, com a perna trucidada pelo rodado do vagão de corte.

       A boca imensa dos  fornos de ustelação de pirite não pode esperar. O xadrez imperial da CUF também se construiu com sangue.

CRÓNICA BREVE 

MEMORIAL AOS OPERADORES DE MANOBRAS

       É a terceira paragem na nossa viagem que decorre num dia magnifico de Primavera e Sol, com uma aragem fresca característica de Norte. Durante dezenas de anos, as nortadas evitaram a asfixia de milhares de barreirenses que tinham nas fábricas fumegantes (sem qualquer respeito por normas ambientais inexistentes, ou esquecidas no silêncio comprado das gavetas ministeriais), o seu ganha pão.

       Outrora existiram aqui as chamadas linhas de triagem, onde se fazia a entrada e a divisão dos comboios com matérias primas, e a divisão e a saída dos comboios de adubos, azeites, ácidos, amoníaco, etc.

       Em homenagem às dezenas de trabalhadores das manobras ferroviárias, acidentados, amputados, trucidados e mortos, durante mais de cem anos de actividade na interface, foi construído um pequeno Memorial, com uma velha locomotiva, o maquinista figurado em metal na cabine, e o ajudante-agulheiro, sentado à frente no estribo do vagão-furgão, como sempre viajava, inseguro, ao «Deus-dará» dos acidentes frequentes, porque a fábrica não podia esperar e o patrão queria melhorar os resultados.

 SINOPSE DE PROPOSTAS

       X. Em homenagem às dezenas de trabalhadores das manobras ferroviárias acidentados, será construído um pequeno Memorial no local da antiga triagem, com uma locomotiva antiga, o maquinista e o ajudante-agulheiro figurados em metal.

       XI. Não muito longe deste local, também integrada na nova Alameda do rio Tejo (proposta), mantém-se conservada a chaminé simbólica das fábricas de adubos, principal produção durante toda a vida da ex-CUF/Quimigal.

Barreiro, 1 de Março de 2011

Armando de Sousa Teixeira       

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