AS MULHERES TÊM OS MESMOS DIREITOS QUE OS HOMENS?

AS MULHERES TÊM OS MESMOS DIREITOS QUE OS HOMENS?

Há uns tempos, um homem perguntou-me: Porque é que as mulheres têm um dia que lhes é dedicado especialmente? Se são iguais aos homens, porquê esta “discriminação? Não será uma forma de dizer que as mulheres são mais “fracas” que os homens e por isso precisam de ter um dia que lhes é dedicado?

Respondi que as mulheres têm os mesmos direitos que os homens, no “papel”. Na realidade não têm e por isso é que é necessário dedicar-lhes um dia, para afirmar isso mesmo: as mulheres têm os mesmos direitos e os mesmos direitos que os homens. Não se esqueçam disso quando chegar o momento de concretizar esses direitos.

Com a Constituição de 1976, foi instituída a igualdade de género. Homens e mulheres iguais perante a lei.

Mas será que hoje, 34 anos depois essa igualdade de géneros ter sido levada à Lei, é essa a realidade?

Segundo estatísticas oficiais, as mulheres representam mais de 50% dos desempregados em Portugal, têm as mais baixas reformas, e o desemprego assume uma maior diferença entre mulheres licenciadas e homens licenciados, onde as mulheres “lideram” o “ranking” do desemprego, representando 66% dos desempregados com ensino superior. (vide artigo de Eugénio Rosa).

Por  detrás destas tristes estatísticas, existem pessoas, mulheres, mães, avós, que no seu dia a dia lutam tenazmente pela sua afirmação num mundo que (ainda) pertence aos homens.

Existe a mulher de 34 anos, com dois filhos pequenos, com uma carreira profissional intensa, e que se levanta todos os dias às 6 horas da manhã para deixar o jantar preparado, para vestir os filhos, levá-los à escola. A mulher que, no intervalo do almoço vai a correr ao mercado, porque os sábados e os domingos são reservados para poder brincar, ler histórias e ter algum tempo de qualidade com os filhos. A mulher que sai a correr do trabalho para ir buscar ou levar os filhos às milhentas actividades que têm.

A mulher que se divide, reparte, “corre” as lojas em tempo recorde, comprando isto ou aquilo, que faz falta aos filhos, ou em casa, a sua própria roupa. A mulher que corre as lojas em saldos à procura daquelas peças de vestuário que fazem falta, a ela, aos filhos, ao marido.

A mulher que quando senta a família ao pequeno almoço, já carrega no seu corpo duas horas de trabalho, não pago, não reconhecido, não valorizado, mas trabalho efectivo.

Existe a mulher que não tem filhos pequenos a cargo, mas tem uma casa à sua inteira responsabilidade, um marido, um pai ou um sogro, para quem é necessário preparar as refeições, as camisas, as camisolas, os fatos que hão-de vestir em cada dia. A mulher que corre do emprego para o hipermercado, para abastecer a despensa, o frigorifico, e depois, durante 8 horas  exercer a sua profissão. Uma mulher que só é paga pelo exercício da profissão, e que todo o outro trabalho que faz não é pago, não é reconhecido, não é relevado nem termos económicos nem em termos sociais.

Existe a mulher avó, que já reformada, se levanta cedo para receber os netos que chegam pelas 7 horas da manhã, que lhes dá o pequeno almoço e que os leva à escola, volta para casa, vai ao mercado, prepara o almoço das crianças, vai buscá-las à  escola e reinventa histórias e brincadeiras infantis que há muito se encontravam arquivadas no baú da memória. 

Trabalho que não é pago, não é reconhecido, não valorizado pela sociedade.

Existe a mulher desempregada, que corre de entrevista para entrevista à procura de emprego, disposta a aceitar qualquer emprego que lhe permita sustentar os filhos, a quem o abono de família foi reduzido drasticamente. Uma mulher que não consegue receber a pensão de alimentos devida pelo pai dos filhos, porque este não tem emprego e não paga, não está inscrito na segurança social, e o Tribunal não consegue encontrar-lhe bens para penhorar.

É um trabalho o desta mulher que não tem horário, nem salário. É um trabalho a tempo inteiro, não pago, não valorizado, não reconhecido.

É por todas essas mulheres que existe o Dia Internacional da Mulher. É por essas mulheres que o dia continua a ser comemorado, não porque sejam mais “fracas” que os homens, mas porque trabalham mais e ganham menos, muito menos, do que os homens. Porque são despedidas quando engravidam, são despedidas quando pedem para trabalhar no turno do dia porque têm filhos pequenos, são despedidas quando têm que ficar em casa para tratar do filho com varicela ou sarampo, porque representam o maior número de desempregados do País.

Por todas as mulheres, e são muitas, que são vitimas de violência doméstica, de assédio no local de trabalho e de discriminação em função do género, existe o dia 8 de Março, o dia Internacional da Mulher.

Dulce Reis

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