A CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DADA PELA PRESIDENTE DO INE NÃO ESCLARECEU NADA SOBRE AS DÚVIDAS MAIS IMPORTANTES, E DEIXOU AINDA MAIS DÚVIDAS

A CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DADA PELA PRESIDENTE DO INE NÃO ESCLARECEU NADA SOBRE AS DÚVIDAS  MAIS IMPORTANTES, E DEIXOU AINDA MAIS DÚVIDAS

A credibibilidade e fiabilidade tecnica dos dados sobre o desemprego em Portugal é uma questão chave para conhecer a sua verdadeira dimensão e caracteristicas, o que é fundamental para que sejam tomadas medidas adequadas, e não é uma mera questão de reduzida importancia ou uma questão que interessa apenas aos tecnicos.

A meu ver a alteração metodológica que o INE pretende fazer e a forma como tenciona fazer pode pôr em causa a fiabilidade tecnica dos dados apurados no futuro.

É por essa razão e porque a presidente do INE não esclareceu as duvidas tecnicas mais importantes (até deixou mais) na conferencia de impreensa que deu,que insisto nesta matéria enumerando algumas das questões importantes que não foram esclarecidas pelos responsáveis do INE e que era necessário que o fossem antes da aplicação da alteração metodológica no apuramento dos do emprego e desemprego em Portugal.

Já depois de termos elaborado a nota anterior sobre a alteração metodológica que o INE pretende introduzir a nível do inquérito sobre o emprego e desemprego em Portugal, e perante a critica generalizada, a presidente do INE deu uma conferencia de imprensa que tinha como objectivo, segundo os responsáveis do INE, esclarecer as dúvidas que se levantaram sobre a fiabilidade futura dos dados sobre o desemprego. No entanto, nessa conferencia, de acordo com os relatos dos órgãos de comunicação social,  a presidente, que se irritou quando as perguntas eram incómodas, não esclareceu sobre as questões mais importante, tendo deixado ainda mais duvidas sobre a fiabilidade  técnica dos dados futuros sobre o desemprego em Portugal.

Em primeiro lugar, a responsável pelo INE informou que só a primeira entrevista seria presencial e as seguintes seriam feitas às mesmas pessoas, se elas aceitassem, através de telefone. No entanto, não esclareceu como é que resolveria o problema dos que não têm telefone, porque não têm dinheiro para o pagar. Será que o INE vai oferecer um telefone? . Ou serão excluídos no futuro?

Em segundo lugar, e isso, a nosso ver, é mais grave porque põe em causa a credibilidade cientifica dos resultados, a amostra deixaria de ser aleatória a partir da primeira entrevista, passando a ser fixa, já que seriam depois inquiridos sempre os mesmos. Por outras palavras, só na primeira vez é que os inquiridos seriam escolhidos aleatoriamente (ao acaso de uma forma cientifica), e depois seriam os mesmos, ou seja, fixos. A fixacção da amostra ao longo do tempo permite, como é evidente, manipulações fáceis. Basta arranjar emprego para um conjunto de inquiridos, e como são fixos ao longo de vários trimestres há tempo para isso, e desta forma alteram-se os resultados. Só a introdução da aleatoriedade na construção da amostra em cada trimestre é que permitiria, a nosso ver, garantir, por um lado, a representatividade da amostra e, por outro lado, que aquela manipulação fosse praticamente impossível, já que os inquiridos poderiam ou mesmo mudariam em cada inquérito impedindo assim que pudesse haver  certeza de que qualquer processo de manipulação resultaria, o que o desmotivaria à partida .

Finalmente, outra questão que a responsável do INE não esclareceu, e isso é grave sob o ponto de vista de credibilidade técnica dos resultados do inquérito (e não só), é a quebra da série  temporal (continuidade temporal) dos dados do inquérito, ou seja, a impossibilidade de comparar os dados sobre o desemprego obtidos em 2001 e nos anos seguintes com os dos anos anteriores a 2011. Esta quebra de continuidade deve ter como razão a eliminação de várias perguntas que existiam no inquérito anterior e que deixarão de constar do novo inquérito. E as questões que interessava que tivessem sido esclarecidas e que não foram, de acordo com o divulgado pelos órgãos de comunicação social, foram as seguintes: Que perguntas foram eliminadas? Por que razão foram eliminadas? Quais as comparações com os dados anteriores que deixaram de se poder fazer? E qual a sua importância para se poder ter dados completos credíveis sobre o emprego e desemprego efectivo e real em Portugal e suas características?.

Portanto, tudo isto são questões que deviam ter sido, a nosso ver, total e cabalmente esclarecidas pelos responsáveis do INE e que, segundo os dados divulgados pelos media, parece que não foram.

A justificação dada pela responsável pelo INE de que a taxa de respostas tinha diminuído não colhe, até porque estudos realizados levaram à conclusão que a taxa de resposta é superior nos inquéritos presenciais do que nos inquéritos feitos por telefone. Assim também não colhe a justificação de que o INE já tinha gasto centenas de milhares euros  na montagem de uma espécie de “call center” para fazer inquéritos, e que agora não podia  recuar. Antes de o fazer deviam ter analisado muito bem todas aquelas questões e esclarecido cabalmente tanto os parceiros sociais como todo o País, pois o que está em jogo é a credibilidade técnica de dados sobre o problema social mais grave e dramático que os portugueses enfrentam neste momento. Esperamos que o bom senso impere neste campo, e que os responsáveis do INE façam o trabalho que parece não quiseram ou não souberam fazer.

Eugénio Rosa

Economista

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