Comemorações dos 80 anos da Jornada de Agitação e Luta de Fevereiro de 1935, no Barreiro

Comemorações dos 80 anos da Jornada de Agitação e Luta de Fevereiro de 1935, no Barreiro

inauguração_3Inauguração da Exposição “O Regresso das Bandeiras”

Cerca de duas centenas de pessoas marcaram presença, ontem, dia 28 de fevereiro, na abertura oficial das “Comemorações dos 80 Anos da Jornada de Agitação e Luta de 28 de Fevereiro de 1935, no Barreiro” e na inauguração da exposição “O Regresso das Bandeiras”, no Espaço Memória. Uma cerimónia protagonizada pelo Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Carlos Humberto de Carvalho, e pelo Diretor-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Silvestre Lacerda.

Destacaram-se as presenças dos vereadores do Município do Barreiro, eleitos do Concelho, de uma Delegação do Partido Comunista Português e de Joaquim José da Costa, filho de Acácio José da Costa, um dos envolvidos no “Processo das Bandeiras”.

Recorde-se que, em dezembro de 2015, procedeu-se à entrega simbólica de documentos, em suporte digital, de todo o “Processo das Bandeiras” (da PVDE), do acervo documental do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, pelo Diretor Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas ao Presidente do Município do Barreiro. A iniciativa resulta de uma parceria entre o Município do Barreiro e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, assinalando um momento icónico da história do Barreiro do século XX, da resistência ao “Estado Novo” e da luta pela liberdade e pela paz.

O papel ativo do Espaço Memória na valorização da História e Património do Concelho foi ressalvado pelo Presidente do Município. “Estamos a dar corpo e conteúdo à vocação do Espaço Memória, promovendo uma abordagem participada, colaborativa, multidisciplinar e cidadã dos processos históricos e sociais que marcaram o território desde o início da sua humanização”.

Este trabalho é desenvolvido pelo Município em articulação com a comunidade local. “Estamos a estreitar laços com as populações, com o movimento associativo, com a comunidade educativa e com instituições congéneres”. Um trabalho exequível com “o envolvimento de todos, dentro e fora do Barreiro, que se interessam pela História e pela Democracia”.

inauguração_6 (2)“Uma exposição de enorme importância”

Na sua opinião “O Regresso das Bandeiras” é “uma grande exposição temporária” fruto de um trabalho conjunto com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, aproveitando para agradecer a Silvestre Lacerda “todo o apoio e incentivo”.

“O Regresso das Bandeiras” assume uma “enorme importância ao celebrar um momento maior da luta contra o regime fascista do Estado Novo, onde, como noutros momentos, o contributo dos Barreirenses marcou presença, com todas as consequências que daí advieram para os intervenientes e para a comunidade”.

Esta mostra vem “contribuir para o conhecimento e aprofundamento da reflexão em torno de um facto histórico que extravasa manifestamente as fronteiras do Barreiro, constituindo património comum dos portugueses e, particularmente, de todos os que hoje continuam a inscrever as suas opções de vida na defesa da democracia, no desenvolvimento do País e na emancipação dos portugueses”.

O Presidente fez um paralelismo com a atualidade. Recordou aquele tempo de opressão, mas também de heroísmo e resistência e salientou que “hoje precisamos de ter essa mesma combatividade. Hoje, na Europa e no Mundo, assiste-se ao avanço de forças e ideologias de conteúdos sociais e políticos que podem pôr em causa as conquistas de civilização que aqui encontrámos e ganhámos. É preciso persistência e convicções profundas e uma firmeza para os que querem pôr em causa a democracia e a liberdade, a mesma que em 1935 tiveram a ousadia de construir a liberdade”.

Ressalvou como fundamental “traçar, construir e implementar políticas públicas de valorização da memória, neste caso particular da ditadura em Portugal no período 1926/1974, no sentido de “ajudar a clarificar as bases que sustentam a nossa identidade, e compreender melhor os alicerces do projeto societário nascido da Revolução de Abril”. Referiu a importância da transmissão dos valores de Abril às gerações presentes e vindouras.

Agradeceu a presença do representante do PCP e o contributo que deram – fornecendo elementos – para a concretização da exposição. Estendeu os agradecimentos à empresa “WeeK”, na concretização da exposição, à Vereadora Regina Janeiro e a todos os trabalhadores do Município, pelo trabalho empenhado.

Atividades para os próximos meses

A exposição está patente ao público nos próximos seis meses e, ao longo desse tempo, está previsto um conjunto de atividades, tais como conversas, debates, intervenções artísticas, visitas guiadas, ou publicações.

Estas comemorações, segundo Silvestre Lacerda, chamam a atenção para a “Jornada de Agitação e Propaganda contra a Fome, a Guerra e o Fascismo”, que se celebrou entre 24 de fevereiro e 2 de março de 1935, e “foi convocada pela Comissão Intersindical, pela Federação das juventudes comunistas e pelo Partido Comunista Português, no sentido de afirmação clara, após um ano da data de 18 de janeiro de 1934, onde teve lugar a jornada de luta do proletariado português que, apesar de ser brutalmente reprimido, não desapareceu. Foi capaz de se recompor e desenvolveu ações de propaganda com mensagens ‘abaixo a ditadura salazarista’, entre outras e de reivindicação das sete horas de trabalho sem redução de salários”. Contou que nessa madrugada, “foi realizada uma sabotagem e a Vila do Barreiro ficou sem energia elétrica pelo menos 30 minutos, sendo assim possível distribuir vários materiais de propaganda”.

As Bandeiras

Refira-se que o “Processo das Bandeiras”, que se encontra no Serviço Nacional da Torre do Tombo, contem as provas que a Polícia recolheu, como são exemplo as Bandeiras, elementos de prova para o julgamento, em Tribunal Militar, dos participantes envolvidos nestas reivindicações.

Apesar das duas expostas, Silvestre Lacerda revelou que existem mais bandeiras conservadas, graças à missão de salvaguarda do Arquivo da Torre do Tombo. Adiantou que existe ainda muito património por identificar.

Saudou a CMB pela sua “visão da memória que não se circunscreve à memória institucional, mas pelo contrário acredita que é possível trazer outras memórias e cuidar de outros documentos”. Revelou que estão a ser verificados diários de participantes diretos nos acontecimentos do Barreiro e espera que seja possível a publicação de outras biografias, pois acredita que “só assim é possível ter visões diferenciadas daqueles que sofrem e que resistem”.

A Exposição

“O Regresso das Bandeiras” tem como tema central um acontecimento: na madrugada do dia 28 de fevereiro de 1935, vários homens colam nas paredes e portas das casas das vilas do Barreiro e Lavradio manifestos e tarjetas com várias reivindicações contra o “Estado Novo” e são hasteadas bandeiras vermelhas em fábricas e nas principais ruas.

Ao longo de dezenas de painéis são explanadas as seguintes abordagens: “O Mapa das Bandeiras”, com destaque para as duas bandeiras vermelhas originais (uma terá sido colocada na Fábrica ’Corticite’ na Quinta da Palmeira, no Lavradio, e julga-se que a outra foi hasteada na chaminé das Oficinas Gerais da CP); os vários documentos do “Processo das Bandeiras”, o contexto internacional – “Ascensão do Nazi – Fascismo”; o contexto nacional – “Da Ditadura Militar ao Estado Novo”; “Barreiro Anos 30/40 – Condições de vida e sobrevivência quotidiana”; “Resistir, organizar, Lutar – a Organização Comunista Local” (a greve de braços caídos), os percursos penitenciários – as prisões “Olho de Boi”, “Caxias”, “Aljube”, Peniche,  Tarrafal; Angra; um poema de Ary dos Santos evoca “o 25 de Abril” e um último painel onde cada visitante pode escrever a sua opinião.

A exposição pode ser visitada de 3ª a sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00.

Recorde-se que em 2015, no dia 14 de dezembro, realizou-se a entrega simbólica de documentos, em suporte digital, de todo o “Processo das Bandeiras” (da PVDE), do acervo documental do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, pelo Diretor Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Silvestre Lacerda, ao Presidente da Câmara Municipal do Barreiro.
Consulte mais informação sobre a iniciativa no site do Município: http://www.cm-barreiro.pt/frontoffice/pages/792?news_id=5405

Os documentos relativos ao “Processo das Bandeiras” estão disponíveis para consulta integral nos equipamentos municipais e através do portal Espaço Memória http://memoriaefuturo.cm-barreiro.pt/pt/portal/noticiasagenda/o-regresso-das-bandeiras-acervo-da-torre-do-tombo-disponivel-para-consulta.html .

Consulte mais fotos da exposição na página de Facebook do Município em https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1690062704577982.1073741927.1429254950658760&type=3

 

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