A vida é um caminho complexo, cheio de escolhos, de sonhos e de frustrações , de momentos de exaltação e de alegria, de períodos em que se caminha com mais calma, mas também de sobressaltos e de tempos de tristeza e de despedida
Creio que é dos escolhos, das dificuldades, dos tempos agitados de mudança que nos lembramos mais facilmente. Thomas Mann escreveu na
Montanha Mágica que são os anos da juventude, da descoberta e da novidade que mais marcam pela diferença.
Na vida colectiva das sociedades e na sua evolução histórica e política, também há momentos de grande relevância, que marcam de forma indelével a vida dos homens e mulheres despertos e atentos à transformação e à mudança.
O 25 de Abril em Portugal, foi um desses momentos históricos que marcou a letras de fogo a alma daqueles que tiveram o privilégio de o viver, de ajudar a construir ou de participar na sua prossecução.
No auge da luta política, em 1975, quando se discutia e decidia o futuro da Revolução (o seu avanço ou o seu retrocesso!…) conhecemos Fernando Lince, um quadro técnico da CUF/Quimigal, a viver uma tremenda agitação operária característica do processo revolucionário.
Ainda está por fazer a história desses meses gloriosos que antecederam e procederam a Nacionalização da grande empresa química, que integrara um dos maiores grupos económicos capitalistas e monopolistas, sustentáculo do regime fascista /colonialista de Salazar e Caetano – o Grupo CUF –
Fernando Lince era um homem simpático, cordial. Na sua participação cívica procurava sempre o lado construtivo das coisas, valorizando os aspectos positivos das questões, privilegiando a procura de entendimentos. O seu espírito unitário, racional e de consciência social, era decerto uma herança da prática desportiva de equipa, pois fora um entusiástico praticante – campeão de Rugby.
A sua consciência política manifestou-se no núcleo de quadros técnicos comunistas da Quimigal, onde mais tarde nos encontraríamos, numa altura de grande debate ideológico em que se colocava aos quadros técnicos a questão : como assalariados estavam ao lado dos operários e da revolução, ou como capatazes do patronato estavam ao serviço do capital ?
Fernando Lince sobressaiu na autarquia de Stº António, onde ajudou a construir o poder local democrático a seguir ao 25 de Abril, com o afastamento dos caciques e dos próceres do fascismo burocrático e corrupto. Distinguiu-se na direcção do Grupo Desportivo da Quimigal, quando se abriam as portas da participação massiva no “Desporto para todos”, na consecução de um associativismo humanista e progressista.
Há já alguns anos juntamo-nos em almoço de tertúlia todas as quintas-feiras. É um grupo animado, discutindo abertamente, com o 25 de Abril no coração. Fernando Lince era o decano moderador e o cimento aglutinador de idiossincrasias diversas, de opiniões nem sempre coincidentes, de discussões acesas de pontos de vista contraditórios. Como muitas vezes dizia, com o bigode rindo-se numa expressão de candura de menino-homem, o que é fundamental é preservar o grupo e a amizade que se foi solidificando ao longo dos anos.
Na 5ª feira lá estaremos, e a cadeira do Fernando Lince, homem honesto, engenheiro competente, comunista convicto , estará ao nosso lado.
Barreiro, 22 de Março de 2011
Armando de Sousa Teixeira
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