Vivemos tempos, em que a vida corre célere, agitada e sem tempo para nos debruçarmos sobre aspectos da vida em sociedade que a todos deviam interessar, pois a única herança relevante que possuímos é a nossa memória colectiva.

O brasão e a bandeira são símbolos importantes da vida de uma cidade, pois representam o sentir de um povo, organizado em torno da sua polis.

Como parte da história da nossa cidade, e numa breve pesquisa, deparamo-nos com a história heráldica do nosso concelho.

O brasão municipal do Barreiro, foi  elaborado por Afonso de Dornelas tendo vindo a ser aprovado oficialmente pela Portaria n.º 9496 de 2 de Abril de 1940, e era constituído por:

“ARMAS de prata, com uma muleta de pesca de negro realçada de ouro,vestida de vermelho, mastreada e encordoada de negro, vogando num rio de quatro faixas ondadas de azul e de três de prata. Em chefe, uma cruz de Santiago de púrpura, acompanhada de dois cachos de uvas do mesmo esmalte, folhados de verde. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres “Vila do Barreiro”.

BANDEIRA Esquartelada de vermelho e de negro. Cordões e borlas dos mesmos esmaltes. Haste e lança douradas.”

Informação recolhida no site da Câmara Municipal do Barreiro,  in: http://www.cm-barreiro.pt/NR/rdonlyres/8AE03475-3036-494C-8726-

Segundo a fonte citada, o supra referido  site:

“A peça principal das Armas é a muleta, barco típico da região, utilizado para pescar por arrasto na barra de Lisboa.

A cor negra indicada para o barco significa heraldicamente honestidade e firmeza e representa a terra. De facto, o Barreiro tem-se feito com o esforço próprio.

É indicado o ouro para realçar o barco, porque este metal representa a riqueza e significa constância e poder.

O vermelho indicado para as velas do barco significa vitórias. Os fundadores do Barreiro, lutando pela vida com os seus esforços próprios, conseguiram formar uma vila que já tem muito tempo de existência tendo portanto alcançado uma vitória com muito trabalho.”

A Bandeira, contém o brasão e é igualmente preta e vermelha.

O pormenor das cores é interessante, atendendo a que, por vezes, algumas mentes, dotadas de uma visão menor de problemas maiores, identificam as cores do brasão e da bandeira, associando-as, o negro à fome, e o vermelho, a forças políticas.

Da análise feita a este texto, colhe-se, sem sombra de dúvida, que associações deste tipo, revelam uma certa ignorância sobre a história do concelho, as suas cores e o seu significado, atribuindo-lhes simbolismos errados, e fazendo comparações infelizes que não honram a terra nem as gentes do Barreiro.

Na verdade, as cores destes dois símbolos da cidade, representam, como se diz no texto da CMB, princípios enformadores da construção da heráldica.

No caso concreto da nossa cidade, quer na bandeira quer no brasão, a cor negra, representa a força, a honestidade do seu povo que, com o seu trabalho e esforço, soube construir, praticamente do nada, primeiro uma vila e depois uma cidade.

A cor vermelha, representa efectivamente a vitória sobre as condições adversas sobre as quais se construiu a vila.

São cores fortes, determinantes, reveladoras da força de um povo, cujo lema é “Antes quebrar que torcer”.

Lema que ao longo dos anos, fez do Barreiro uma terra combativa, produtiva, de participação colectiva e democrática, estatuto que se quer e deve manter, independentemente de quaisquer conotações deturpadas às cores dos seus simbolos.

Dulce Reis