PÚBLICO PRIVADO 13 – A EUROPA CAPITALISTA AJUSTA CONTAS COM O 25 DE ABRIL

PÚBLICO PRIVADO 13 – A EUROPA CAPITALISTA AJUSTA CONTAS COM O 25 DE ABRIL

 A Europa capitalista demo-liberal nunca perdoou aos portugueses  terem feito o 25 de Abril !

1. Apoiantes efectivos com “armas e bagagens” da guerra movida por Portugal contra os povos de Angola, Guiné e Moçambique, a Alemanha, a França, a Inglaterra, no âmbito da NATO, respaldaram o regime de ditadura fascista-colonialista (embora o condenassem em raras declarações platónicas).No plano económico, associaram-se aos grupos monopolistas portugueses para esmifrarem o povo português e os povos africanos, Portugal era um país colonizador e simultaneamente colonizado.

2. A destruição dos grandes grupos económicos pela Revolução Democrática, a Nacionalização dos sectores-chave da economia, a Reforma Agrária e o fim dos latifúndios, as reformas sociais com um alcance inusitado, a melhor remuneração do Trabalho, foram decisões revolucionárias que a Europa dos ricos nunca nos perdoou !  

     Apoiantes até à última hora do regime ditatorial, estiveram logo nos primeiros dias da Liberdade com as forças políticas reaccionárias que lhes iriam garantir no futuro o triunfo da contra-revolução.

3. A tenacidade da Revolução e da luta travada na defesa das suas conquistas, criaram contradições insuperáveis no arco do poder governativo, eleito depois de 1975. Juntos ou separados, o PS, o PPD/PSD e o CDS/PP, governaram sempre segundo os ditames do capitalismo, traindo o texto constitucional que apontava para uma economia socialista, mista na sua composição pública, privada e cooperativa.

   Promovendo o ressurgimento dos grupos económicos que tinham sustentado a ditadura, e de outros entretanto enriquecidos, o governo do PS de Mário Soares (1983-85), iniciou a recuperação capitalista e conduziu à recessão grave e à primeira intervenção do FMI.

4. As doutrinas do capitalismo liberal de Milton Friedman, aplicadas a ferro e fogo no Chile de Pinochet (anos 70), e depois na Inglaterra de Margret Tatcher (anos 80) um pouco mais democraticamente mas com o mesmo efeito na pauperização das classes trabalhadoras e da maioria do povo, na destruição do tecido produtivo e das conquistas do estado social, levando ao sobre-enriquecimento e privilégios obscenos da minoria mandante, seduziram os governantes do PS e do PPD ( Cavaco Silva ascendeu a 1º ministro em 1985), embalando os portugueses no “canto de sereia” da CEE e na boa vida do paraíso prometido.

5. Com Eduardo Catroga (esse mesmo do programa eleitoral do PPD!) no Ministério das Finanças do governo de Cavaco Silva, acentuou-se o desmantelamento da economia pública pela entrega ao sector privado das partes mais rentáveis (foi nessa altura destruída a Quimigal no Barreiro!).

    Com o falseado argumento da modernização e da competitividade da economia, foram destruídas  a Agricultura, as Pescas, parte significativa da Indústria, em troca dos milhares de milhões da CEE/UE (estima-se em 50 mil milhões de euros!), que hoje nem se percebe para onde foram !

6. Ou melhor, alguns milhões foram para infraestruturas (auto-estradas) por onde entram os excedentes da Europa rica, cavando a nossa dependência. Muito dinheiro foi para os bolsos sem fundo da corrupção, e para as “vozes do dono” dos tecnocratas  incondicionais defensores da União Europeia. Outro tanto para as clientelas partidárias, aos milhares sugando o Estado em Institutos e Fundações! E também para os gestores -amigos pagos principescamente em empresas públicas e ex-públicas. E foi muito, muito dinheiro, para os amigos-empreendedores do cimento armado, num crescimento desequilibrado sem desenvolvimento estrutural.

    Estão aqui as principais razões do endividamento excessivo, criou-se uma elite que vive acima das possibilidades do País, enquanto milhões de portugueses empobrecem, aumentando o fosso (o maior da Europa!) entre ricos e pobres.

7. Aumentando a remuneração do capital e diminuindo a do trabalho, ao fim de 10 anos Cavaco Silva foi derrotado. Mas o seu projecto de recuperação capitalista ficou, numa altura em que as teses liberais de Friedman cavalgavam a Europa.

    Novo canto de sereia se ergueu pela mão de António Guterres, num PS novamente vitorioso em 1995, sôfrego de poder e de benesses clientelares, cada vez mais sem ideologia esquecida no fundo da gaveta.

   A entrada na moeda única criou uma falsa euforia, a Banca tocou a música celestial ( mas não inocente!…) dos empréstimos fáceis, com proveitos fabulosos e impostos minguados. O incentivo ao crédito torna-se a mola real da economia, o País vive mais dos empréstimos do que do investimento produtivo, aumentando as dívidas ao exterior.

8. O desvario dos últimos anos do governo de José Sócrates agravou exponencialmente a situação de Portugal. Os socialistas obcecados pelo défice orçamental ( e não com o real problema da dívida externa!), tomaram medidas que mataram o crescimento económico e empobreceram os portugueses (temos o segundo mais baixo PIB da UE!). Prosseguindo as benesses clientelares, enterrando dinheiro público na banca corrupta ( responsável pela crise financeira), colocando-se de cócoras perante a agiotagem dos credores usurários, o governo do PS, de mão dada com o PSD e o CDS (fingindo-se por vezes zangados…), conduziram Portugal há mais grave crise de que há memória.

9. Seria inevitável a intervenção dos credores através da “ajuda” do FMI/BCE/UE ?

     Não! Não era inevitável, há outros caminhos! Por exemplo, renegociando a dívida como fez a Islândia, sem agredir e empobrecer mais e mais os portugueses.

     O que é inevitável é a alteração das políticas que conduziram a este estado de economia recessiva, ímpar na Europa e no Mundo!

     O programa da “troika” visa fundamentalmente garantir que as dívidas sejam pagas, mas com juros gananciosos, cobrando com as duas mãos aquilo que “deram” com uma. Esta perversidade histórica configura também um ajuste de contas. Há 37 anos os portugueses atreveram-se a fazer uma revolução democrática e anti-capitalista !

     Que mau exemplo para um mundo unipolar, imperial, demo-liberal e hipócrita, em que os mais ricos e poderosos não querem partilhar os privilégios, afundando na exploração, em guerras e agressões colonialistas, a vontade de libertação dos povos.

     O capitalismo não é o futuro da Humanidade!

     No dia 5 de Junho os portugueses poderão escolher o melhor de dois caminhos :

     – O prosseguimento das políticas de direita, com os mesmos ou outros actores, continuando na senda da ruína nacional (mais desemprego, precariedade, mais impostos , mais fome ).

     – Ou trilhar com coragem um caminho diferente, com políticas de esquerda, de dignidade nacional,  de trabalho produtivo justamente remunerado, de esperança para o futuro.

     Nunca  em 37 anos foi tão clara a distinção entre direita e esquerda !

      Barreiro, 18/5/11

  Armando Sousa Teixeira

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