Vejo, nos últimos dias, no canal televisivo Sport TV 1, dois alemães como vencedores de etapas do Critério “Dauphiné Libéré”, um dos quais, Jonh Degenkolb, a bisar nessa importante prova do ciclismo internacional que antecede o célebre e mítico “Tour”.
Volta onde a França mostra o que entende – o belo das paisagens geográficas e construídas pelo ser humano – e esconde o que, lá, como em outros países, deve ser mudado, arquitectónica e socialmente.
Dois desportistas, rapazes como tantos outros que, certamente oriundos dos meios populares, andam, nesta altura do ano, no nosso Continente, com as suas bicicletas à procura de fama e de remuneração que seja compatível com as horas de trabalho e sacrifício por um ideal.
“Dauphiné Libéré”: prova onde, até ao momento, a boa classificação do português Rui Costa, o melhor dos jovens, faz recordar Joaquim Agostinho, Alves Barbosa, Fernando Mendes.
Esses e outros ciclistas germânicos não se entenderão mais trabalhadores do que os colegas de outros países que os acompanham na competição. Certamente esses alemães, amantes de vegetais como tantos outros, não lhes dirão que os pepinos espanhóis serão geradores de doença grave, ainda de origem desconhecida mas logo vítimas de boatos – isto, enquanto, em nobre profissão, os investigadores da especialidade, portugueses incluídos, no Instituto Dr. Ricardo Jorge, tentam perceber o que lesou (e continuará a fazê-lo?) pessoas, em termos alimentares, através da bactéria “E. coli”.
Subitamente doentes, três dezenas já falecidas, vinte e nove cidadãos na Alemanha, um na Suécia, como acabo de ouvir na TSF, muita gente hospitalizada e em grave sofrimento devido aos efeitos devastadores, no corpo humano, daquela.
Esses e outros ciclistas, tal como a maior parte da população da Alemanha quererá saúde, paz, actividades honestas e remuneradas e nem terá tempo para caluniar produtores espanhóis de pepinos e acusá-los de que tais vegetais teriam transportado a origem da doença.
Boato que tira, no momento, pão a produtores e vendedores desses comestíveis no país-irmão, na Alemanha e um pouco por aqui e por ali, Portugal incluído.
Como o meu pensamento é livre, entendo que foram associadas aos povos do Sul, a partir da arrogância e das infelizes palavras da Chanceler alemã, em comentários de âmbito económico – maldosos e não comprovados cientificamente –, descuidos nas exportações agrícolas. E não me contenho sem duas perguntas (retóricas):
– Doutora Merkel, foi para isso que preparou tantos anos a carreira política?
– Doutora Merkel, foi para isso que deu a volta completa às convicções políticas?
E tenho vontade de, eu própria, responder, em frase simples:
– Pois foi.
E de comentar:
– Em momento difícil para a vida dos povos, será pertinente saber ouvi-los e interpretar a sua ansiedade face à obtenção de postos de trabalho, às pensões de reforma depois de boa parte da vida a labutar e a fazer descontos que lhes permitam / permitissem a merecida dignidade, aos sistemas e subsistemas de saúde, à tranquilidade que merecem.
Para isso, pelo menos no Velho Continente, há democracia, Doutora Merkel, senhores políticos.
E não para agitar fantasmas, racistas, de um passado não muito distante que levou a uma catástrofe. Jamais esquecida.
Manuela Fonseca *
* Colaboradora do barreiroweb.com
4 Responses to "Merkel, os Pepinos e a Insegurança"
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