O engodo dos tempos

O engodo dos tempos

Para apanhar peixe, o pescador engoda o anzol com disfarçado isco para atrair o pescado que enganado na armadilha fica, sendo presa à mercê do mareante.

Na vida dos homens há uma espécie de pescador que de palavreado isca a rede que lança sobre o cardume popular que corre atrás do engodo das promessas nunca concretizadas.

Embarcados num navio neoliberal prestes a afundar, poucos podem sobreviver, os que alcançarem uma bóia de salvação podem ficar numa ilha onde tudo rareia.

O sistema procura entreter-nos com crises, e fogos-fátuos da economia, e na esteira prometem sairmos do pesadelo desde que aceitemos tempos severos.

Uma minoria abastada provida de capitais amontoados, por via disso, possuidora de poderes excepcionais, considera-se com direito a regular as sociedades por inerência de tais poderes.

Subtraem ao Povo do trabalho as ferramentas económicas e insinuam que apenas têm direito à vida os que, no julgamento sumário dos donos do mundo, mais contribuíram para o lucro e menos ganharam com o trabalho.

São tantos os massacrados com os quais estão a edificar uma comunidade global em vias de extinção, semeando promessas que disfarçam as ruínas da sociedade.

Filas imensas de desempregados esperam que o Jogo da sorte na chegada ao guiché do Fundo do Desemprego lhe saia um emprego entre os milhares que a ele acorrem.

A exploração é um ignóbil rumo social, mas a ausência de emprego nos moldes da monstruosa inutilidade, como que estando a mais, que não faz falta, faz do homem um ser supérfluo e insignificante. Este binómio serve o ignóbil controlo do valor do trabalho, mais do que o desempregado tem o empregado, por isso sem direito a protesto insinuam!

Discursos direccionados para grupos enfraquecidos, pensionistas, desempregados ou em trabalho precário, reduzida capacidade crítica e de falhada lucidez de certos grupos sociais que tudo consentem na forma de mutismo, receptores da esperança perpétua que viabilizam o seu próprio degredo social.

Seduzidos por um enredo de políticas artificiais são ludibriados e convencidos de que dias claros se avizinham mesmo que cada vez mais denso o nevoeiro se apresente.

O desempregado não é apenas vítima no interior do país é também objecto de uma lógica planetária que arrasa como maremoto, suprimindo o emprego por onde passa.

E os Governos da Europa, moldados por este esquema fantasma, anunciam a eficácia económica e protectora da coesão social.

Tiram-nos os instrumentos económicos, deixam-nos despidos de valor e depois insinuam que é preciso merecer para se ter direito a viver.

Para edificarem a estátua desta sociedade em vias de extinção, montaram sobre ela quiméricas promessas, massacrando povos do mundo global, tão rico que a todos dava para que a vida simples sem carências fosse viável.

As manigâncias financeiras económicas servem para prolongar jogos de poder e suportar hierarquias ultrapassadas e substituídas por outras de mais sofisticadas manobras.

 Esquema com resquícios cada vez mais visíveis do império doutrinário e autoritário gerido por fantasmas que se escondem em parte inserta do Planeta.

Por experiência sabemos que o abuso do Poder sempre latente no homem se enovela na pacatez popular e se aglomera à volta de promessas ocas.

Forças coercivas, subjacentes à violência psicológica, tão eficazes que parte delas passa despercebida e reprimem sem necessidade de se manifestarem, actuam indetectáveis.

Os discursos que analisam os problemas do trabalho, do desemprego, apenas tratam do lucro base e matriz que não mencionam mas propagam sob a forma de pudica criação de riqueza que beneficia, dizem propagandistas televisivos, toda a espécie humana e proporciona emprego, é só esperar o seu desenvolvimento, pelo que seria um malogro desfazer as riquezas acumuladas.

Por fim fazem apelo à caridade para tapar a fome nos dias santificados. É uma afronta ao direito à vida e ao direito de viver, tique religioso que oculta as causas que propagam a existência da fome e as desigualdades das verdadeiras razões.

Acordai! Cantava o Coro de Lopes Graça! Metáfora de aplicação evidente a um Povo adormecido!

Carlos Alberto (Carló)

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