O PAÍS DA CRISE OU A CRISE DO PAÍS?

O PAÍS DA CRISE OU A CRISE DO PAÍS?

Todos os dias somos bombardeados com notícias mais ou menos dramáticas quanto à situação económica ou financeira que Portugal atravessa.

Que gastamos 5 vezes mais do que cobramos em impostos; que a nossa produtividade é muito baixa; que os trabalhadores das empresas públicas têm muitos rendimentos e regalias e por isso as empresas estão em situação económica difícil; que os funcionários públicos ganham muito e consomem os recursos financeiros do Estado; que os pobres levam o dinheiro que é de todos porque teimam em não trabalhar; que os pobres dos patrões, pessoas muito honestas e trabalhadoras de sol a sol, já não sabem o que hão-de fazer para lidar com os malandros dos trabalhadores, porque estes estão sempre em greves e não querem trabalhar; enfim, um rol infindável de notícias e contra notícias.

Algumas, de tão ridículas que são, só me provocam um leve sorriso. Sim, porque de tão exageradamente ridículas já nem conseguem fazer rir, apenas despertam um leve sorriso de ironia.

Ironia porque cada vez que ouço, sinto que me estão a chamar “burra” e dá-me vontade de dizer aquela frase dos Brasileiros que acho engraçada: “meu ouvido não é penico”.

Pois não, não é! Mas as notícias indiciam que ou eles acham que é, ou então acham mesmo que eu sou burra!

Tudo isto para chegar à conclusão de que, digam o que disserem, ainda ninguém me conseguiu explicar como é que tamanha austeridade vai criar empregos e dinamizar a economia nacional.

Segundo julgo saber, se as empresas vão poder despedir os trabalhadores a custo zero e sem justa causa, como é que estes trabalhadores desempregados, passam a constituir uma massa anónima de empregados? Será que os postos de trabalhos que ficaram vagos por estes despedimentos vão ser ocupados por trabalhadores desempregados, que voltam às mesmas empresas, mas agora pagos pelo Estado?

Desculpem, mas não consigo compreender como é que se criam empregos com esta formula.

Quando muito, esta formula só servirá para o Estado poder fornecer mão-de-obra gratuita às empresas que, no mês anterior, tenham despedido os seus trabalhadores mais antigos.

Por outro lado, anunciam-se mais insolvências do que aquelas 13 (média diária) actualmente ocorrem.

Ora, se este número vai disparar, como é que estas insolventes vão pagar IRC? Ou IVA? Ou Derrama? Como?

Dir-me-ão: em tempo de crise, só sobrevivem os bons. Ok, que sobrevivam os “melhores”. Mas como é que esses vão pagar impostos? É que se não houver consumo, se os trabalhadores desempregados ou colocados nas empresas a receberem subsídio de desemprego, não comprarem, como é que os tais “bons” vão poder vender e ganhar dinheiro gerando lucros que possam ser tributados?

Se a Hotelaria tiver que encerrar portas, por causa do aumento do IVA, 70 mil trabalhadores ficarão no desemprego, a receber o respectivo subsídio porque para ele descontaram muitas anos e sem descontar IRS ou para a Segurança Social.

Certo, sem dúvida alguma mente iluminada conseguirá explicar como é que isto vai gerar mais receita fiscal. Se fecham, não pagam impostos. Se estão desempregados não pagam impostos.

Então onde é que o Estado Português vai buscar dinheiro para pagar a dívida Soberana?

Ah claro, há a sugestão do nosso Ilustre e Douto Professor, Presidente da República: consumir o produto nacional. Ah pois é Sr. Professor Presidente. Também concordo. É preciso produzir e consumir o que produzimos.

Vou é perguntar-lhe COMO?

Se bem me lembro, algures nos anos 80/90, fomos informados que não era preciso produzir.

Que a União Europeia nos fornecia tudo o que era necessário e a baixo preço de custo.

Então os nossos iluminados Governantes, disseram:

a)      Indústria de construção e reparação naval – Abate Existem Estaleiros melhores na U.E. não precisamos de fazer isso;

b)      Sector das Pescas: Abate e recebe subsidio de abate;

c)       Agricultura: Abate e recebe subsídio de abate;

d)      Agro-Pecuária: Abate e recebe subsídio. O leite que excede a quota da U.E., deita fora;

e)      Construção de Comboios: Abate e compra a Espanha, já usados, mas com a obrigação de serem todos reparados em Espanha; abatam-se também as oficinas de manutenção;

E assim, de abate em abate, chegámos ao deserto actual.

Vejamos se podemos começar a produzir e o quê.

Agricultura:  terrenos incultos há mais de 20 anos, até se tornarem produtivos morremos todos de fome. Além de que, só podemos produzir, colher e comercializar os produtos que a U.E. permite, pois estamos em plena política agrícola comum.

Pescas: O mesmo problema. Não há barcos e o dinheiro recebido do abate já há muito se foi, para além de que é preciso respeitar as quotas europeias, e com o combustível ao preço que está o peixe atingiria o preço do ouro.

Agro-Pecuária: Os custos das explorações, ultrapassam em muito o preço de venda ao público da carne e do leite. Com a energia cara, o combustível para o transporte e os custos com o abate do gado, este sector, não tem capacidade para sobreviver, pois a U.E. continua a colocar no mercado nacional os mesmos produtos mais baratos.

Construção de comboios ou barcos ou reparação, absolutamente fora de questão: nem a Espanha nem a Alemanha aceitariam tal situação.

Este é o retrato do nosso País. Pergunto eu: Fui eu e outros como eu quem conduziu Portugal a esta situação?

Eu penso que não. Mas o poder político responde que sim. Que foram os Portugueses quem conduziu a esta situação, pois vivemos muito acima das nossas possibilidades, pedimos muitos créditos, vivemos num luxo asiático, e isso é incomportável.

Ora, quando ouço este argumento ainda fico mais perplexa. É que, se o salário médio nacional é de 1.000,00 euros por pessoa (para não me referir à miséria do salário mínimo), se uma família com dois contribuintes (é assim que o fisco nos classifica), obtêm um rendimento mensal de 2.000,00 euros, se tiver que pagar: 400,00 de renda de casa; 400,00 de infantário; (2 filhos), 100,00 de água, luz e gáz; 85,00 de transportes públicos (2 passes sociais, partindo do princípio que as crianças não possuem passe ainda);  tem como despesas fixas: 985,00 euros.

Assim sendo, restam-lhe para alimentação, calçado, vestuário, taxas moderadoras das consultas do pediatra das crianças, 1.015,00 euros.

1.015 euros a dividir por 4 dá: 253,75 euros per capita/mensalmente.

Sim Sr. Professor/Presidente, isto sim, é viver “à grande e à francesa”!

De facto, é inegável que esta família média levou o País à ruína actual!

Haja vergonha, meus Senhores e respeito pelo Povo.

Não queiram imputar responsabilidades aos inocentes para desviarem a atenção das vossas próprias responsabilidades.

Dulce Reis

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