O desemprego não é só um problemas com consequências sociais dramáticas mas também tem elevados custos económicos para o país, que é normalmente esquecido quando se aborda a problemática do desemprego, como mostro no estudo que envio.
De acordo com os dados do INE, a destruição do emprego em Portugal no 4º Trimestre de 2011 intensificou-se relativamente ao verificado no trimestre anterior, como consequência do agravamento da politica de austeridade recessiva, a qual está a empurarrar Portugal para uma recessão económica mais profunda do que a prevista pelo governo e pela “troika”. Os dados do INE também revelam que destruição da actividade produtiva no país acelerou-se, pois os sectores mais atingidos pela destruição do emprego foram a agricultura e a industria transformadora.
DESTRUIÇÃO DO EMPREGO E AUMENTO DO DESEMPREGO INTENSIFICOU-SE COM ESTE GOVERNO, E EM 2011 PORTUGAL PERDEU 37.108 MILHÕES € DE RIQUEZA DEVIDO AO DESEMPREGO
RESUMO DESTE ESTUDO
A destruição do emprego aumentou muito no último trimestre de 2011, como consequência do agravamento da politica de austeridade recessiva, o que é um indicador claro que a recessão económica está a ser mais profunda do que a prevista pelo governo, pela “troika estrangeira” e pelos seus defensores. No 3º Trim.2011 foram destruídos em Portugal, em média, 437 empregos por dia, enquanto no 4º Trim.2011 o número de empregos destruídos diariamente aumentou para 1.314, ou seja, mais que triplicou. Como consequência, o desemprego oficial disparou tendo atingido, no 4º trimestre de 2011, 771.000, e o desemprego efectivo 1.160.700 portugueses, o que corresponde a uma taxa efectiva de desemprego de 20,3% (a taxa oficial é de 14%). A diferença entre o desemprego oficial e o desemprego efectivo é determinada pelo facto de existirem centenas de milhares de trabalhadores desempregados que não são incluídos no número oficial de desempregados, ou porque não procuraram emprego no período em que foi feito o inquérito ou por terem realizado pequenos biscates. No 4º Trimestre de 2011 eram, segundo o INE, 389,7 mil.
Apenas uma parte reduzida dos desempregados é que está a receber subsídio de desemprego. Segundo a Segurança Social, em Dezembro de 2011, estavam a receber subsídio de desemprego somente 317 mil desempregados, o que correspondia a 41,1% do desemprego oficial, e apenas a 27,3% do desemprego total efectivo. Portanto somente 27 em cada 100 desempregados recebiam subsídio de desemprego. No entanto, o governo PSD/CDS e a “troika estrangeira” ainda consideram que o número de desempregados a receber subsídio de desemprego é excessivo. A prová-lo está o facto do governo ter aprovado uma alteração à lei do subsídio desemprego, que reduz significativamente o período a que o desempregado tem direito a receber subsídio de desemprego. Apesar do desemprego de longa duração estar a aumentar em Portugal de uma forma rápida (entre o 1º Trim2011 e o 4º Trim.2011 subiu em 23,6%) a alteração feita na lei do subsídio de desemprego pelo governo PSD/CDS reduz em um ano a duração do período a que estes trabalhadores têm direito a receber subsidio de desemprego, como referimos já em estudo anterior. É evidente que a conjugação destes dois factos – aumento rápido do desemprego de longa duração e redução do período a que o desempregado tem direito a receber subsídio – empurrará para a miséria mais milhares de famílias portuguesas. E isto quando, segundo o INE, já mais de 37% dos portugueses que vivem no limiar da pobreza tem como origem o desemprego. E mesmo estes 37% são-no depois das transferências sociais, que inclui o subsidio de desemprego, portanto se mais desempregados perderem o direito ao subsidio de desemprego, como é o objectivo do governo e da “troika estrangeira”, o numero de portugueses no limiar da pobreza aumentará significativamente.
O problema do desemprego não é apenas um problema social grave. Ele tem também elevados custos económicos que normalmente são esquecidos quando se aborda a problemática do desemprego. E isto porque contribui para o endividamento do país, para a insustentabilidade da divida externa, e para o atraso de Portugal. Se multiplicarmos o valor do PIB que foi produzido em média por cada trabalhador empregado em 2011 (35.279€) pelo número médio de desempregados em 2011, obtém-se 37.107,9 milhões €, que corresponde a cerca de 21,7% do valor do PIB de 2011. Este valor dá uma ideia do montante de riqueza perdida (não produzida) em Portugal, no ano passado, devido ao desemprego. É uma outra consequência grave do desemprego. E tudo isto quando o país precisa tanto de aumentar a riqueza que produz para pagar o que deve ao estrangeiro e para melhorar nível de vida da sua população que é um dos mais baixos da U.E.
Os dados divulgados pelo INE sobre a evolução do emprego e desemprego em 2011, também mostram que a desindustrialização do pais, está a levar ao seu empobrecimento, continua de uma forma acelerada. Os sectores da actividade em que tem havido maior destruição de emprego são fundamentalmente os sectores produtivos. Entre o 1º Trimestre de 2011 e o 4º Trimestre de 2011, o emprego na agricultura diminuiu em 34.900 e, nas indústrias transformadoras, em 31.200 o que representa 50,6% de todo o emprego destruído neste período que atingiu 130.600 postos de trabalho. E isto apesar do emprego nestes dois sectores representar apenas 26% do emprego total. É evidente que a continuar com a actual politica, como o governo PSD/CDS e a “troika estrangeira” pretendem, Portugal sofrerá um grande retrocesso económico e social. É urgente repensar toda a estratégia seguida de forma que não haja consolidação orçamental sem crescimento económico, o que obriga a aproveitar os recursos que o pais possui, e um dos principais e mais importantes recursos são os seus trabalhadores, o que pressupõe que se abandone uma politica, para agradar e tranquilizar os credores, assente exclusivamente na redução abrupta do défice orçamental sem olhar às consequências. Esta politica de austeridade recessiva está a destruir a economia portuguesa, o que determinará que, inclusive, o pagamento da divida externa será certamente também posto em causa, como aconteceu na Grécia.
Eugénio Rosa
Economista
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