CRÓNICA PÚBLICA, OPINIÃO PRIVADA – A um “Passos” do buraco !

CRÓNICA PÚBLICA, OPINIÃO PRIVADA – A um “Passos” do buraco !

[ Sobre a Manifestação de 15 de Outubro]

   O que uma iniciativa teve de organização e disciplina, transpirando convicção e confiança na luta de massas, a outra teve de irreverência e criatividade, mostrando insubmissão e muita desesperança.

   Referimo-nos é claro, à grande manifestação da CGTP de 1 de Outubro, e à dos “Indignados” do dia 15 p.p.

   Mais uma vez fomos às duas, porque:

                “ Este País não é para novos…

                  …  nem para velhos ! ”

   Ao contrário do que aconteceu em  Março  deste ano, a manifestação da CGTP desta vez foi maior, 130 mil participantes que encheram a Avenida da Liberdade. Mas à manif. da indignação também foi muita gente,  mais de 50 mil, que lotaram a praça de S. Bento.

   Como em 12 de Março, era uma amálgama de gente e de ideias, unidos pelo protesto contra as medidas que golpeiam profundamente as camadas médias e baixas da população. Sobretudo gente jovem. mas também havia muitos cabelos brancos. Claro , não estava a direita que em Março aproveitou para “empurrar” o governo de Sócrates!

   Alegre e irreverente, um numeroso grupo de jovens com trajes circenses, fazia algazarra com tambores de plástico e “reques-reques” feitos de garrafas de plástico com pedrinhas dentro, entoando:

                  “ Fora, fora,

                     Fora daqui !

                     É fome, é miséria o FMI !”

   Outros, mais bem (in)formados e menos barulhentos, iam mais a fundo na questão, sem todavia porem (ainda!) em causa o sistema capitalista:

                  “ 1961, começa a Guerra colonial.

                               50 anos depois…

                                início da Guerra Global!”

    Outro slogan, em mãos mais maduras, sugeria um caminho de luta que a organização viria a adoptar na resolução final da “Assembleia Popular”:

                  “ Tira-me o Natal,

                 dou-te a Greve Geral !”

   A palavra de ordem mais elaborada, era amiúde gritada da tribuna e repetida por um coro convicto:

                “ Grécia, Espanha,

                   Irlanda, Portugal,

                   a nossa luta

                   é internacional !”

   Um momento de tensão! Assobios, muitos braços no ar, uma corrida frenética de dezenas de repórteres sedentos de “casos”, gritos de “Fascistas! Fascistas!”

   Num canto ajardinado da escadaria do Palácio de S. Bento, um “mal disposto” é levado em braços para a ambulância, um pequeno grupo aproveita a “boleia” e quebra o cordão (mínimo…) policial. Terá havido então uma detenção e mais apupos e gritos de fascistas!

   Quando vimos um grupo da Polícia de Intervenção a correr do lado esquerdo do Palácio pensámos, tremendo por dentro : “Já está! Vai começar a borrasca!”

   Ao nosso lado grita-se, e o coro alarga-se : “Portugal! Portugal!”, “O povo unido jamais será vencido!”.

   Em imagens rápidas passam pelo “filme da memória”, as cenas de pancadaria selvática da GNR no Parque do Barreiro, da Polícia de Choque no Rossio ( nos 1º de Maio, quando Abril tardava!), da dita na escadaria da Reitoria e na Alameda da Universidade , em tempos de ditadura terrorista!

   Os policias de intervenção ( duas dezenas, não mais!) fazem uma fila no cimo das escadas. Centenas de manifestantes ocupam então a escadaria e grita-se: “Vitória! Vitória”, “Portugal! Portugal!”. Cá em baixo responde-se novamente : “O povo unido jamais será vencido!”

   Os policias não vieram para bater. Eles sabem que esse era o seu papel no regime fascista, não hoje! O protesto é justo, todos temos razão de queixa!

   Um “espontâneo” grita ao microfone : “Vamos ocupar a Assembleia!”. Retiram-lhe o instrumento de agitação gratuita. Também há provocadores entre a malta.

   Mas foi uma cena do caraças, lá isso foi!

   Faz-se noite! Um crepúsculo vermelho e luminoso refulge breve entre as árvores da Avenida D. Carlos, na Travessa do Merca – Tudo, na Rua do Poço dos Negros. É hora de regressar à outra margem e à nossa condição.

18/10/2011

 Armando Teixeira

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