Leviathan ou do alegado “Estado a mais” e da necessidade de campanhas de ódio

Leviathan ou do alegado “Estado a mais” e da necessidade de campanhas de ódio

O estilo foi inaugurado por Sócrates com o “combate aos lobbies e às corporações” através da diabolização dos magistrados, professores e outros corpos profissionais do Estado e ficou claro que se traduziu numa cortina de fumo, miserável e demagógica, para deixar incólumes os verdadeiros “lobbies” e as verdadeiras e poderosas corporações dos grandes interesses, que se conseguem até dar muito bem com este género de “socialistas”. Agora é Passos que o retoma, não pela voz do “prior”, mas por interpostos e ruidosos acólitos dos tais que andam há três décadas a vociferar contra o “Estado Social” e os seus “privilégios” e “regalias”, enquanto se locupletam com as grandes negociatas promovidas em torno do tal Estado que juram execrar.

Parece que em Portugal nenhum conjunto de medidas que afectem interesses e expectativas, pode ser tomado, mesmo no limite do estado da mais ingente necessidade, sem que seja acompanhado de um “fogo de barragem” propagandístico que se traduz por autênticas campanhas de ódio, através da instigação à cizânia e da velha técnica do “dividir para reinar”.

Até quando abusarão estes politiqueiros da nossa paciência?!

Vamos a factos:

Se é certo que o Sector Estatal (não lhe chamo Público porque na verdade o não é, uma vez que não serve a todos com equidade e está capturado por interesses privados em “coutadas” de vária ordem) – o tal baptizado de “Monstro” por quem mais o fez alimentar – tem vindo a “engordar” desde antes do 25 de Abril e se, no essencial, tem servido para o enriquecimento ilegítimo de uns poucos, é também certo que têm vindo a sobrar as “migalhas” para muitos, compensando numa espécie de “direito por linhas tortas”, a míngua e as assimetrias que caracterizam, desde tempos imemoriais, esta ditosa Pátria.

O “Álvaro” (é assim que Álvaro Santos Pereira, Ministro da Economia e mais de uma mão cheia de coisas, diz gostar de ser chamado) até escreveu uma pequena obra (claro que os livros, como os homens, não se medem aos palmos, mas este livrinho fica-se, em geral, por uma forma engraçada de dizer um conjunto de banalidades. Bem pouco, por sinal, para fazer um Ministro) a que intitulou “Os Mitos da Economia Portuguesa” e em que se esqueceu de incluir um “Mito”: o de que existem em Portugal “iniciativa privada” e “sociedade civil”.

Já para não falar na opinião dos romanos de que “não se governam, nem deixam governar”, desde D. Afonso Henriques que assim é, passando por D. João II, pelo Marquês de Pombal e por Salazar, mesmo nos mais altos momentos da nossa História, quer no sentido progressivo, quer no retrógrado, tudo tem sido feito à sombra tutelar do Estado que vai funcionando como grande “padrinho” de uma sociedade clientelar de contornos entre uma “Camorra” sonsa e um “Hamas” laicizado. Existe, assim, montada uma tal teia de interesses intercruzados que tem constituído uma espécie de rede de sobrevivência (quase) garantida para comensais de todas as categorias de rendimentos e condições sociais. Como que um sistema de “welfare state” informal baseado no “direito por linhas tortas” e que tem por principais mecanismos o nepotismo, a “cunha” e o compadrio, numa dimensão tão avantajada que se tornou num autêntico cimento social e acaba por, em maior ou menor grau, tocar a todos (toda a gente tem um primo que esteve na tropa com o cunhado de uma vizinha, que tinha uma tia, que por sua vez…).

Claro que nisto estamos muito bem acompanhados e este “modus vivendi”, bem como o “modus operandi” que lhe corresponde é igualmente o substrato “cultural” de países como a Grécia, a Espanha e a Itália em que predomina um certo “modo de estar na vida” muito ligado ao “desenrasca”, o que quer dizer que primeiro foi preciso estar habituado a “grandecíssimas” e recorrentes “enrascadas”.

Por estas e por outras chegámos, cantando e rindo, a uma situação em que o Leviathan se foi agigantando, desde órgãos e organismos que só servem para se servir, até Cursos que não lembram ao diabo, curricula disciplinares inenarráveis, formações que nada formam, “empresas” que nada produzem, negócios que nada acrescentam, como os dos merceeiros-mores do Reino que só promovem, através do estímulo ao consumismo, o endividamento das famílias e do país, pois praticamente tudo o que de vultuoso vendem é importado.

Mas o mais engraçado é que quem fez o mal e hipotecou Portugal aos interesses dos Bancos e das traficâncias de toda a ordem, desmantelando toda estrutura produtiva autóctone, possa com toda a “lata” vir agora com lérias acerca da “Produção Nacional”.

É como se quem fez o mal, pudesse, agora, fazer a caramunha.

António José Carvalho Ferreira

http://marxnops.blogspot.com/

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