Os Caminhos de Ferro do Sul e Sueste constituíram-se mediante concessões sucessivas sem subordinação a um plano metódico. Disso se ressentiram as suas instalações terminais.
Foi primeiro concedida em 1854 a linha de l m,44 do Barreiro a Vendas Novas e a Setúbal. Em 1860 concedeu-se o prolongamento de Vendas Novas a Évora e Beja com a via de Im,õ7 e subvenção quilométrica. Em 1864 acrescentaram-se à concessão os prolongamentos de Beja a Faro e à Fronteira de Sueste por Quitos e de Évora por Exteremoz à linha do Leste com subvenção.
Planta geral das novas oficinas mostrando a sua distribuição
A — Serralharia- B — Máqumas-ferramentas. C – Montagem de locomotivas, D — Fundição. E – Ferraria. F — Caldadeiria. G — Soldadores.H — Material circulante. I – Oficina de rodas. J — Serração de toros. K — Pintura. L — Estofadores. l — Armazém de moldes. 2 – Lavadores.3— Posto de transformação. 4 — Casa de compressão, a – Pontes rolantes, b – Transportadores aéreos.
Entretanto o Governo resgatava e explorava por sua conta as linhas do Barreiro a Vendas Novas e Setúbal, que mais tarde entregava pelo contrato de 1864 à Companhia do Sueste mediante quantia determinada e obrigando a Companhia ao alargamento da via desses troços para l m,67.
Em 1805 novo contrato que substituiu a subvenção quilométrica por garantia de receita bruta mediante restituição das subvenções recebidas. Este contrato foi rescindido por falta de pagamento dos reembolsos combinados e em 1869 tomou o Estado posse das linhas e procedeu à construção dos prolongamentos.
A esse tempo já uma portaria de 1864 declarara que a linha de Évora não seria prolongada para dentro da zona de protecção de 40 quilómetros da linha de Leste e assim parou nas proximidades de Extremoz.
A empresa de 1854 construirá no Barreiro uma estação terminal sem ligação com a margem.
O contrato de 1864 impunha à Companhia do
Sueste a obrigação de construir em Lisboa uma estação de passageiros e mercadorias e fazer as obras precisas para cómodo embarque e desembarque de passageiros na margem Sul.
A administração subsequente do Estado construiu o terrapleno da estação do Barreiro com edifício para passageiros junto do canal para os vapores e transformou a antiga estação em oficinas gerais, aproveitando a gare coberta para oficina de grande reparação.
Decorreram os anos, sucedendo-se os planos técnicos e financeiros subordinados ao arrendamento das linhas que nunca se chegou a efectuar.
Prolongou-se a linha a Faro. Melhoraram-se um pouco as instalações do Barreiro e a estação fluvial provisória do Terreiro do Paço.
A lei de 1899 instituiu novo regime administrativo com relativa autonomia e criou o fundo especial para base de operações financeiras com o fito de construir novas linhas e melhorar as existentes.
Caldeirinha Montagem Máquinas Ferramentas |
Corte transversal das oficinas de locomotivas e do material circulante
Até Dezembro de 1910 deu-se vigoroso impulso às construções e melhoramentos, em que não foram esquecidas as oficinas. Havia-se construído em 18Q3 uma doca para reparação de vapores. Dez anos depois instalou-se a central eléctrica e uma nova oficina de carpintaria.
Havia-se instalado também um compressor de ar, para o trabalho mecânico pelo ar comprimido.
As oficinas, foram notavelmente melhoradas sob a zelosa direcção do distinto engenheiro Luiz de Orey.
Após 1910 a maior extensão das linhas exigia a ampliação das oficinas gerais.
Foram elaborados diversos planos: um, que as desdobrava construindo novas instalações noutro local, outro, que melhorava e ampliava no próprio local as existentes. Foi preferido o segundo e encarregada a casa Armstrong de elaborar o projecto de transformação das oficinas. Chegou-se a acordar nos termos de um contrato, quando sobreveio a chacina de 19 de Outubro de 1921 com a consequente mudança de governo e da Administração dos C. F. E.. Foi posto de parte o projecto de contrato Armstrong, abriu-se concurso e fez-se com a casa Beardemore nas condições mais escandalosas, um contrato de fornecimento de material e direcção de construção das novas oficinas no local das antigas.
Essa construção foi logo abandonada e o material permaneceu durante largos em depósito a ocasionar avultadas despesas de conservação. Sucediam-se os planos para o seu aproveitamento, dividiam-se as opiniões acerca do local para novas oficinas, até que o actual Ministro das Obras Públicas, o sr. engenheiro Duarte Pacheco, interveio com decisão e cortou o nó górdio, resolvendo cjue o material fosse aproveitado no próprio local das oficinas actuais e que à obra se procedesse com a maior rapidez sob a direcção de uma comissão técnica composta dos engenheiros Júlio Santos e Ernesto Rocha, da Direcção Geral de Caminhos de Ferro, Francisco Mendia, da C. P. e o inspector de tracção, Almeida.
A obra foi executada por empreitada e não está longe de conclusão.
As novas oficinas formam dois grupos, um com 182mx30m e o outro com 198mx80m, somando 20.800 metros quadrados.
A ossatura metálica é destinada a servir de apoio a 2 pontes rolantes de 6 toneladas, na oficina de material circulante e a 7 pontes na de locomotivas, sendo 2 da força de 50 toneladas cada uma, 2 de 20 t., 2 de 10 t. e l de 5 toneladas.
As paredes são de tijolo e por incrível aberração do trajecto primitivo são de chapa ondulada, assim como a cobertura, acima da cota de 2,40.
Há no tecto as superfícies necessárias para iluminação, com chapa de vidro. Além das duas grandes oficinas há dois pavimentos de aproveitamento de instalações, sendo um de rodas com 45mx22 = 999 mq com 2 pontes rolantes de 4 t. e o de serração de toros com 48,5mxlO = 485 mq e l ponte rolante de 2 toneladas.
Por esta planta se vê como ficam relacionadas as diferentes oficinas.
Os cortes que inserimos mostram as pontes rolantes para elevação e transporte de locomotivas e veículos. Como se podem conjugar duas a duas é possível manobrar com um peso de 100 toneladas, superior ao da maior locomotiva. Os armazéns gerais ficam ligados às oficinas por um transportador aéreo de 2 toneladas. Um transportador igual liga a oficina de reparação do material fluvial à doca.
É digno de menção especial o novo edifício do balneário e refeitório.
No primeiro há 6 tinas e numerosos compartimentos para 46 banhos de chuveiro com água quente e fria. As retretes, tanto naquele edifício como noutros locais são instaladas nas melhores condições higiénicas. O refeitório é uma bela instalação ampla, asseada, cheia de luz, tendo ao lado um refeitório pequeno para contra-mestres e a cozinha com disposições para aquecer as comidas, ou para cozinhar e fornecer refeições quentes a preço módico.
Todas as oficinas serão movidas por electricidade com a disposição precisa para o aproveitamento de corrente da central ou de corrente que venha de fora, quando houver distribuição geral de energia na região.
Todo o trabalho tem sido executado com extraordinária rapidez e perfeição o que honra o respectivo empreiteiro e o pessoal técnico encarregado da direcção e fiscalização.
Refeitório e balneário
Pelo Eng.° J. FERNANDO DE SOUSA
In Gazeta dos Caminhos de Ferro
no Ano de 1934
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