«ESTOU IMPRESSIONADA COM O PROGRAMA E COM ESTA OFICINA» disse Pilar del Rio, Presidenta da Fundação José Saramago
O Auditório da Escola Secundária de Santo André (ESSA) foi o palco escolhido para o arranque do Projecto “Oficina Saramago” – ciclo de celebração do escritor e do cidadão. A Conferência de Abertura «O meu compromisso é com o meu tempo» (…) o tempo das mulheres, responsáveis por importantes mudanças na sociedade actual teve lugar na tarde de 28 de Novembro e reuniu um vasto conjunto de instituições, entidades e representantes de todos os agrupamentos e escolas do Concelho do Barreiro.
A Conferência foi proferida por Pilar del Rio, Presidenta da Fundação José Saramago que, desde logo, se manifestou impressionada com o Programa apresentado que inclui, como destaques, a realização de um total de seis conferências. Para este ano, ainda está prevista a Conferência «Narração, maravilhoso, trágico e sagrado em Memorial do Convento», a 10 de Dezembro, pelas 17h00, no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro, com o Mestre Miguel Real, escritor. Para 2012, estão agendadas: (29 de Fevereiro) Professora Dra. Suzana Ventura, da Universidade deSão Paulo; (Março) Professora Dra. Ana Paula Laborinho, Presidente do InstitutoCamões; (1 de Junho) Professora Dra. Graciete Besse, da Universidade Sorbonne e, a 16 de Novembro, a conferência de encerramento com a Professora Dra. Maria Alzira Seixo.
Dos grandes objectivos do Projecto salientam-se o propósito de dar a conhecer a vida e obra de José Saramago, a importância dos seus temas de escrita e da sua estética, bem como as grandes causas que dominaram as suas intervenções como cidadão e escritor, e a criação de oficinas de Leitura e Escrita José Saramago, fomentando a reflexão e a criação estética a partir das suas obras, criando dinâmicas de desenvolvimento cultural e de autonomia crítica. No âmbito deste Projecto a um ano – novembro de 2011 a novembro de 2012 – prevista está, também, a reedição da brochura “O Sabor da Palavra Liberdade” de José Saramago, editada pela Câmara Municipal do Barreiro, em 1992, a par da criação de uma colecção “Oficina Saramago”, a editar de dois em dois anos, com o formato de revista electrónica. A apresentação deste Projecto e dos parceiros envolvidos (46 até ao momento) pode ser consultada, na íntegra, em www.cm-barreiro.pt.
Na mesa de abertura desta Conferência estiveram os quatro representantes da comissão coordenadora do Projecto, a saber, Arlete Cruz, Presidente do Conselho Executivo da ESSA, Pedro Canário, Presidente da Cooperativa Cultural Popular Barreirense (CCPB), Rui Garcia, Vice-Presidente da Câmara Municipal da Moita e Carlos Humberto de Carvalho, Presidente da Câmara Municipal do Barreiro (CMB).
Arlete Cruz expressou o imenso prazer que sentia por, em nome da ESSA, dar as boas vindas a Pilar del Rio “por poder partilhar connosco a obra e a vida do grande português, cidadão, poeta e escritor José Saramago”. Agradecendo a presença de todos os envolvidos nesta Oficina disse, ser sua certeza, o facto de que “sairemos daqui todos mais enriquecidos”.
Usando da palavra, Pedro Canário, da CCPB, agradeceu a todos os que com ele partilhavam a mesa e, em particular, à Fundação José Saramago, na pessoa de Pilar del Rio. Em seguida, partilhou com os presentes um texto, da sua autoria, sobre o Nobel da Literatura do qual se destacam algumas ideias-força:
«Saramago. Retenho imagens do dia em que fui pela primeira vez à escola…sabia que ia aprender a ler e a escrever! Tinha pouca familiaridade com as letras, não frequentei nenhum jardim-de-infância, mas intuía alguns dos seus poderes mágicos, através das estórias, dos poemas e das letras das canções infantis contadas pela minha mãe. A mente de uma criança é povoada de sonhos, de sentimentos, de emoções e, a pouco e pouco, a troco de um ralho ou de uma carícia se instalam valores que nunca nos abandonam ao longo da vida. (…) Depois as letras quase que por magia começaram a alinhar-se segundo regras (…) mas a vida começou a mostrar-nos que havia letras e letras, ou seja, que alguma diferença existe, por exemplo, entre o A de amizade e o de abuso; entre o E de esperança e o de exploração. (…) Há pois que escolher as letras, elas conduzem a muitas palavras, mas nem todas deveriam constar no vocabulário dos Homens. (…) Hoje celebramos pois, um S, o S de Saramago. (…) Saramago tem o S do sonho que sonhou até ao fim da vida como ninguém, e, no meu modo de ver, sempre com os pés no chão.
Solidário, corajosamente Solidário, este é um dos S’s de Saramago, tal como o do Sacrifício de uma vida dedicada ao Sonho da liberdade e da dignidade humana. (…).
Na sua intervenção, o Vice-Presidente da Câmara Municipal da Moita valorizou a existência deste Projecto até porque, disse, entendemos que é oportuno e necessário e concretizou vivemos tempos em que é preciso recordar e pensar Saramago nas suas diversas vertentes. Enquanto cidadão e homem irreverente que interveio e questionou sempre, teimosamente. Rui Garcia, acrescentou, a terminar, que “esta é uma lição que necessita de ser aprendida por todos, os mais novos e os menos jovens, pois todos temos alguma tendência a cair no conformismo. Aprendamos com Saramago, e aproveitemos este ano que vai decorrer para tomarmos nas nossas mãos o nosso destino”.
Carlos Humberto de Carvalho, Presidente da CMB, afirmou que “trazer Saramago ao Barreiro… Partilhar Saramago… Saborear as suas palavras e reviver momentos inesquecíveis é, estou certo disso, um privilégio para todos”. Desta forma, e enfatizando os valores diversificados que esta iniciativa reúne, fez questão de salientar que o valor maior e mais significativo deste projecto reside, precisamente, “no homem que dá origem à iniciativa – José Saramago!” Isto porque, na sua opinião, Saramago ajuda-nos a entender a necessidade de construir um mundo novo, e o Barreiro, terra de intervenção, combate e luta é, certamente, mais um palco, um palco adequado para a realização deste ciclo de celebração do escritor, do cidadão, do intelectual. A terminar deixou uma saudação especial a “todos aqueles que se vão empenhar na construção deste caminho de cultura e de história, de intelectualidade genuína, dos que intervêm, dos que reflectem e fazem coisas construindo quotidianamente a sua vida, a vida de todos nós, e um mundo melhor”.
Segue, na íntegra, a intervenção do Presidente Carlos Humberto de Carvalho.
Coube a Pilar del Rio proferir a conferência de abertura deste Projecto. Neste contexto, a Presidenta (como faz questão de ser tratada) da Fundação José Saramago não teve dúvidas em afirmar que a forma como Saramago nos convoca está relacionada com o facto de ser um grande escritor mas acima de tudo, um grande cidadão e um grande intelectual. Aliás, disse estar certa de que existem tão grandes escritores como ele, mas não há cidadãos nem intelectuais que tivessem visto, sentido e contextualizado o mundo como ele.
Certa de que as personagens femininas da vasta obra de Saramago falam por ele, e que ela, Pilar, nunca há-de escrever sobre Saramago, fez distribuir pela audiência, que lotava o Auditório da ESSA, uma comunicação que nessa manhã, tinha produzido especialmente para esta conferência. (consulte documento em www.cm-barreiro.pt)
Depois de lido o documento, Pilar partilhou, com mais detalhe, algumas das obras do Nobel da Literatura e fez referencia ao facto de ele “Saramago, escrever, sobretudo, para compreender”.
A respeito de «Clarabóia» livro recentemente editado, a Presidenta da Fundação disse que “os personagens femininos são tão fortes que (à época) assustaram a ditadura”.
SER MULHER PARA SARAMAGO
Para ajudar a audiência a entender o significado do tema desta conferência de abertura «O meu compromisso é com o meu tempo» (…) o tempo das mulheres, responsáveis por importantes mudanças na sociedade actual Pilar del Rio confidenciou que as qualidades de uma mulher em Saramago eram, por esta ordem, a Paciência, a Capacidade de Observação, a Generosidade e a Entrega.
Enfatizando que, também para ela, a Mulher é fonte inesgotável de esperança e é feita da matéria que são feitos os sonhos, Pilar del Rio assegurou que “atravessamos uma crise económica e moral sem precedentes”. Neste sentido, deixou o repto de que talvez se as mulheres colocarem os pés fortemente assentes na terra, talvez…seja possível inverter o sentido das coisas.
Com a actuação da Camerata Musical do Barreiro, que escolheu um alinhamento repleto de simbolismo para Pilar em homenagem a José Saramago, foi encerrada a Conferência de Abertura do Projecto a um ano “Oficina Saramago”.
CMB 2011-11-30
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