O Mentiroso e o Coxo

O Mentiroso e o Coxo

Um provérbio antigo, como todos os provérbios e por isso politicamente incorrecto, reza que “é mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo”. Hoje já não há nem “mentirosos” nem “coxos” (o meu avô, por exemplo, era “maneta”), haverá quando muito uns sujeitos que dizem umas “inverdades” e uns “portadores de deficiência motora”.

É claro que com isto não estou a equiparar moralmente uns e outros, estou apenas a revelar que a eufemização da linguagem é que os equipara, ainda que alegue sempre pretender o contrário.

José Sócrates declarou que “é uma ideia de criança que as dívidas dos países sejam para pagar. Elas são para gerir”. E neste caso, atabalhoadamente é certo, disse a verdade. Mas como um mentiroso, ainda que eventualmente diga a verdade, nunca abandona essa condição – as suas declarações prestaram-se a ser “saco de boxe” e nisto o actual Primeiro-ministro teve alguma decência, deixando o odioso por “Portas e travessas”. Provando-se o também velho aforismo de que em “pulhítica” não há gratidão, foi Freitas do Amaral, que se a memória não me falha se demitiu do cargo que Portas hoje ocupa por causa das “dores nas costas”, que o veio “crucificar” na praça pública. Merecia a resposta que Mário Soares deu a Basílio Horta, outro trânsfuga do CDS, na campanha para as Presidenciais de 91 quando este, tendo aceitado o democrático encargo de ser “boneco de palha” e como lhe faltasse argumento, decidiu atacar acusando o “despesismo” das viagens de Estado do então Presidente:

– Ai é?! Pois fique sabendo que nunca mais o levo! Respondeu a “velha raposa”.

Ora, sendo verdade que as dívidas (pouco)soberanas são para gerir, não é menos verdade que só é soberano quem não tem dívidas e ainda mais que os seis anos da “brincadeira de crianças” que foi o consulado de Sócrates, a deixaram “ingerível”.

Quem te manda “mentiroso” quereres voltar a ser apenas “coxo”?!

António José Carvalho Ferreira

 

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