“Todos os escritores são diferentes de todos os escritores mas Saramago é mais diferente do que os outros”, defendeu o escritor e ensaísta Miguel Real no final da Conferência “O Legado Literário de José Saramago”, proferida na tarde do passado sábado, 10 de Dezembro, no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro.
A prelecção do escritor e ensaísta, no Barreiro, inseriu-se no Projecto “Oficina Saramago” – ciclo de celebração do escritor e do cidadão, lançado por um conjunto de parceiros com as câmaras municipais do Barreiro e da Moita, Cooperativa Cultural Popular Barreirense e Escola Secundária de Santo André (ESSA) a integrarem a Comissão Coordenadora.
“Para ser escritor, José Saramago nunca deixou de ser um intelectual empenhado, um escritor de ideias”. A prova é, justamente, defendeu Miguel Real na conclusão da Conferência, “que todos os seus livros obedecem a um conjunto, pequeno, de ideias – às vezes, até, só uma grande ideia – que ele ilustra transformando o romance, quase, numa espécie de grande alegoria do mundo”. Em A Caverna, numa alusão a Platão, “as imagens são ilusões que nos conduzem, nos cegam e nos levam a labirintos sociais como o que está a acontecer hoje”, concretizou.
“É um intelectual como eram os antigos intelectuais”. “São escritores que não estão só a escrever, publicando um livro por ano e recebendo direitos de autor, mas encaram a sua escrita como um contributo cívico para a história do País”, disse, lembrando os nomes de Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça, Ferreira de Castro, Alves Redol, Almeida Garrett e Alexandre Herculano”.
“É hoje um privilégio visitar a obra de Saramago com Miguel Real”, reconheceu a professora de língua portuguesa da Escola Secundária de Casquilhos, Esmeralda Lopes, que abriu e moderou a sessão.
Miguel Real é licenciado em filosofia e mestre em estudos portugueses. Professor de filosofia no Ensino Secundário, lançou várias obras (drama, ficção e ensaio). Foi distinguido com os prémios Revelação nas Áreas da Ficção e do Ensino Literário da Associação Portuguesa de Escritores, Ler/Círculo de Leitores e Fernando Namora da Sociedade Estoril Sol.
Em 1980 surpreendeu meio mundo
Em 1982 surpreendeu o mundo inteiro
“Em 1980 [Saramago] surpreendeu meio mundo com Levantado do Chão”. “Em 1982 surpreendeu o mundo inteiro com Memorial do Convento”. A partir do Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) começou a escrever para mundo inteiro, sublinhou o escritor e ensaísta durante a Conferência.
Mais do que evidenciar uma ideia, Saramago evidenciava “uma fatia de vida”, “um pedaço de uma sociedade”, disse.
“Qualquer grande escritor é tudo de todas as maneiras e Saramago é tudo de todas as maneiras”, concluiu.
Próxima Conferência: 29 de Fevereiro de 2012 com Suzana Ventura, da Universidade de São Paulo
A próxima Conferência – a terceira – no âmbito do Projecto “Oficina Saramago” está marcada para 29 de Fevereiro de 2012. A convidada será Suzana Ventura, da Universidade de São Paulo.
A Vice-Presidente da Cooperativa Cultural Popular Barreirense (CCPB), Carla Marina Santos, e a professora da Escola Secundária de Santo André, Fátima Correia, apresentaram no início da sessão os contornos do projecto, que, conforme sublinhou a Vice-Presidente da CCPB, “em rede”, “interdisciplinar”, “interescolar”, “interconcelhio” e “intergeracional”.
A professora da Escola Secundária de Santo André lançou as restantes conferências, agendadas para Março – com Ana Paula Laborinho, Presidente do Instituto Camões –, 1 de Junho – Graciete Besse, da Universidade Sorbonne – e 16 de Novembro – Conferência de encerramento com Maria Alzira Seixo.
Abertura e encerramento da sessão, perante um Auditório da Biblioteca preenchido, estiveram a cargo do CorUTIB – Coro da Universidade da Terceira Idade do Barreiro.
CMB 2011-12-12
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