A Câmara Municipal do Barreiro (CMB) inaugurou na noite da passada sexta-feira, 10 de fevereiro, nas Reservas Museológicas Visitáveis da CMB, uma exposição evocativa do 110º Aniversário do Nascimento de Manuel Cabanas. Na sessão foi visionado um documentário – a passar, em permanência, até 31 de março, data em que termina a mostra –, após o que decorreu uma palestra, transformada em tertúlia, moderada pelo Vereador da CMB com a área da Administração Geral e Patrimonial, Carlos Moreira, com a presença de António Cabós Gonçalves, ao qual se juntou, durante a sessão, António João Sardinha.
Manuel Cabanas, algarvio de nascença (11 de Fevereiro de 1902) que se tornou barreirense por adoção, era mestre na arte da xilogravura. Reproduziu figuras conhecidas e imagens familiares. Nas Reservas Museológicas, situadas no Parque Industrial da Baía do Tejo, Rua 11, Armazém 117, encontram-se em exibição 29 das suas estampas – entre elas o Políptico dos Painéis de S. Vicente (seis estampas). O Documentário, de 2002, com cerca de sete minutos de duração, a correr em continuum, é da autoria de Miguel de Sousa, Jorge Morais e Octávio Ribeiro. O espaço, com entrada livre, tem portas abertas até 31 de março, segunda-feira, das 14h30 às 17h00, e de terça a sexta-feira, das 9h30 às 12h00 e das 14h30 às 17h00.
O vídeo sobre a vida e obra do mestre deu o mote para o resto da noite de conversa – realizada no espaço de exposição –, proporcionando a partilha de histórias várias sobre a vida do xilogravador com quem alguns dos presentes conviveram/privaram.
Referência de cidadania
Manuel dos Santos Cabanas foi, para Cabós Gonçalves, “provavelmente a [sua] primeira referência de cidadania”. O convidado recordou expressões, posturas, gestos e hábitos do artista. “À medida que ia fazendo os trabalhos interrompia para contar histórias”, lembrou.
“Cabanas viveu para servir e não para ser servido”. Cabós Gonçalves sublinhou o contributo de Cabanas em tornar a arte acessível – identificando mais tarde na sessão como “democratização cultural”. “Cabanas tinha da cultura a visão de que ou era apropriada pelo povo ou não existia”. “Valorizava muito a vida e valorizava as pessoas”, complementou.
“Cento e dez anos depois do seu nascimento, o Cabanas está mais atual que nunca”. Cabós Gonçalves recordou momentos difíceis de outros tempos: cada vez que havia ameaças, era incomodado.
Marcou o Barreiro pela solidariedade
António João Sardinha, presente na sessão, foi convidado a juntar-se ao desfiar de memórias. Antes, para enriquecer a conversa, o Vereador da Câmara Municipal do Barreiro responsável Administração Geral e Patrimonial leu um texto de Manuela Fonseca.
António Sardinha falou de Manuel Cabanas como um dos dois homens – a par de Padre Abílio Mendes – que marcaram o Barreiro pela sua solidariedade. E relatou, também ele, diversos momentos de convivência com o Mestre, alguns episódios que o marcaram na sua vida, lembrando que ajudou muitos perseguidos a passar a fronteira clandestina.
“Manuel Cabanas, para mim está vivo porque é recordado”, afirmou. “A melhor estátua [homenagem] que lhe fazemos é, de facto, o nosso testemunho poder chegar a todos”.
“As janelas do Manuel Cabanas [da sua casa no Barreiro], sempre que o tempo o permitia estavam abertas… escancaradas. Lá dentro víamos os livros”, recordou António Sardinha, uma característica do Mestre.
“Cabanas era basicamente um republicano”, “foi um excelente exemplo de trabalho, resistência e luta”, avançou Cabós Gonçalves, recordando momentos difíceis de pressão, barulhos estranhos, de jipes e cavalos.
Conversas mais importantes do que ler um livro
Cabós Gonçalves ofereceu à CMB uma zincogravura de uma xilogravura de Cabanas, que faleceu a 25 de Maio de 1995. Agradecendo a oferta, Carlos Moreira encerrou a sessão reiterando as palavras de António Sardinha: “Estas conversas são mais importantes para muitos de nós do que ler um livro”.
Manuel dos Santos Cabanas foi homenageado, em 1983, com o Galardão “Barreiro Reconhecido”, na Área de Artes e Letras. Em 1996, foi, a Título Póstumo, Medalha de Honra Cidadão Honorário.
Em 2002, por iniciativa da CMB, recorde-se, teve lugar a Comemoração do Centenário do Nascimento do Mestre Manuel Cabanas, que deu lugar a uma exposição sobre a sua obra artística, onde estiveram representados os espólios que, por doação, couberam aos municípios do Barreiro e de Vila Real de Santo António, e muitos dos exemplares em posse de coleções privadas.
Organização da exposição
Esta exposição tem por base os materiais parte do espólio que Manuel Cabanas doou à CMB em 6 de Abril de 1974, a que atribuiu a designação de “Aspetos e Figuras Barreirenses” (estampas, xilogravuras e livros).
A mostra está organizada em três momentos:
1. Apresentação de 29 estampas, entre as quais o Políptico dos Painéis de S. Vicente, com seis estampas
2. Três vitrinas com:
2.1 Barreiro Contemporâneo, vol. II, de Armando Silva Pais, aberto no capítulo que aborda a xilogravura e Manuel Cabanas.
Catálogos de exposições promovidas pela CMB: Xilogravura Manuel dos Santos Cabanas (Biblioteca Municipal, em 1987), Manuel Cabanas, centenário do nascimento 1902-2002 (Galeria Municipal).
Catálogo de exposição promovida pelo Museu da República de Resistência, baseada na exposição Manuel Cabanas, centenário do nascimento 1902-2002.
2.2 Mostra de livros cujas capas, em pele, têm rostos dos seus autores em xilogravura. E, ainda, várias xilogravuras de escritores: Bocage, Alves Redol, Eça de Queirós, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, etc.
As letras capitulares que realizou.
2.3 Mostra de parte da coleção de xilogravura a nível das personalidades, dos aspetos do Barreiro, e um autorretrato.
Personalidade: Máximo Gorki, Conselheiro Augusto Gomes de Araújo, Dª Francisca Gomes de Araújo, Irene Lisboa, Kira, etc.
Aspetos do Barreiro: Os Moinhos de Alburrica, A fachada do Asilo D. Pedro V, Torre do Relógio da Igreja de Nª Sraª do Rosário e da Igreja de Santa Cruz, dos antigos Paços do Concelho e dos atuais.
3. Documentário dedicado à vida e obra do Mestre, da autoria de Miguel de Sousa, Jorge Morais e Octávio Ribeiro realizado em 2002.
CMB 2012-02-14
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