PELOS 150 ANOS DE EXISTÊNCIA DA “LINHA DO SADO”

Apreciação da Comissão de Utentes da “Linha do Sado” sobre os problemas que envolvem a Linha e a actividade da Comissão nos doze anos da sua existência.

Em 1998, o comboio da “Linha do Sado”, composto por uma máquina a diesel com três carruagens, com mais de 20 anos de serviço, apresentava-se demasiado desgastado, do que resultava haver janelas e portas exteriores que não funcionavam e que no Inverno entrasse água da chuva, provocando mau estar e, inclusivamente, constipações.  

Esta situação era agravada por constantes atrasos dos comboios, com os prejuízos que tais situações acarretavam para quem tinha que se apresentar a horas ao emprego ou a situações de grande interesse pessoal ou de interesse colectivo.

A Linha simples entre Pinhal Novo e Praias do Sado não oferecia condições para a sua necessária modernização.  

A este panorama do transporte ferroviário juntava-se a ameaça da parte do Governo de então de que o futuro da Linha do Sado não iria além do percurso entre Barreiro/Setúbal, o que significava deixar de servir as escolas do Politécnico, a povoação e as empresas de Praias do Sado.

Foi diante desta situação, de um comboio que já não estava em condições de prestar o serviço que lhe era exigido e perante a ameaça de no próximo futuro deixar de servir as populações e os agentes económicos dos concelhos abrangidos pela Linha, que levou em Setembro de 1998 à criação de um Grupo de Utentes na recolha de assinaturas para o Abaixo-assinado que deu corpo ao MOVIMENTO por Melhores Comboios na “Linha do Sado”.

Tínhamos a consciência de ter pela frente uma situação que iria exigir muito trabalho e acção, mas com a clara perspectiva de que a luta acabaria por sair vitoriosa uma vez que tínhamos o grande apoio dos utentes e das autarquias e o facto de que a reivindicação base com que foi iniciada a acção ter sido já apresentada pela Associação dos Municípios de Setúbal em 1997/98.

Assim, o Abaixo-assinado continha as seguintes exigências:

– Linha dupla entre Barreiro/Quebedo e a sua electrificação;

– Material circulante em condições;

– Aumento do número de comboios diários e diminuição do seu tempo de marcha.

Em fins de 1998, pelo elevado número de assinaturas recolhidas e pelo apoio manifestado pelos utentes, o Grupo de Utentes actuou para a criação da Comissão de Utentes a ser eleita da forma mais democrática e aberta possível através da distribuição de uma tarjeta convidando os utentes a comparecerem dia 3 de Novembro, às 18 horas, junto ao apeadeiro do Quebedo para se proceder à eleição da Comissão de Utentes da “Linha do Sado”, com idêntico convite aos estudantes do Politécnico e à Comunicação Social. Como reforço informativo, a colocação de um grande painel no local da eleição. Apresentada a lista com os candidatos propostos e solicitado outros nomes aos presentes, a Comissão foi eleita por unanimidade.

A eleição da Comissão deu lugar a um longo caminho de intensa actividade na informação aos utentes e à Comunicação Social, na solicitação de audiências à CP, REFER, USGL, Grupos parlamentares da Assembleia da República, às Autarquias e ao Governo Civil, a quem foi entregue o Abaixo-assinado com 6374 assinaturas.

De início, três grandes questões se nos colocaram a exigir solução:

– A ameaça da Linha do Sado terminar o seu percurso na estação de Setúbal, cortando com isso a passagem por Setúbal do comboio regional para o Algarve;

– A exigência do reconhecimento pela Tutela da necessidade da continuidade da “Linha do Sado”, servindo inclusivamente de passagem para o Algarve, o que implicava a existência de linha dupla entre Pinhal Novo / Setúbal, a introdução do comboio eléctrico e, ao mesmo tempo, a imposição da substituição do velho comboio por material circulante adequado às exigências do nosso tempo.

A introdução das UTD.s – Unidades Triplas a Diesel em 1999, composições com maior poder de mobilidade, mais rápidas, com maior comodidade e em melhores condições de cumprimento dos horários,-representou a primeira e importante conquista dos utentes da “Linha do Sado”.

A estas três principais reivindicações referidas colocadas a partir de Setembro de 1998, a que posteriormente muitas outras se seguiram como as que estão ligadas à manutenção do material circulante, aos horários, às ameaças de privatização e, particularmente ao cumprimento das promessas da parte do Ministério da Tutela, da CP e da REFER, quase sempre com o nítido objectivo de passar tempo e vir a colocar sem efeito a grande exigência referente ao comboio eléctrico, como um facto consumado.

A partir de 1999, forçado o Ministro da Tutela a aceitar a continuidade da Linha do Sado e a necessidade da sua modernização com a introdução de comboio eléctrico a funcionar em linha dupla em todo o seu trajecto, a grande batalha assentou, como não podia deixar de ser, na defesa do cumprimento das promessas pelo mais alto representante do Governo, o Ministro das Obras Públicas Transportes e Comunicações feita em 30/09/1999 na Estação de Setúbal a quando da inauguração das UTD,s.

Esta tornou-se a batalha permanente, com a Tutela, a CP e a REFER a colocarem constantemente dúvidas e novas datas e, inclusivamente, a virem a público a colocar ser necessário proceder a novos estudos; que o comboio ficaria apenas entre o Barreiro e Pinhal Novo, o que obrigaria os utentes a transbordo, com acrescidas dificuldades na saída e entrada noutro comboio e perda de tempo.

Toda a acção na luta pelo comboio eléctrico, ligado à exigência de solução de situações colaterais surgidas, levou a Comissão de Utentes a uma dupla actividade para a informação aos utentes, a contactos e reuniões com as estruturas ligadas aos problemas da Linha do Sado, que levaram à realização de grandes plenários no Pinhal Novo e no Barreiro em Maio de 1999. Foram estes plenários, pelo apoio e confiança que nos transmitiram, que nos levaram ao envio de reclamações assinadas por várias estruturas à Tutela, à CP, à REFER, à USGL e aos Grupos Parlamentares e que permitiram a concretização de acções de tipo superior como foram as concentrações com a retenção do comboio das 17,46 h. no dia 02/06/2000 no Pinhal Novo e a sua repetição em Setembro do mesmo ano aos comboios das 17,29 no Quebedo, das 17,46 no Pinhal Novo e das 18,08 na Estação do Barreiro-A.

Foi pela acção de luta pronta com o apoio dos utentes e a participação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, da Sub-Comissão de Trabalhadores Ferroviários da “Linha do Sado”, da Comissão de Utentes Rodo-Ferro-Fluvial do Barreiro, das Autarquias e dos Grupos Parlamentares do Partido Comunista Português e Partido Ecologista os Verdes (, os únicos que se dispuseram a apoiar a Comissão de Utentes da “Linha do Sado”, após as reuniões efectuadas com todos os Grupos Parlamentares que tiveram lugar na Assembleia da República), que permitiram a realização da reunião alargada na Junta de Freguesia do Sado em Fevereiro de 2006, a convite do deputado do PCP eleito no Parlamento Europeu, Pedro Guerreiro.

Foi desta reunião, com a participação das Câmaras Municipais do Barreiro, da Moita, de Palmela e de Setúbal; das Juntas de Freguesia do Sado e de Palmela; do Conselho Directivo do Instituto Politécnico de Setúbal; da Associação de Estudantes deste complexo do ensino superior; da Comissão de Utentes da Linha do Sado e do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, que saiu a exigência de colocar ao Ministro da Tutela para receber uma delegação afim de lhe expor a preocupação existente sobre a situação na Linha do Sado.

A partir de 2002, as ameaças da parte da CP e da REFER de que o comboio passaria a circular somente entre o Barreiro e Pinhal Novo, o que levaria ao transbordo de passageiros nesta estação, levou a Comissão de Utentes, a par de activar a sua acção contra esta ameaça, como a denunciar e a combater a nítida intenção de privatização das linhas suburbanas da Área Metropolitana de Lisboa, em que a privatização da Linha do Sado seria o início do processo.

Esta ameaça e tentativa de privatização da parte do Governo tem-se confirmado e por vezes se acentuado, sendo hoje visível o propósito de entrega da exploração destas linhas a grandes grupos financeiros, a quem lhes é assegurado chorudas verbas como “compensação e incentivo”. Como se tem verificado com a FERTAGUS.

Nesta luta em defesa da “Linha do Sado” como um transporte público servido pela CP para servir as populações e o desenvolvimento económico da região, a Comissão de Utentes saúda a apoio e a acção dos utentes, das Autarquias, da Sub-Comissão dos Trabalhadores Ferroviários da “Linha do Sado”, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário e dos Grupos Parlamentares do Partido Comunista Português e Partido Ecologista Os Verdes, sempre os únicos que responderam ao apoio da Comissão, numa acção reivindicativa que tem sido difícil mas que nos batemos por um melhoramento que é necessário ganhar.

Ao longo de mais de doze anos de luta, em acções diversificadas e constantes, foram obtidas importantes conquistas que importa salientar, a saber:

A derrota da Tutela/CP das tentativas de liquidação da “Linha do Sado”,em que a vencedora foi a acção pela sua continuidade;

Conseguida a introdução das UTD.s como alternativa ao velho comboio das conhecidas “carruagens vermelhas”;

Obtido o reconhecimento da existência do comboio eléctrico em toda a extensão da Linha, o que implicou a construção de via dupla entre Pinhal Novo/Setúbal, a sua beneficiação e criação de acessibilidades, incluindo a criação de parques de estacionamento de viaturas gratuitos junto de quase todas as estações e apeadeiros do seu percurso;

Conseguida a criação de uma passagem desnivelada pedonal e de um apeadeiro para servir os estudantes do Instituto Politécnico de Setúbal e a povoação de Praias do Sado;

Obtido o aumento do número de comboios diários e a existência de novos horários, o que significa uma melhor resposta à crescente afluência de passageiros;

Que o comboio Regional Inter-cidades para o Algarve voltasse ao trajecto anterior (Barreiro/Faro/Barreiro), embora passado um ano este comboio fosse retirado, prejudicando com isso as populações que se serviram deste transporte;

Que durante certo tempo a CP cedesse que os utentes com bilhete de tranvia pudessem viajar no Inter-cidades entre Barreiro/Setúbal;

Que a manutenção dos elevadores tenha melhorado, embora seja ainda deficiente, dado a sua dupla função que é servir os utentes e as respectivas populações ao longo da Linha.

Isto representa importantes obtenções, que são conquistas, e nos mostram que pela luta, com o apoio de todos os interessados é possível levar a Tutela e a CP a atender aos interesses das populações e ao desenvolvimento económico da região.

A Comissão de Utentes da “Linha do Sado”, pelo seu papel e acção em defesa de melhores comboios, pelo conhecimento dos problemas, que sendo do interesse das populações devem ser também da CP e do Estado, não pode deixar de ser considerado como um interlocutor que nos parece merecer ser ouvido pela CP e as estruturas que lhes estão ligadas, como é o caso da REFER.

E, independentemente do juízo que a CP e a Tutela possam fazer, a Comissão de Utentes, enquanto for merecedora do apoio dos utentes, dos trabalhadores ferroviários e das autarquias, a sua acção, que até aqui tem sido considerada necessária, certamente que continuarão..

1 de Fevereiro de 2011

P’A Comissão de Utentes da “Linha do Sado”

 

One Response to "PELOS 150 ANOS DE EXISTÊNCIA DA “LINHA DO SADO”"

  1. Pingback: Tweets that mention PELOS 150 ANOS DE EXISTÊNCIA DA “LINHA DO SADO” | barreiroweb.com -- Topsy.com

You must be logged in to post a comment Login