Demasiado tarde
Amo-te muito, pai! É tão estranho
Que me apareça agora na memória
As palavras que nunca te disse, pai.
Essa espécie de distância, mas tão perto,
Não me dava alento e à-vontade
Para te dizer palavras tão simples
E que estiveram vezes sem conta
Entaladas entre o coração e a boca.
E não me lembro de tas ter dito, pai.
Pior do que isso, pai,
É sentir não to ter demonstrado
Com a força suficiente
Para que tu acreditasses.
O facto de me teres ensinado a tratar-te por você
Parece ter criado uma barreira intransponível
Que eu não soube compreender
Ser apenas uma forma de respeito mútuo
E que não devia esconder-me atrás dele
Para dizer-te mil vezes como te amava.
Julgava que esse não era muito o teu estilo.
Hoje, tenho a certeza que errei.
E como tu precisavas que eu to tivesse dito.
Desculpa, pai.
Ofereço-te as palavras da minha punição tardia:
“O esquecido beijo, enquanto vivo,
Não mo venhas dar depois de morto.”
E tenho medo, pai, um medo enorme
Que os meus filhos me possam fazer o mesmo.
É que a história, às vezes, repete-se …
Fernando Tavares Marques
You must be logged in to post a comment Login