Da Ferrovia à TTT 150 Anos de vida

Da Ferrovia à TTT 150 Anos de vida

Neste ano de 2011 completa-se a sexta geração ferroviária no Barreiro. 150 anos que os ferroviários percorrem a via da luta por melhores condições de vida operária e social.

Os ferroviários ganharam poder reivindicativo e usaram-no, entretanto no esvoaçar das reflexões, dando conta do que mudou, do que se transformou no tempo de corrida pelo progresso, na teia da confusão do que é real em desordem de valores, aves de rapina insaciáveis abocanham quase tudo.

A Europa perde-se numa encruzilhada de opções liberais e Portugal neste emaranhado político, direita, centro e esquerda nebulosa, afasta-se do rumo social certo.

À sociedade portuguesa semi-democratizada impõem-lhe medidas iguais para problemas desiguais. Infligem-lhe sacrifícios inversamente proporcionais às vítimas do costume.

E o povo olha pacífico a deriva democrática que desvanece o país milenário de altos e baixos ao sabor de ondas políticas guiadas por visão estrábica com desvio acentuado à direita. A história nos ensina que o Povo sempre soube ultrapassar o panorama do ziguezague social que, em vários momentos da vida colectiva, enfrentara. Os ferroviários neste século e meio deram um forte impulso no combate às políticas desajustadas com a realidade social. Os sucessivos governos impuseram à sociedade portuguesa, ao longo das seis gerações de trabalhadores ferroviários, restrições umas sobre outras.

Os seguidores da trupe de comandos aplaudem a “eloquente” laracha dos poderosos, por motivos semelhantes ao que leva alguns funcionários a rir da piada sem graça do chefe ou do patrão, o medo das consequências promove a subserviência.

Os reflexos do sistema, na marcha atrás que o país tem vindo a fazer, são visíveis. Donos desta doutrina por aí vão medrando, fazedores de opinião também não faltam, homens que sobem aos poderes rastejando, passando a divinos mestres da época, enxameiam as elites. Assim se valorizam uns quantos, desvalorizando a multidão em discórdia permanente quanto à fórmula política. Do povo só a canga do trabalho mal remunerado e a soma dos seus votos tem valor.

Na justiça portuguesa uma espécie de “ Mãos Limpas” para certo patamar de privilegiados, dogma do passado, permanece em marcha no presente. Os resultados nesta democracia privada, onde a corrupção percorre todos os sectores, pautam-se pelo controlo absoluto dos negócios privados e do Estado, girando pela banca fraudulenta. A comunicação social bem ajuda a que cada vez mais peritos na perversão do sistema se instalem de pedra e cal. Os jornais nacionais, canais de televisão, “máscaras de Portugal”, dão uma mão comprida a este esquema que mantêm, com a ditadura das audiências pela trela, os espectadores atentos!

Está na ordem do dia a réplica da luta dos ferroviários ao longo destes 150 anos. O Caminho-de-ferro chegara ao Barreiro em 1861. Foi a grande porta de entrada do desenvolvimento da Terra barreirense. Por ela entrou a indústria corticeira e pouco depois a indústria química que tornaria a Vila piscatória a mais operária da Península Ibérica.

O crescimento e a qualidade de vida com a concentração operária foram visíveis depois da implantação da República mas, de pouca duração. A instabilidade política na I República desiludira os operários esperançados no progresso social prometido que chegara a conta gotas.

150 anos da ferrovia, de início para Vendas Novas e Setúbal, aos dias de hoje com a promessa da Terceira Travessia do Tejo. No meio destes dois extremos, pela sua importância, os caminhos-de-ferro tornaram-se um dos principais factores de desenvolvimento do Barreiro e motor da industrialização da Vila, favorecendo a urbanização que cresceu imparável, relegando o Barreiro dos Camarros para a história da idade média. As lutas operárias não chegaram para construir a sociedade justa nem impedira a deriva dos poderes corruptos. Contudo enormes transformações se processaram, todos à custa da imolação de trabalhadores entregues à batalha desigual mas sem recuos.

Os ferroviários portugueses organizados desde 1903 tomam impulso com a implantação da República em lutas de classe, exigindo a implementação de antigas reivindicações, em especial melhores condições salariais e das actividades laborais.

Em 1911 a greve geral por melhores vencimentos toma força nacional. Em 1918 toda a classe ferroviária se levanta contra a carestia da vida que afectava noventa por cento da população portuguesa. A repressão feroz fez muitas vítimas. O poder de luta dos ferroviários, frente à repressão do Estado desgastando o poder absoluto, obtêm maior fervor reivindicativo com a criação do Sindicato do Pessoal dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste em 1921. Porquê, depois de 150 anos, voltarmos em muitos aspectos à estaca zero? Que povo é este que em casa e na rua protesta, com o sentimento de que cada um dos subalternos portugueses, homens e mulheres, sofre com as macabras decisões de governos e nas urnas os elege! O protesto, sem conteúdo forte na eleição democrática que impeça devaneios ditatoriais, não resolve só por si as crises políticas, sociais ou económicas.

A memória não pode ser tão frágil, a menos que a alzheimer colectiva afecte todos os que esquecidos dos maus tratos votem contra si. Dar o voto àqueles que já provaram governar contra os interesses do extracto populacional que mais necessita e mais contribui para o desenvolvimento do país é como atirar pedras a si próprio. O Povo cego com promessas eleitorais embarca nas caravelas embandeiradas que se dispersam pouco depois pelo mar político alterado, resultando em sacrifícios para os de sempre mais frágeis, e talvez por isso sejam os que menos aprendem com a vida de revés.

As crises são réplicas de mau governo e maus governantes, mas também de maus eleitores. Portugal teve e tem das melhores cabeças pensantes na ciência, na medicina, na engenharia, na cultura, no desporto, na literatura, mas na arte de governar, o desastre levado a cabo pelos carolas do poder governamental e patronal é constante.

A luta ferroviária, iniciada no século dezanove até à incógnita TTT no século vinte e um, percorre seis gerações do Povo português. Está nas mãos dele o volte face. Que não se espere regeneração na classe que chegara ao poder há três décadas. O combate político do Povo sacrificado é não só importante como essencial. O discernimento no acto eleitoral pode afastar os algozes do poder.

CalosAlberto (Carló)
 

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