João Carlos Pereira, apresenta livro “Jazigo com vista para o mar”

João Carlos Pereira, apresenta livro “Jazigo com vista para o mar”

cartazDados Biográficos

João Carlos Lopes Pereira nasceu em Lisboa, em 1942. Atravessando a vida de forma inconformada e inquieta, de muito cedo utilizou a palavra para exprimir o seu desconforto, a sua ânsia de plenitude, a sua incapacidade para aceitar o que está.
Por não gostar de rótulos ou de títulos, não se diz poeta, apesar dos prémios que desde muito novo foi coleccionando – e nem mesmo a conquista de alguns prémios nacionais de poesia (Sebastião da Gama, Guerra Junqueiro e Bocage) o convencem do contrário. Também não se diz escritor, apesar da muita prosa que por aí tem espalhada (contos, crónicas, ensaios), tal como não se disse jornalista, apesar de, durante seis anos, ter dirigido um jornal regional, o Outra Banda, onde o seu inconformismo e a sua irreverência – a sua indignação perante uma sociedade em putrefacção – marcaram a linha editorial. E de igual modo recusou o título de dramaturgo quando publicou a peça A Mosca na Vidraça, inspirada no desmantelamento e morte da Siderurgia Nacional, empresa que viu nascer em meados do século passado.
Também não se diz político (que horror!), apesar de ter sido um autarca que imprimiu à sua gestão o cunho próprio de quem acha os milagres possíveis, tal como nunca se disse sindicalista enquanto o foi, antes e depois do 25 de Abril.
Na verdade, JCLP nada mais quer ser para além de um homem que, tendo os defeitos inerentes à espécie, acrescidos dos vários que são exclusivamente seus, jamais possa ser acusado de se ter vendido aos grande e pequenos senhores do universo. Aos donos das vidas dos outros homens.
Eis, resumido, o já de si breve autor do romance Jazigo com vista para o mar.

Sinopse

Paulo Coutinho é um espécime raro entre os políticos, um homem que não se deixa influenciar por interesses ou propostas obscuras e que acredita nos seus valores acima de qualquer ligação partidária. Mesmo sem ser um santo, Paulo é um homem de valor. Mas é também um homem atormentado, ainda a fazer o luto pela perda da mulher e da filha. A sua história é o ponto de partida para uma história que, entre avanços e recuos, percorre diferentes gerações para representar a forma como o mundo muda – e como, em muitos aspectos, tudo permanece igual.

De tudo o que este livro tem de cativante, importa, desde logo, referir a forma como aborda temas e questões que nunca foram tão actuais. Analisando as vidas e os percursos de ricos e de pobres, o autor constrói um retrato do país, em diferentes épocas, pelos traços das pessoas que o habitam. Constrói também uma análise muito apurada da realidade, sendo fácil reconhecer, quer em alguns acontecimentos, quer no comportamento de algumas personagens, sinais de tempos e personalidades muito próximos aos reais.

Também interessantes são as peculiaridades na estrutura do enredo. No início, a aparente mudança de protagonista para cada capítulo cria uma certa estranheza, ainda que os elos comuns e as peculiaridades de cada situação comecem já a despertar uma certa curiosidade. Mas é com o evoluir – e o aproximar – desta teia de histórias, que a verdadeira ligação se torna evidente. A impressão que fica, no final, é a de uma história coesa, no seu conjunto de personagens e das suas respectivas histórias individuais. Tudo está ligado, afinal, e o que, a princípio, parecia ser uma dispersão por diferentes elementos acaba por se revelar como um enredo complexo, mas em que tudo faz sentido.

Quanto à escrita, é fluída e agradável, com um interessante toque de poesia nos momentos certos. Também o ritmo da narrativa é cativante, mesmo sem ser compulsiva, já que os momentos mais divagativos, associados aos saltos na linha temporal e à mudança de personagens e situações, abranda um pouco o avanço do enredo. O resultado é uma leitura envolvente, com momentos particularmente marcantes e um registo que é, ao mesmo tempo, acessível e revelador de uma certa complexidade de pensamento

A soma de tudo isto é uma leitura cativante, com uma história surpreendente e rica em momentos marcantes, personagens fortes e, principalmente, uma reflexão muito bem conseguida relativamente a temas – e problemas – muito actuais. Uma boa surpresa, portanto, e um livro muito bom.

In: Carla Ribeiro – Blog «As Leituras do Corvo»

Jazigo com Vista para o Mar foi a obra vencedora do prémio Literário Florbela Espanca 2011.
A edição é da responsabilidade da Câmara Municipal de Vila Viçosa.

Esta Obra será apresentada, dia 22 de Junho de 2013, pelas 21h30, na sede da Cooperativa Cultural Popular Barreirense, na Rua Miguel Bombarda, 64 c, Barreiro, pelo jornalista/director do jornal Setúbal na rede e professor na escola superior de educação de Setúbal.

CCPB

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