Impacto crescente da economia social. No País e no Barreiro
As IPSS’s representam um milhar de postos de trabalho no Barreiro, movimentando cerca de 13 milhões de euros/ano. Perante a situação económica e financeira do País e do Barreiro”e “tendo em conta a dimensão que ele tem no Concelho”, a Vereadora responsável pela área da Intervenção Social da Câmara Municipal do Barreiro (CMB), Regina Janeiro, reconhece “o impacto crescente do terceiro sector da economia [depois do privado e do público] a nível local, regional e nacional”.
“Pode ajudar a minimizar algumas dificuldades que se atravessam”, reflectiu Regina Janeiro, no balanço do Encontro sobre Economia Social realizado na passada quinta-feira, 10 de Fevereiro, no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro, que contou com a presença, além da Vereadora e do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro (CMB), do Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Padre Lino Maia, o professor do ISCTE-IUL – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa, Rogério Roque Amaro, o Presidente da Caritas Nacional Portuguesa, Eugénio Fonseca, e o membro dos gabinetes de Estudos da CGTP e da Federação dos Sindicatos da Função Pública, Eugénio Rosa.
A valia dos convidados e uma sala repleta de interessados demonstraram, concluiu, “a importância do tema e necessidade de o reflectir e discutir”.
Interrogado sobre o seu papel
“Temo-nos interrogado bastas vezes sobre o papel deste terceiro pilar da economia”, afirmou o Presidente CMB na Abertura do Encontro.
“Estamos à espera de encontrar alguns caminhos de reflexão, pistas de trabalho, que nos possam ajudar a consolidar uma estratégia”, avançou o Carlos Humberto de Carvalho, reconhecendo o forte peso das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e associações na economia social, nomeadamente no que se refere a número de trabalhadores que movimentam. Por isso, admitiu, esta via também é um factor de desenvolvimento económico, de criação de riqueza e de emprego.
“Não vimos para este encontro com respostas mas com interrogações”, reforçou, reconhecendo, perante uma sala cheia com pessoas “que pensam e discutem” questões ligadas à temática, a necessidade de intervir em rede, de fortalecer o sector, rentabilizar meios.
4.500/5.000 pessoas apoiadas por IPSS’s do Concelho
De acordo com o Padre Lino Maia, com a apresentação intitulada “O Impacto do Sector Solidário na Economia Social”, no Concelho do Barreiro os mais de mil trabalhadores no sector solidário estão distribuídos por áreas tão diversas como a assistência à infância, juventude, idosos, ou pessoas com deficiência, e o apoio a ex-reclusos e ex-toxicodependentes.
No Concelho do Barreiro existem 25 IPSS’s, o que perfaz uma média de três instituições por freguesia. Estima-se que são directamente apoiadas pelas IPSS’s do Concelho 4.500/5.000 pessoas.
Em Portugal, a grande força da economia social, provém das IPSS’s, ou seja, instituições visando o bem dos outros e não de sócios, fundadores ou mútuos. “Quantas instituições não surgiram por este País fora exactamente por esta vontade de fazer o bem?”, questionou.
“É importante que as instituições estejam mais em comunhão”, afirmou, sublinhando palavras do Presidente da CMB, na Abertura.
“Que é um sector com virtualidade e com gente de bem, é inquestionável”, rematou sobre sector solidário.
Economia que exige relação humana
“A área do voluntariado é crucial para a economia social”, defendeu Eugénio Fonseca, Presidente da Caritas Nacional Portuguesa, na sua apresentação intitulada “O Voluntariado: um recurso para a Economia Social”. “É uma economia que exige a relação humana”, concretizou.
Como potencialidades da economia social, Eugénio Fonseca apontou as oportunidades à inclusão social, a possibilidade de uma nova relação com o Estado, o incitamento de uma nova visão sobre o direito e o estabelecimento de uma nova relação com o trabalho.
Como dificuldades da economia social reconheceu a “agressividade” da economia de mercado, a exigência de uma sociedade que valoriza a eficácia, reduzidos níveis de formação e pouca motivação associativa.
Social em resposta ao Mercado
“Trata-se de uma área em expansão: de aumento de reconhecimento político e académico”, afirmou o docente do ISCTE-IUL, Rogério Roque Amaro, na sua apresentação “Respostas da Economia Social e Solidária aos Problemas e Desafios do Mundo Actual e de Portugal em particular”, distinguindo os conceitos de economia social e solidária.
A economia social, explicou, resulta de uma resposta à de mercado, prefere o colectivo ao individual. Surge como uma “alternativa económica às falhas sociais da economia de mercado”.
Nos últimos 30 anos, registou-se uma grande renovação das ideias do conceito de economia social: a economia solidária surge como uma inovação.
Como tendência actual alertou para a “crise do estado de previdência cada vez mais retirando o seu apoio aos cidadãos”.
Como grandes problemas e desafios do mundo actual enumerou a necessidade de segurança económica e ética económica; o desemprego, pobreza e exclusão social; a “intolerância” e “arrogância” cultural (aceitação de diferenças); a iliteracia – incapacidade de, de forma crítica, digerir informação; e o risco de sistemas autoritários”. Por isso, disse, é “fundamental renovar a democracia”.
Papel vai aumentar
O papel da economia social vai aumentar, defendeu Eugénio Rosa, membro dos Gabinetes de Estudos da CGTP e da Federação dos Sindicatos da Função Pública em “O Contexto Económico e Social em Portugal e os Reflexos da Situação na Vida dos Portugueses”.
O economista falou da dívida externa e avançou: em Portugal gasta-se quase tanto na importação de produtos alimentares como em combustíveis. E pergunta: “por que uma parte não há-de ser produzida internamente?”.
As notícias que “parecem longínquas”, continuou, têm relação com o que está próximo. E alertou: o não investimento na produção obriga à importação.
A “economia social no futuro tem que ter um papel extremamente importante” no contexto económico do País, defendeu, desejando o aumento de articulação social.
CMB 2011-02-16
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