DA GUERRA NUNCA SE VOLTA: 1- O COLONIALISMO COM OS DIAS CONTADOS

DA GUERRA NUNCA SE VOLTA: 1- O COLONIALISMO COM OS DIAS CONTADOS

O  COLONIALISMO  COM  OS  DIAS  CONTADOS  (1º Capitulo)

“No discurso perante o IV Congresso da União Nacional, em 30 de Maio de 1956, Salazar dedicou grande espaço aos problemas coloniais e declarou que o Continente Africano, “era um  complemento natural da Europa, necessário à sua vida, à sua defesa, à sua subsistência”. Há muito que os salazaristas e os imperialistas mostram esta preocupação pelas colónias e particularmente pela África. Ao mesmo tempo que intensificam a exploração das suas riquezas, pretendem integrá-las nos seus planos de guerra e reprimir o desejo latente de libertação desses povos que dia a dia despertam para a luta (…) As tentativas para a reprimir de nada servirão. Quando um povo, mesmo enfraquecido pelo longo jugo colonial, decide lutar pela sua libertação, arrasa todos os obstáculos levantados à sua frente”.

É assim, de forma premonitória, que o “Avante!” de Junho de 1956, analisa a questão colonial portuguesa, sob o título: “ O Colonialismo tem os dias contados”.

Esta questão era desde há muito, uma verdadeira “pedra-de-toque” da política pura e dura do regime salazarista, escondida atrás de frases grandiloquentes como: “Portugal daquém e dalém mar”, “Pátria una e indivisível do Minho a Timor”, “Uma Nação, muitos povos”, etc.

Ainda no final da década de 40, quando da negociação do plano Marshall, Salazar afirmara, … “a África constitui para os países que a colonizaram uma tão vasta como legítima reserva, muito possivelmente a última que resta (à Europa) para que as sombras actuais não sejam, nesta velha parte do mundo – sede da verdadeira civilização – crepúsculo definitivo”. O ditador manhoso jogava as colónias e as suas imensas riquezas, cobiçadas pelos norte-americanos , como moeda de troca para as ajudas do “mal amado” amigo americano.

Na década de 50, no campo democrático, havia diferenças assinaláveis entre sectores vacilantes com posições próximas de compromissos neocolonialistas ( que a ala mais liberal do regime também perfilhava) e as posições mais firme e consequentemente elaboradas. Por volta de 1954, o MUD Juvenil expressou de forma clara o seu apoio ao princípio da autodeterminação e da escolha livre do próprio futuro pelos povos das colónias portuguesas, em iniciativas abertas e unitárias acompanhadas de inscrições murais em Lisboa, na Margem Sul e noutros pontos do País. Não era a primeira vez que o assunto era assim abordado pelas forças antifascistas em Portugal, o Partido Comunista Português tinha inscrito no seu programa para o derrube do fascismo, a “Autodeterminação e a Independência dos Povos das Colónias”. O órgão central dos comunistas, há muito denunciava a política colonialista de Salazar e os seus preparativos para uma guerra cada vez mais inevitável do ponto de vista do movimento independentista varrendo África.

O regime fascista-colonialista, de costas para a História e numa corrida contra o tempo, instruía os meios humanos e adquiria os meios bélicos para sufocar a libertação almejada pelos povos da Índia e de África sob o jugo português. No referido discurso ao Congresso da União Nacional, em 1956, o presidente do partido único, classifica caluniosamente este anseio de libertação dos povos oprimidos e explorados, como :  “um movimento racista contra o branco, generoso portador da civilização”.

Para os povos das colónias portuguesas esta “civilização” significava o trabalho forçado, salários de 1$50 e 2$50 escudos por dia,  a segregação racial nos transportes, cinemas e lugares públicos, as fomes e epidemias devastadoras, a ausência de qualquer direito social ou político, isto é, significava a escravatura em pleno século XX !

Conclui o já citado “Avante!”, de Junho de 1956 : “(…) E é preocupados pelo descontentamento que esta situação provoca (…) que os colonialistas portugueses e estrangeiros, organizam aquilo a que chamam “defesa” de África (…). Mas a intensificação da exploração e dos perigos da guerra aumentam ainda mais a revolta dos povos africanos. (…). O colonialismo tem os seus dias contados, nem os discursos de Salazar, nem os planos e as medidas de guerra, nem a intensificação da repressão e da exploração o poderão salvar”.

 Muitos anos de sangue e morte iriam correr até ao seu fim inexorável, muito sofrimento iria ser causado à juventude portuguesa, desde muito cedo dando sinais claros de insatisfação. Como os valentes soldados de Évora, revoltados em Julho de 1955, contra a mobilização para a Índia. A luta nos quartéis e aquartelamentos em Portugal e em África, iria durar todos os anos da guerra.

Bibliografia  :

– “Avante ! ” , nº 203, série VI, Agosto de 1955

– “Avante ! “ , nº 214, série VI, 1ª. quinzena de Junho de 1956

– Arquivo de Salazar, Torre do Tombo, Lisboa

– Programa do PCP, aprovado no V Congresso em 1957. 

 Armando Teixeira

You must be logged in to post a comment Login