Da revolução portuguesa em Abril de 74, com o MFA – Movimento das Forças Armadas, ao FMI – Fundo Monetário Internacional, em terceira dose, passaram 37 anos, tripartidos; – Revolução de Abril – Contra-revolução – e – Destruição dos efeitos de Abril.
A 25 de Abril de 74, o regime autoritário incapaz de se democratizar e sem soluções políticas, para o conflito armado com os movimentos de libertação africanos, seria derrubado pelo Movimento das Forças Armadas. Capitães puseram termo à guerra de treze anos e abriram perspectivas para um país democrático e solidário.
Portugal se transforma, dando lugar a um processo revolucionário de democratização política, de evolução da justa distribuição da riqueza produzida, libertando os povos de África dos colonatos de Marcelo.
Com a Revolução, momento que espantou o mundo pela coragem do movimento militar e do levantamento popular, caminho aberto para a libertação portuguesa do regime totalitário e retrógrado, uma nova vida social nascera. O acontecimento exultara a Nação pelas promessas de mudança e a acção popular que ajustavam a liberdade com a justiça social.
Ainda a Revolução andava no baloiço das contradições já por dentro vendilhões a traíam. Em Novembro de 75, o projecto revolucionário seria abafado, desmantelado e banido por uma aliança contranatura, abrindo caminho à instituição de uma democracia parlamentar mascarada de salvadora que, apoiada em potências externas, encetara a inversão política.
No rescaldo do golpe de Novembro, o “Grupo dos Nove” desfez o que havia feito em 25 de Abril.
As primeiras eleições legislativas conduzidas num clima de ameaças políticas externas com maquiavélicas alianças internas dão a vitória ao Partido de Soares que lhe garantira as divisas de Primeiro-ministro.
Sem perda de tempo pede adesão à CEE a 28 de Março de 1977, depositando a primeira prestação da soberania nacional no grande cofre da Europa. E sem percebermos, a falência das finanças e por consequência da economia nacional arrancara silenciosa.
Desde Mário Soares, Primeiro-Ministro e posteriormente Presidente da República, Cavaco Silva, Ministro, Primeiro-ministro e Presidente da República, que os portugueses com a entrada na CEE e EU carregam o fardo do empobrecimento.
Com o desmantelamento das conquistas de Abril a que a oposição política de esquerda se opôs pertinazmente, a linha ideológica política e social no poder foi destruindo a economia do país. A alteração da lei da Reforma Agrária matou a agricultura nacional, deixando as terras ao abandono, aumentando as importações agrícolas em permuta de capital para os donos das terras derreterem em Mercedes, vivendas de luxo e investimentos em “offshore”.
Seguiu-se a confusão governamental dos partidos do centro de esquerda e de direita e mais os da direita retinta em luta pelo poder, todos numa conjugação amiga de Carluci e Kessinger. Governos PS/CDS, outros de iniciativa presidencial, mais os da AD, todos meteram o Socialismo, que juraram na Constituição defender, na gaveta.
O capitalismo à solta especula e domina as finanças da banca privada que na roleta do “Mercado” viria a esmagar as economias familiares.
Privatizações das empresas públicas não mais pararam. A liberalização da Comunicação Social abria caminho à manipulação social.
Passaram 37 anos, na maioria dos quais os governantes referidos, mais Guterres, Barroso, Santana, os presidentes Eanes e Sampaio e por fim o actual chefe do Governo Sócrates de garupa elevada apostaram na política da Europa rica, abrindo as portas da economia nacional ao livre saque, desviando as esperanças dos portugueses do país solidário e justo, na direcção das catacumbas agiotas do “Mercado.
Governos Constitucionais, e presidentes da República, voluntária ou involuntariamente cumpliciaram no desastre visível na recessiva economia nacional. Abriram caminho ao desemprego, à corrupção generalizada e às desigualdades na vida dos portugueses e por fim o vazio económico, deixando-nos entregues à grande ave de rapina que veio da Europa.
Com a chegada apoteótica da troika europeia a depressão nacional accionou veementemente o protesto contra a troika nacional que nos guiou até ao abraço fatal do FMI que no último ano de exploração dos gregos e irlandeses obteve cerca de 360 milhões de euros de lucro. Assim não se ajuda, pelo contrário, cava mais fundo a crise financeira.
O que resta de Abril? Naturalmente, pouco sobra mas, o que subsiste precisa de ser defendido. Os que se revoltam e pensam como dar à volta para dignificar este país milenar não devem cruzar os braços, os que se não conformam com a subalterna posição aos poderes da Europa, em troca do monte de euros para abater barcos de pesca e deitar às urtigas a agricultura portuguesa devem combater a nova onda de pacotes de austeridade.
Os portugueses têm a mania de gastar mais do que ganham, dizem na Europa rica, só não dizem que sendo os portugueses o povo que menores salários e pensões auferem, como podem gastar mais de que ganham? Se os bancos não os tivessem armadilhado com o processo neoliberal de incentivo e acesso bancário fácil, contraindo dívida para lá das suas capacidades financeiras, não teria havido endividamento familiar. O Estado português está a ser conduzido nos mesmos moldes, pela chamada “Ajuda Externa”, a endividar-se, com a compra a saldo, pelo disfarçado “Mercado”, da riqueza portuguesa.
No início deste século de maiores conhecimentos, da mais desenvolvida tecnologia que por si só poderia ser um factor de igualdade, sem a exclusão social que silenciosamente, como doença contagiosa, contamina as Finanças de todos os continentes. A crise, conscientemente fabricada, devasta a ordem económica mundial.
O FMI, maremoto financeiro, invadiu Portugal para arrasar o que sobra das finanças nacionais. Os estragos ficam para os portugueses repararem ao longo do próximo meio século. Até quando nossos filhos, netos e bisnetos vão ter que apertar o cinto para alimentar a gula dos multimilionários, ocultos no “mercado”?
O resgate da divida portuguesa deve gerar consenso nacional mas, não pode ser com receitas velhas para doença nova, à custa das pensões e salários desvalorizados, nem de aumento do IVA que agrava a economia das famílias. Tem de ser defendida pelo crescimento da economia nacional, criação de emprego e salários justos, pensões que garantam o acerto de contas sem sacrifícios desmedidos, para que a vida social dos portugueses, sem culpa no desastre financeiro, possa sobreviver e defender a soberania portuguesa.
Acordemos de uma vez por todas. Com o voto formulemos o nosso protesto, defendamos as nossas vidas dos que ameaçam destroçá-las ainda mais se ao poder chegarem.
Carlos Alberto (Carló)
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