( A CAMPANHA ELEITORAL É UM LOGRO!)
“ A culpa do endividamento do país e da situação de crise, é dos portugueses que viveram acima das posses ! “
Esta asserção de políticos do sistema, comentadores comprometidos e de alguns dignitários da igreja, está ferida de inverdade, eivada de contradição e prenhe de mística conformista e desmobilizadora.
1. A primeira questão que naturalmente se coloca é perguntar, que portugueses?
– Os 700 mil desempregados ?
– O milhão de reformados a receberem 300/400 euros por mês ?
– Os 800 mil trabalhadores que recebem o salário mínimo nacional?
Feitas as contas, mais de metade dos portugueses vivem abaixo do patamar de subsistência com dignidade, e dois milhões vivem mesmo no limiar da pobreza. São esses os culpados da crise? Quem são então?
2. A culpa é um sentimento carregado de misticismo religioso.
Convencer as pessoas de que vivem em pecado e de que a crise é uma oportunidade para se redimirem, é a melhor forma de as fazer aceitar passivamente os “ castigos” que estão aí : aumento de impostos, cortes nos salários, redução de prestações sociais, degradação da saúde e da educação, etc.
A tremenda hipocrisia de quem apregoa as “chamas redentoras” para abrir o caminho da “felicidade eterna”, é a melhor forma de perpetuar as injustiças de classe, a exploração do homem e os privilégios obscenos da minoria que goza na terra o “paraíso prometido”, sabendo da sua inexistência na transcendência dos céus.
A crise não é sagrada !
3. As medidas impostas no memorando dos credores do FMI/BCE/UE, são um absurdo ruinoso para Portugal ( como estamos a ver na Grécia!).
É um prestigiado economista americano, prémio Nobel, que vem afirmar (para grande irritação dos arrogantes académicos do sistema), que a austeridade imposta aos países em dificuldades, é uma medida ruinosa que conduz à recessão económica e a mais desemprego.
Por isso nos EUA o banco central mantêm os juros baixos, enquanto os congéneres capitalistas neoliberais da Europa mandam subir!? Merkl, Sarcozy, Trichet, Constâncio, Barroso, impõem restrições tremendas nos orçamentos de Portugal ( e da Grécia e Irlanda ), originando a recessão económica e condenando-os à insolvência, sacrificando brutalmente os seus povos!
O capitalismo neoliberal é um crime de lesa humanidade !
4. A gravíssima situação portuguesa impunha uma análise objectiva e patriótica das formas e caminhos para vencermos a crise.
Exigiria o conhecimento real e objectivo das condições que são impostas pelas instituições internacionais. Importaria explicar os termos e as condições reais dessa “ajuda”, que o governo do PS e os partidos da direita, PSD e CDS, subscreveram. As próximas eleições de 5 de Junho deveriam ser um autêntico plebiscito nacional, para o povo português se pronunciar sobre os caminhos escolhidos por uns, ou os apontados em alternativa por outros (a renegociação da dívida, por exemplo).
Escrevemos no condicional porque a campanha eleitoral em curso não está a ser nada disso: tricas e baldrocas, factos políticos acessórios, discursos inflamados e ocos, manobras de diversão, arrufos populistas e truques eleitoralistas, assobiar para o lado como se o “acordo” não tivesse sido já assinado, eis o que têm feito os três partidos que assinaram o memorando e fogem dele como o diabo da cruz.
A campanha eleitoral é um logro !
5. Os discursos mais à esquerda, sempre a pisar o terreno armadilhado montado pelos média dominantes (sobretudo as televisões), procuram fazer os caminhos alternativos, difíceis porque não demagógicos ou ilusionistas. Propõem, por exemplo, compromissos dilatando no tempo e renegociando a dívida, com uma alteração radical das políticas nacionais, como defende nomeadamente a CDU – Coligação Democrática Unitária.
A opção no Domingo dia 5 de Junho, não é entre o PS e o PSD/CDS (e muito menos a abstenção!).
A escolha é entre um caminho anunciado de ruína e maior dependência, mais recessão e desemprego, com governos PS/CDS ou PSD/CDS, ou um percurso difícil sem dúvida, mas de dignidade nacional, de mobilização patriótica, de trabalho produtivo e criador (sobretudo para a juventude), de convergência de esquerda.
É tempo do povo português reencontrar a sua História de Liberdade e
Democracia política, social e económica.
Armando Teixeira
One Response to "PÚBLICO PRIVADO 14 – A CRISE É SAGRADA ?"
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