NOS 50 ANOS DO INÍCIO DA GUERRA COLONIAL
EM VÉSPERAS DA LUTA ARMADA EM ANGOLA
À chegada a Angola, no século XV, os portugueses encontraram a terra na posse organizada da comunidade negra, e a unidade étnica era a principal forma de propriedade. O processo colonial seguido nos séculos seguintes, do tipo de grandes plantações, implicou a expropriação e a apropriação violenta das terras pelos colonos, para constituírem as fazendas, as grandes explorações industriais ou a prospecção mineira. Esbulharam os nativos, por legislação, roubo ou conquista militar, transformando o campesinato indígena, tradicional e secular, em proletariado ou semiproletariado rural ou urbano, de tal forma que, em 1956, de um total de 30 milhões de hectares agricultáveis, só 400 mil estavam na posse de africanos!
Por volta de 1960, havia em Angola : 2,5 milhões de produtores autóctones, mais ou menos integrados; 80 mil assalariados nas grandes companhias agrícolas e nos serviços caseiros ; 150 mil assalariados do comércio, indústria e minas ; e cerca de 2 milhões de deslocados do seu meio social e geográfico, resultado da desagregação da sociedade indígena, do roubo das terras e da violência institucionalizada.
Quanto aos colonos, em 1961, só em Luanda havia 10 mil desempregados, num total de 50 mil brancos a viverem na cidade. É neste contexto que se inicia a luta armada de libertação a 4 de Fevereiro de 1961!
Em Angola, só depois do fim da I Grande Guerra, e após sucessivas campanhas militares, se obteve o controle territorial completo e se criaram as bases para o imperioso desenvolvimento económico.
Verifica-se então uma partilha no investimento de capitais : os grupos económicos portugueses, relativamente fracos, mas finalmente despertos para os promissores manás africanos, concentram-se sobretudo na exploração agrícola e nas plantações ; o capital estrangeiro, mais robusto, prefere a exploração mineira.
Em vésperas do início da luta armada, os diamantes , o petróleo e a gasolina, o magnésio, a bauxite, o alumínio, o cobre e o minério de ferro, eram inteira ou parcialmente explorados por corporações estrangeiras.
A Diamang – Companhia de Diamantes de Angola – com interesses sul-africanos, belgas, ingleses, americanos e portugueses (minoritários), tinha a extracção numa área de um milhão de quilómetros quadrados.
A Carbonang – Companhia de Combustíveis do Lobito – pertencia em 70% à Petrofina belga.
A Petrangol – Companhia de Petróleos de Angola – criada em 1957, era detida em 45% pela Petrofina e a Royal Deutsh.
Com a participação maioritária de empresas portugueses, referem-se : Empresa de Cobre de Angola, com uma área de prospecção de mais de 500 mil hectares, maioritariamente do grupo CUF de Alfredo da Silva ;Companhia Mineira do Lobito, do grupo Champalimaud, associado ao “trust” alemão Krupp.
Com a participação minoritária portuguesa : a Textang, de capitais belgas e holandeses dominando nos têxteis ; a Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, de capitais ingleses, dirigida pela Tanganika Concessions, ligada ao grupo Oppheimer. Era pela linha de Benguela que se exportava o cobre explorado pela Union Miniére du Haut Katanga, com a qual se relacionam os trágicos acontecimentos separatistas, quando da independência do Congo ex-belga, em 1960.
A Tanganika Concessions, era um dos empórios mais poderosos do Leste Africano, dirigido desde 1950 de Salisbúria , na Rodésia, mas com mão imperiosa do governo britânico. Corporizava desde sempre o procedimento da Inglaterra em relação às lutas de libertação no Centro e no Sul de África, nomeadamente no seu apoio político e material ao colonialismo feroz de Salazar e Caetano.
A História do Colonialismo Português, foi sempre tristemente deficiente no capítulo do ensino, da educação e da propalada “dilatação da fé”. Em 1910, havia em Angola apenas 50 escolas do ensino primário e cerca de duzentas elementares. Subiu para 83 primárias e seis escolas técnicas em 1923, tendo sido criado em 1918 o liceu de Luanda, fruto do impulso da I República. Em 1930, a taxa de analfabetismo entre os autóctones era de 90% (contudo nessa época em Portugal, também ultrapassava os 60%!).
Com o Estado Novo vieram as frases grandiloquentes da ideologia corporativa, populista e racista encapotada : “A assimilação das raças ditas inferiores, por cruzamento, pela religião cristã, pela mistura dos elementos mais diversos, guiaram sempre a colonização portuguesa”. Pura demagogia! Nem houve assimilação no sentido francês (com muitas centenas de universitários das colónias a estudarem em França, quando em Lisboa havia umas escassas dezenas), nem houve a elevada escolaridade atingida nas colónias ingleses e belgas.
Em 1960, a escolaridade efectiva era inferior a 3% e o ensino profissional elementar compreendia menos de 500 alunos africanos, num universo de cerca de cinco milhões e meio de habitantes.
No capítulo da fé, nunca abundaram em Angola os religiosos portugueses ao contrário do que se fazia crer. Em 1850, havia apenas cinco sacerdotes em todo o território, e a religião cristã foi quase sempre um instrumento para a prossecução dos objectivos da ideologia colonial, fazendo com que o nativo adquirisse os elementos da cultura branca suficientes para ser obediente e disciplinado, mas evitando que se tornasse activo e empreendedor. A igreja católica foi em larga medida um auxiliar precioso da colonização e o missionário tantas vezes, o braço espiritual do governador, do administrador, do chefe de posto.
Em 1910, existiam apenas 24 missões em toda a província e contavam-se somente 70 mil católicos negros. Só depois da ocupação militar e administrativa dos territórios se intensificaram as missões, sobretudo depois da Concordata em 1940, com a entrada em Angola das congregações estrangeiras.
No censo de 1950, registavam-se milhão e meio de católicos e 540 mil protestantes. A significativa implantação desta última confissão religiosa no seio dos angolanos, deveu-se certamente à atitude dinâmica das suas escolas rudimentares e primárias onde ensinavam os dialectos locais, contribuindo para a formação de uma elite africana que viria a ter um papel fundamental nos movimentos nacionalistas em gestação.
8/9/11
Armando Sousa Teixeira
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