A Cidade e a Identidade

A Cidade e a Identidade

No dia 14 de Junho de 2012, pelas 21h00, a Associação Barreiro-Património, Memória e Futuro no propósito da apresentação da revista “FUNDIÇÃO”, em formato digital, promove uma conferência na BIBLIOTECA MUNICIPAL DO BARREIRO, a proferir pelo Prof. Dr. JORGE CUSTÓDIO, relacionada com a temática ou problemática do PATRIMÓNIO.

Em quaisquer ocasiões são e serão sempre oportunas as intervenções públicas, oficiais ou particulares, atos de cidadania que visem a defesa e preservação do PATRIMÓNIO, marca identitária de uma sociedade com história, sob pena de, ao não o fazer, perder as raízes que a identificam, cimentadas em décadas ou séculos de vivências como, por exemplo, a Estação Ferro – Fluvial e o maior dos moinhos de maré (recentemente incendiado).

A cidade não é apenas uma estrutura física, ela é um produto da evolução histórica um signo de vivências, um conjunto estruturado de bairros e ruas com vida própria, produto de um conjunto de vivências de cidadãos que ao longo do tempo a criaram e a transformaram é por isso um museu vivo, retrato da Memória Colectiva que transmite um sentimento de pertença cultural, onde cada rua e cada bairro tem a sua história.

Georg Simmel em “A Metrópole e o Espírito da Vida” (1903) retrata a cidade grande e o constante fluxo migratório de pessoas vindas do interior para a cidade, para tentar uma vida melhor. Para Henry Lefevre, filosofo marxista e sociólogo francês, um do dos fundadores da teoria urbana no seu texto “O Direito à Cidade” (1901), Lefevre parte da ideia de que o capitalismo produziu novas formas urbanas, uma cidade capitalizada e controlada.

A cidade em si não gera contradições sociais, ou seja, elas existem reflexo dos interesses individuais ou coletivos. Foi no seio das cidades que se processaram as grandes transformações sociais do século XX. O Barreiro durante décadas foi, também, uma cidade supostamente controlada, pela exploração capitalista emergente da revolução industrial e da política repressiva da ditadura.

.A história recente, do Barreiro, é plena de episódios e factos de cabal importância, quer para a história local, quer para a história de Portugal. Sendo a cidade que me acolheu, pela vivência e convivência continuada, posso afirmar que o Barreiro é exemplo de grandes transformações sociais, no associativismo, na cultura e no desenvolvimento.

A cidade foi criando a sua identidade, fundamentada na interculturalidade, de diferentes histórias de vida de gentes vindas de muitos sítios, num quotidiano, ainda que marcado pelas diferenças, mas com um objetivo comum, a vontade de construir uma terra de todos e para todos.

Se a “chegada” do Comboio em 1859 está na génese da transformação de uma pequena Vila (Carta de Foral de 16/01/1512 – D. Manuel I) de pescadores e salineiros, numa cidade ligada à revolução industrial que se processou em finais do século XIX.

Em 1875 instalaram-se as primeiras fábricas, ligadas à indústria de transformação de cortiça, vinda do Alentejo e com a cortiça vieram os homens e mulheres, na busca de uma vida melhor.

Mais tarde, em1908, aCompanhia União Fabril começa a instalar o seu núcleo central de fábricas e, à volta destas, vão-se construindo novos bairros, necessários ao alojamento dos imigrantes vindos de todo o país, que ali procuravam o seu sustento. Assim o Barreiro cresceu por dentro e para fora, com os seus bairros operários inseridos no espaço urbano

De tal modo se desenvolveu o Barreiro que, em 28 de Junho de 1984, foi elevado à categoria de Cidade, exactamente num período em que, demograficamente, apresentava sintomas de estagnação, em grande parte devido ao encerramento da maioria das unidades produtivas. Em consequência disso, adveio o desemprego, a procura de trabalho noutros lugares e assim, em termos quantitativos, aumentaram as migrações pendulares e muitos residentes emigraram para outras paragens. Hoje, a cidade que foi signo de progresso material, pelas suas características de cidade industrial, inserida principal área metropolitana do país, o seu património material e museológico é rico quanto a arqueologia industrial e fundamentalmente uma Memória Colectiva muito rica.

O Barreiro é cidade há um quarto de século, já passou por crises piores do que esta, sabe o é repressão e como resistir, e saberá, também, optar firmemente pelo cumprimento das Leis da República que visam a defesa do PATRIMÓNIO nacional e municipal.

ARFER

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