Vejo, no “Facebook”, mais um apelo para estar, pessoalmente, com os jovens no dia 12 do mês em curso. Pelas razões que a maioria saberá, talvez não possa, fisicamente, acompanhá-los. Se isso não acontecer, os meus sentimentos, inquietações e convicções juntar-se-lhes-ão. Como cidadã e como mãe de dois rapazes da “geração à rasca”.
Como cidadã, ligada à formação que a minha família ferroviária, Horta Fonseca, sempre me deu, em casa e nas Oficinas e Depósito de Máquinas do Barreiro aos quais acompanhava o meu pai, maquinista por tradição e gosto, eu e a minha pequena boneca “Fifi”, as duas uma espécie de mascote daqueles amigos adultos: a de estar com os ainda mais fracos do que nós e de lutar por dias mais felizes para Portugal e os seus.
Passei, até aos vinte e quatro anos, pelos tempos miseráveis do fascismo que, embora não me tivesse tirado o pão, o fez a vizinhos com quem a minha mãe repartia, se possível, comida e roupa, e me/nos roubou a Liberdade, vários dos meus, metidos, mesmo, na prisão, como o meu tio-avô Adelino Fonseca que, depois da tuberculose contraída na Flandres, na nossa infeliz participação na Primeira Guerra Mundial, teve o “privilégio” de ser enviado para o Tarrafal, por alguns anos, onde os bandidos nunca dele nada levaram, como, aliás, da grande maioria dos corajosos homens que as forças repressivas para lá, indefesos, encaminharam).
(Ainda há poucos anos, referi isso a um grande amigo e colega, o Professor Fernando Almeida que, tendo estado em serviço em Cabo Verde, visitou esse local de morte, medo e valentia e se lembrou desse meu familiar).
Que fazer da “Geração à Rasca”? O que fazer contra o que está a acontecer a todos aqueles que cada vez mais aflitos, infelizmente, cada vez maior número, seja qual for o escalão etário, geracional, social, laboral, académico, género sexual a que pertencem e, excepto um ou outro privilegiado, é cada vez maior o número de compatriotas que não têm trabalho, salário, pouco encontrarão para comer
Que escândalo: menos de quatro décadas depois das esperanças e conquistas de Abril, gente aflita, mais e menos idosa, enquanto alguns continuam com a sua anti-economia de terra e edifícios queimados, dos ganhos fáceis nos casino, além de o dinheiro se encontrar escondido, não sabemos onde.
Senhores que conquistaram o poder eleitoral, no País e na Europa – para vós e os vossos, ilhas de benesses –, não têm pudor em relação à miséria de milhões?
Não têm pudor da “manteiga” (para não dizer de outra forma) sempre a ser dada aos senhores Merkl e Sarkozy, como se fossem eles os novos deuses que disfarçam a vossa incompetência (refiro-a assim por delicadeza)?
Em relação aos portugueses que “mandam na quinta” já que nada conseguem apre(en)der, se os escutarmos nas mentiras e discursos de “banha-da-cobra” quanto aos que necessitam de pão e dignidade, de facto “à rasca”, tomem, como exemplo, os nossos grandes Naide Gomes e Obikwelu! Ganhem uns dias e umas noites de estudo, na consulta do percurso de vida deles e talvez melhorem um bocadinho – não foram eleitos para que sejamos mais felizes?!
E, já agora, como vos faria bem verificar que o aparente anacronismo dos vencedores do Festival RTP da Canção de dois mil e onze é, certamente, a maior ironia da tristeza que nos assola.
Manuela Fonseca *
* Sempre ferroviária
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