OS COMBOIOS NO BARREIRO: UM LEGADO,UMA MEMÓRIA, UM FUTURO

OS COMBOIOS NO BARREIRO: UM LEGADO,UMA MEMÓRIA, UM FUTURO

G.A ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL E O PLANO DE  URBANIZAÇÃO DA QUIMIPARQUE

( CONTRIBUIÇÃO PARA A DISCUSSÃO PÚBLICA DO PUQZE )

      NOTA BIOGRÁFICA

       A arqueologia industrial no Barreiro compreende um vastíssimo  património que abrange toda área de servidão ferroviária, iniciada em1854 com a construção da linha do Sul e Sueste, constituída por edifícios, documentação, equipamentos, aprestos navais, comboios e linhas ; o sector corticeiro, composto pelo que resta das fábricas do Braancamps ( Sociedade Corticeira ), cuja construção remonta ao último quartel do século XIX ; o grande sector da química, constituído por um vasto espólio de  edifícios, equipamentos, construções, fábricas, algumas ainda em utilização ( a construção das primeiras fábricas iniciou-se em 1907).

EVOCAÇÃO DA MEMÓRIA  

A DESTRUIÇÃO DO BAIRRO OPERÁRIO EM 1965

       A sensibilidade para as questões do património é uma conquista relativamente recente do homem barreirense. Sobretudo se se trata da memória da revolução industrial, das fábricas, dos trabalhadores e da exploração capitalista. Curiosamente em Portugal há muito se manifestou o interesse histórico pelo período medieval ( já no tempo da «outra senhora» se faziam desfiles! ). No presente, trajados à época das trevas culturais e religiosas, das fogueiras queimando as almas ímpias, da miséria extensa e da misericórdia «sagrada» mas muito insuficiente, centenas de figurantes percorrem feiras e festas, jantares e evocações medievais. Até no Barreiro parece estar na moda!

       Em relação à revolução industrial e ao avanço das relações capitalistas de produção, às fábricas, aos exércitos de proletários, á sua vida e às suas lutas, culturais ,sociais e políticas, nicles batatóides!…

       Em 1965 não se ouviram vozes levantando-se contra a destruição do Bairro Operário da CUF! Mais perto de nós, nos anos oitenta, foram poucos os que se manifestaram contra a demolição do que restava no lado Norte do bairro. Curiosa  a discussão travada numa sessão especial, então promovida pela Assembleia Municipal. De um lado  um conhecido arquitecto barreirense, nascido no Bairro, que admitia o seu desaparecimento liminar, sem pena nem agravo ( as moradas nem tinham casa de banho!…) Uma escandalizada socióloga, apaixonada pelo Barreiro, defendia por outro lado, a sua preservação como testemunho de uma época e de um modo de vida e de trabalho (a memória é uma conquista da inteligência humana ! )

      CRÓNICA DE UMA VIAGEM INACABADA

      A SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO

       Interrompemos a nossa extraordinária viagem pelos caminhos do futuro da nossa memória colectiva e patrimonial.

       Da análise do documento mais recente sobre o PUQZE – Plano de Urbanização da Quimiparque e zonas envolventes –  releva um capítulo (8.5), sobre a «Salvaguarda do Património». Um assinalável progresso em relação ao projecto inicial, donde  retiramos  as referências mais significativas e propomos  sugestões complementares julgadas pertinentes :

      CASA – MUSEU DE ALFREDO DA SILVA  (Património Arquitectónico)

        Faz parte de um Núcleo Museológico significativo que  deverá compreender também : o edifício anexo  que foi quartel do Destacamento da GNR, ocupante militar do Barreiro durante 31 anos ; o troço da Rua da CUF com as baias e a linha de atravessamento ferroviário ; a fábrica de Extracção de Óleos, que em parte deverá ser preservada em modo operacional para visitas vivenciadas.

       CHAMINÈS DA EX- CUF (Património Industrial)

           Ícones da produção industrial, dispersos como as chaminés da Granulação 4 ou do Contacto 6 (se bem percebemos a localização na planta ), têm um carácter meramente simbólico na paisagem tradicional para quem espreita o Barreiro do outro lado do rio. Não são portanto elos principais do Roteiro das Memórias da Arqueologia Industrial.

CHAMINÉS DA AP-AMONÍACO DE PORTUGAL E DA CENTRAL TERMOELÉCTRICA (Património Industrial)

           O elemento mais significativo da ex-UFAL – Unidade Fabril de Adubos do Lavradio, é a característica esfera de armazenagem de Amoníaco, construída nos primórdios da antiga UFA, nos anos 50 do século XX. Não lhe conhecemos chaminé significativa.

          Na encerrada Central da EDP, existem um Pavilhão Desportivo e uma Piscina cobertos, e um Refeitório que devem passar para a gestão da autarquia barreirense, com valor de uso imediato e futuro. Em conjunto,  a sua chaminé de 50 metros (esta sim significativa !), e a referida Esfera de Amoníaco, constituem um Núcleo  Museológico visitável, «in memoriam» da indústria química no Lavradio.

      BAIRRO OPERÁRIO DE STª BÁRBARA E MAUSOLÉU DE ALFREDO DA SILVA (Património Construído e Religioso )

        Na vertente nascente do Bairro está o que resta da bancada do campo de Stª. Bárbara e dos recintos de Hóquei em Patins e de Basquetebol de grandes tradições , a preservar.

         À frente do Mausoléu ficava o “campus” do antigo Cemitério de Stª. Bárbara, que deverá ser assinalado condignamente, como última morada dos barreirenses durante dezenas de anos.

         O edifício histórico do antigo Refeitório 3, onde durante dezenas de anos os trabalhadores fizeram bichas para o almoço ( os «gnr`s» comiam primeiro!…), e onde chegou a funcionar uma capela privativa da família patronal, poderá acolher a Reserva Museológica de equipamentos diversos (vulgo “Museu Industrial “ ).

        Fazendo conjunto com o Bairro de Stª. Bárbara, este será um Núcleo Museológico muito significativo da Rede Museológica de Arqueologia Industrial do Barreiro, organizada e auto sustentável, gerida por um organismo especialmente votado e vocacionado – uma Fundação.

 Barreiro, 15 de Março de 2011

 Armando de Sousa Teixeira       

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