Já havia a guerra em Angola desde 1961, mas uma desgraça nunca vem só! Toca a ir “rapidamente e em força” para aquele pequeno território do Golfo da Guiné ( um terço da superfície de Portugal), quente e húmido com inúmeros rios que o atravessam a caminho do oceano Atlântico, o grande mar que ontem uniu na descoberta e hoje separa na revolta.
Milhares de portugueses aí perderão a vida ou a saúde, devido à cegueira política e a inconfessados interesses de um regime fanático – o governo colonial-fascista de Salazar e os seus muitos capangas.
Entretanto decorriam em Portugal manifestações “espontâneas” ( Terreiro do Paço, em 27/08/63 ), com autocarros grátis vindos de todo o país, e tolerância de ponto nas grandes empresas da margem Sul, como na CUF do Barreiro, em apoio à política “ultramarina” de Salazar.
Mas em África a história corria célere na senda da independência dos povos. Em Maio de 1963, em Adis Abeba, foi criada a Organização de Unidade Africana (OUA), símbolo do pan-africanismo, estrutura importante no apoio aos movimentos independentistas. Em Dezembro de 1964, aquando do primeiro congresso do PAIGC, no interior da Guiné, a OUA reconheceria este como único e legítimo movimento representativo. Entretanto, em Fevereiro de 1964, realizara-se nova Cimeira dos Países Não Alinhados, em Argel, aprovando o seu apoio inequívoco às lutas de libertação africanas.
Em Outubro de 1965, concretizou-se a II Conferência da CONCP, em Dar-es-Salaam, em que participaram os três lideres, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Eduardo Mondlane, um acontecimento relevante numa África em grande efervescência, no caminho inexorável da libertação do colonialismo português.
Na Guiné-Bissau a guerrilha avança de forma imparável, alargando a sua acção a todo o território do pequeno país dos rios e das bolanhas, obrigando o militarismo colonialista a um esforço cada vez mais extenso e inglório, envolvendo dezenas de milhares de jovens portugueses e um número crescente de mortos e estropiados.
Registamos cronologicamente alguns acontecimentos relevantes. Em Fevereiro e Março de 1964, travam-se violentas batalhas na Ilha do Como, um bastião que os guerrilheiros mantêm até à vitória final.
Em Junho de 1965, depois de uma operação conjunta entre o exército e o destacamento de fuzileiros especiais, na zona de Cafine, durante a qual se registaram alguns recontros com os insurrectos, sem consequências, ao confluírem no ponto de encontro, as forças portuguesas foram metralhadas por um avião T6 da FAP (Força Aérea Portuguesa). O “engano” custou 4 mortos (incluindo um sargento) e 46 feridos, muitos com gravidade, num dos piores acidentes com “fogo amigo”, pondo em causa a propalada eficiência do comando militar português.
Agravando o conflito permanente com a vizinha Guiné-Conacri, que desde sempre fora o principal apoio do movimento de libertação guineense, em Abril de 1968, foi apreendido um avião daquele país que aterrou de emergência em Bissau. As autoridades nacionais exigiram a troca por cinco prisioneiros portugueses detidos pelo PAIGC em Conacri., enquanto o presidente Sekou Tourée desencadeia uma ofensiva diplomática internacional isolando mais o colonialismo português.
Em Maio de 1968, é nomeado governador-geral e comandante-chefe da Guiné, o brigadeiro António de Spínola. O militar do monóculo vai espalhar muitas ilusões e fazer muitas promessas, levando a crer que era possível a resolução vitoriosa do conflito com uma boa Acção Psicológica, que captasse uma parte significativa da população mais susceptível de colaboração – a célebre APSIC!
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Naquele pequeno território com mais de uma dezena de etnias e uma história ancestral muito tribalizada, que o colonialismo português soube potenciar nos séculos de ocupação, subsistiam algumas tensões tribais. Relembremos que na chamada “guerra de pacificação”, nos finais do século XIX e no primeiro terço do século XX, o domínio militar tinha sido obtido lançando os guineenses uns contra os outros.
Mas quando Spínola chegou à Guiné, o PAIGC já estava fortemente enraizado entre a população guineense ( em Cabo Verde não chegou a haver luta armada).
Barreiro, 25/10/2011
Armando Sousa Teixeira
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