Seja-nos permitido, no dia de hoje, homenagear um camarada de carácter impoluto, um trabalhador consciente, que sempre se tem sabido impor pelo seu porte correcto e leal.
Meia dúzia de palavras como homenagem, que não vão ferir a sua modéstia, e quanto os ferroviários do Sul e Sueste querem escrever sobre esse camarada, que duma forma digna e altiva se tem sabido conduzir.
Não e a sua biografia, mas um pálido reflexo do seu ser, que ele nos permita e tolere a ousadia, que representa a saudade dum amplexo fraternal.
Ficariam os ferroviários do Sul e Sueste mal com a sua consciência se tal não fizessem. Convictos, pois, estamos que a sua generosidade nos há-de perdoar o atrevimento. O seu cérebro bem formado só pode ver na homenagem dos. ferroviários do Sul e Sueste a saudade que os corre e lá longe, aonde se encontra, na incerteza do futuro, afastado dos amigos, dos camaradas da esposa e dos filhos, ele lembrará, também com saudade, aqueles que foi obrigado a abandonar.
A sua energia, de que sempre tem dado provas, fa-lo-ão saber arrostar com a situação que lhe foi criada.
O dia de hoje que; devia de ser, como todos anos o tem sido, de alegria, de prazer, para todos os ferroviários do Sul e Sueste, não é mais do que de tristes saudades infindas.
Falta a palavra fluente do grande caudilho dos oprimidos, falta o verbo inflamável do idealista consciente, falta o manejar da pena, que produzia a prosa arrebatadora, em «O Sul e Sueste».
Há um vácuo de difícil preenchimento, há uma viga, sem concorrente, há um lugar que fica deserto.
São os camaradas, e são os amigos de diversas ideologias, são as mulheres e as crianças que olham em redor, esperançados no seu aparecimento, porque não julgam real a realidade, porque não crêem no erro cometido. de recordações terão perpassado pelo seu cérebro, naquelas longínquas paragens, ao recordar o dia de hoje!
Oh ! Mas os ferroviários do Sul e Sueste jamais esquecem e perante eles está a sua visão a sua figura.
Ainda que lá longe, vêem a seu lado o homem leal, o incasável lutador da causa dos oprimidos o seu organizador, aquele que tudo tem sacrificado em prol da sua classe, que através de tudo tem sabido defender.
Verificam o seu porte alevantado, a sua nobreza grandiosa, o seu coração prenhe de sensibilidade, a sua forma correcta e o seu espírito inteligente
Lembram o que tem feito em prol da emancipação da Humanidade, pelo bem colectivo a que tem prestado todo o seu esforço, dado toda a sua vida, sem olhar a sacrifícios.
Recordam as suas horas de alegria, como os momentos de dissabores, e esperançados estão que brevemente um forte amplexo de boas-vindas lhe possam dar.
Todos os Ferroviários do Sul Sueste saberão seguir exemplo da alma forte e convicta e como maior homenagem a prestar-lhe se saberão unificar, fortalecendo mais o seu baluarte sindical de cuja fundação hoje passa o XII aniversário. E, assim, este procedimento lhe servirá de lenitivo.
In: “Jornal Sul e Sueste” Órgão da Classe Ferroviária do Sul e Sueste
Barreiro 21 de Novembro de 1926
Notas:
” MIGUEL MARIA D’ ALMEIDA CORREIA : Nasceu em Beja em 30 de Abril de 1889, radicou-se no Barreiro como Ferroviário, Republicano, foi o maior Sindicalista e Agitador Ferroviário que houve em Portugal”, segundo alguns historiadores.”
“O Jornal “Sul e Sueste” ficou sujeito a censura prévia (como todos os jornais sindicais) e Miguel Correia foi novamente preso em Setembro de 1926 e deportado para Cabo Verde (e mais tarde para Lourenço Marques).”
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